Entrevista: Marco Loiacono - Motorhead Collector


Por Ricardo Seelig

Fiz essa entrevista com o Marco para constar na nova edição da Poeira Zine, mas, por falta de espaço, ela acabou ficando de fora. O Marco já havia sido entrevistado para a Collector´s Room, e aqui ele conta novas histórias e atualiza a quantas anda a sua impressionante coleção focada no grupo de Lemmy Kilmister.


Como foi o seu primeiro contato com o rock?

Meu pai trabalhou na CBS nos anos 70 e eu tinha um primo mais velho que sempre pedia LPs para ele. Só que ele tinha um toca-discos não muito bom, e vire e mexe dizia que os discos estavam com defeito, quando na realidade era a agulha que estava ruim. Para minha sorte, meu pai sempre trazia os discos de volta para casa. O primeiro LP que tive contato foi aos 9 anos de idade, e tenho até hoje, que é o da Suzi Quatro com a música "48 Crash". E nisto vieram vários outros. No fundo meu pai foi o grande incentivador do meu gosto pelo rock, o que agradeço imensamente, mesmo ele não percebendo na época (risos). E ainda tenho todos estes LPs, além de os respectivos CDs, é claro.

Aos 10 anos de idade mudei para SP e conheci um amigo, um pouco mais velho, que me apresentou duas bandas que considero fundamentais: Slade e Kiss. Nossa, aquele "Alive" vermelho do Slade foi um tapa no meu estômago - digo tapa, porque o soco viria mais tarde com outra banda (risos). E o Kiss, "Dressed to Kill", maravilhoso, com toda aquela aura e magia que para um menino de 10, 11 anos de idade, tinha que contagiar.

Qual o tamanho da sua coleção?

Bom, sou fanático pelo Motörhead, faço questão de ter tudo e mais um pouco - e falta muita coisa ainda para adquirir – e do grupo já são mais ou menos 330 itens. Mas coleciono outros grupos também, devo de ter por volta de uns 1.000 CDs e uns 30 DVDs, além de uns 150 LPs que guardo com carinho.

Do Motörhead posso dizer que tenho uns 100 CDs, entre oficiais, singles, coletâneas, boxes e bootlegs. LPs e EPs chegam a este número também. Recentemente comecei a colecionar as fitas K7 que não dava importância, mas fã que é fã tem que ter as K7 de sua banda favorita (risos) e já estou com trinta, mas estes são itens mais difíceis de se achar. DVDs e VHS uns vinte, fora muitas gravações conseguidas com alguns estrangeiros e baixadas na internet. 

Em que momento você percebeu que havia se transformado em um colecionador?

Ah, definitivamente quando comecei a freqüentar a Woodstock em busca de itens relacionados ao Motorhead nos anos 80, e ali encontrar aficcionados com recortes, revistas. Lembro de um amigo, que só sei o apelido (Espanhol) que tinha muito material do Motörhead, além de muitos outros amigos que infelizmente perdi o contato. 

Que disco mudou a sua vida?

Vou contar uma historinha: desde moleque sou aficcionado pela Segunda Guerra Mundial, assistia ao seriado "Combat" quando tinha 5/6 anos de idade. Aos dezessete eu era um tarado pelo assunto, como sou até hoje, e ao sair livre do Exército (diga-se de passagem, fui voluntário), como não me quiseram comecei a fazer treinamento de caixa para o extinto Banco Nacional. Eu pegava carona com um cara que curtia rock e punk e ele colocou no toca-fitas do carro algo que iria mudar radicalmente a minha vida. Como comentei acima, foi aquele soco no estômago: "No Sleep 'til Hammersmith". 

O que era aquilo???? A coisa mais furiosa que já tinha ouvido na vida, e quando fiquei sabendo que eram três caras então?? E que o líder já era quarentão? Encontrei o LP para comprar e quando vejo na capa a silhueta de um avião alemão no palco, pirei de vez. Lia livros da Segunda Guerra ao som deste disco, imaginando as cenas. Combinava perfeitamente (risos). Mais incrível ainda foi a coincidência de saber que o Lemmy também curte muito a Grande Guerra e a Segunda Guerra, e que também é um grande colecionador do assunto. 

Qual o item mais raro da sua coleção?

No momento são três vinis que adquiri recentemente e que me custaram os olhos da cara: “Overnight Sensation” autografado pela banda, “Snake Bite Love” e o triplo ao vivo “Everything Louder Than Everyone Else”. Tenho também o primeiro compacto 7 polegadas deles, “Leaving Here / White Line Fever”, lançado pela Stiff Records.

Qual foi o número máximo de itens que você adquiriu de uma única vez?

Complicado responder isto. Comprando diretamente aqui no Brasil não muitos, mas no tempo em que morei em San Jose, Califórnia, comprava todo fim de semana entre cinco e oito discos. Era viciante entrar em lojas como a Rasputin Records, Streetlight Records e suas sessões gigantes de usados. Passava horas lá, e se não podia comprar no ato dava um jeito de esconder para pegar outro dia (risos). Agora, coisa de meses atrás, fui comprando itens do Motorhead e pedi para entregar na casa de um amigo que continua nos EUA e que me enviou, acho que foram uns 20 itens entre CDs, LPs, singles, a figura do Lemmy, bandeira, tênis, etc ... 

Qual é o item mais bonito da sua coleção?

Com certeza os trabalhos gráficos feito pelo J. Petagno são matadores. Cada vez que adquiro um novo ou algo que não tinha acabo mudando de opinião. Mas a capa do “Orgasmatron” simplesmente explica o Motorhead: feroz e veloz. O single de “Deaf Forever” também tem uma capa muito legal, com o Snaggletooth (o simbolo do Motorhead) segurando três ou quatro cabecas humanas.


Qual você considera o item mais estranho e curioso do seu acervo?

Não digo o mais estranho, mas o mais curioso são o LP e a fita k7 do “No Remorse”, ambos com capas de couro.

Que disco passou pela sua mão e você se arrepende até hoje de não ter ficado com ele?

O vinil do “Power From Hell” do Onslaught. Vi em uma loja da California, não levei, mas quando resolvi comprar não achei mais.

Qual foi a sua última aquisição interessante, que você indicaria para os leitores da pZ?

O DVD e o CD “Anathomy of Melancholy” do Paradise Lost, com a banda voltando aos velhos tempos e com sons desde o segundo disco.

Em que ordem você guardar os seus discos?

Costumo guardar Motorhead separado e as outras bandas em ordem alfabética quando possível. A falta de espaço está crônica (risos).

Onde você costuma comprar discos?

LPs do Motorhead compro no Ebay, e os últimos adquiri na Mafer, na galeria Nova Barão. CDs tenho comprado na Blaster, loja dentro da Galeria Ipiranga, no Gonzaga em Santos. E quando posso, subo a serra e compro, claro, na Galeria do Rock.

Qual o selo que mais te impressiona?

Como tenho limitado minhas compras em LP ao Motorhead, dou crédito para a SteamHammer, divisão da SPV Records da Alemanha, a única que tem lançado vinis da banda.

Como a sua esposa lida com essa sua paixão pelos discos? É solidária ou vive dando bronca?

Sou casado há pouco tempo, dois anos e pouco. A Leila, na medida do possível, me compreende. Ela não curtia nada de rock, mas já esta gostando de Paradise Lost, as versões mais recentes, que são mais lights, mas que são maravilhosas também. Pelo menos ela sabe que o dinheiro gasto não é com drogas ou enchendo a cara em botecos (risos).

Vai chegar o dia em que você vai parar de comprar discos?

Com certeza não. Enquanto uma banda estiver na ativa sempre haverá novidades, e que não serão lançadas no Brasil. Aí a caça continua. Sempre haverá um bootleg, até mesmo um CD que você não sabia que havia sido lançado, uma faixa em uma coletânea, é um universo muito vasto.

Pra fechar, dê uma dica de colecionador para colecionador.

Pesquisa, persistência e sorte para achar itens na hora certa, e, claro, um pouco de loucura também, porque fazemos qualquer coisa pelos grupos que gostamos.

Para ver a coleção do Marco nos mínimos detalhes, com 53 fotos diferentes, acesse o link www.flickr.com/photos/28992266@N08/





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