Eumir Deodato: dois discos que irão virar a sua cabeça


Por Marco Antonio Gonçalves
Colecionador
Sinister Salad Musikal

Olha, cada dia mais me convenço que vai acabar a vida no planeta Terra e ainda não terei achado um disco ruim de Eumir Deodato … sério mesmo! E pensar que tem gente que não gosta desse tipo de som. Só vou falar uma coisa: “Deodato é do caralho!”

Pianista, produtor e arranjador de primeira linha, sua versatilidade pode ser comprovada em trabalhos com músicos do porte de Marcos Valle, Wilson Simonal, Tom Jobim, Elis Regina, Astrud Gilberto, João Donato e Walter Wanderley, só para ficar em alguns nomes nacionais. Seu trabalho com o grupo Os Catedráticos - trazendo arranjos originais para clássicos do samba, da bossa e do jazz - também é brilhante e vale a pena ser descoberto. Entre os seus feitos, o fato de ser considerado o responsável por lançar Milton Nascimento no cenário musical, quando, em 1967, selecionou três composições do músico mineiro para serem apresentadas na segunda edição do Festival Internacional da Canção.

Ainda em 67, a convite do violonista Luiz Bonfá, se mandou para os Estados Unidos, onde tornou evidente sua performance na área musical. Contratado pela CTI Records, fincou residência em solo americano e, com o passar dos ponteiros, tornou-se figurinha fácil em gravações de artistas renomados como Aretha Fraklin, Frank Sinatra, Wes Montgomery ou Stanley Turrentine, e também em combos do naipe do Kool and the Gang e do Earth Wind & Fire. Como produtor trabalhou em mais de 500 discos de diversos artistas e bandas e ainda participou de várias trilhas sonoras de Hollywood.


Mas podemos dizer que seu prestígio tomou dimensões lunares no ano de 1972, quando o mega sucesso lhe bateu de frente com o lançamento do álbum "Prelude". Cercado de grandes músicos - John Tropea e Jay Berliner nas guitarras, Ron Carter e Stanley Clarke se revezando nas linhas de baixo, Billy Cobham nas baquetas, Airto Moreira e Ray Barreto na base percussiva, entre outros – e produzido pelo lendário Creed Taylor (fundador da CTI), o LP expande uma textura sonora rica, amparada por arranjos funkeados e muitos instrumentos de cordas e de sopro sobrecarregando o aparato groove.

O destaque está na versão funkeada de “Also Sprach Zarathustra", tema do compositor e maestro alemão Richard Strauss, imortalizado por Stanley Kubrick no filme "2001 – Uma Odisséia no Espaço". Por conta deste petardo, o disco atingiu a monstruosa marca de 5 milhões de cópias vendidas, impulsionando a carrreira de Deodato no exterior e o figurando com destaque no rol dos grandes nomes do jazz fusion da época.

Mas a qualidade do disco não pára por aí. Conta com outra releitura clássica, a faixa “Prelude to Afternoon of a Faun” do músico e compositor francês Claude Debussy, numa levada pra lá de original. Mais quatro faixas completam o disco (“Spirit Of Summer”, “Carly & Carole”, “September 13” e “Baubles, Bangles and Beads”), mostrando o grau de maturidade alcançado pelo instrumentista carioca, conduzindo com competência uma verdadeira orquestra imperial.

O disco acabou sendo premiado pelas revistas “Billboard”, “Cashbox”, “Playboy” e “Record World”, além de ter recebido um Grammy na categoria “Melhor Performance Instrumental Pop/Rock”.


Outra pérola é "Deodato 2", de 1973, sucessor de seu maior trunfo discográfico. Se não fez o mesmo sucesso que o anterior - li não me recordo onde que esse álbum quase levou a CTI Records à bancarrota – com certeza não foi por falta de qualidade musical.

Produzido novamente pelo visionário Creed Taylor, traz Deodato com o prestígio em alta, esmerilhando nos teclados, acompanhado por uma seleção de craques de primeiríssima grandeza. Músicos, inclusive, que já haviam colaborado no premiado "Prelude" como Stanley Clarke (baixo), Billy Cobham (batera), John Tropea (guitarra), Garnett Brown (trombone), Marvin Stamm (trompete) e Hubert Laws (flauta), dentre outros como Rick Marotta (bateria), John Giulino (baixo) e Joe Temperley (sax), num combo com mais de 30 integrantes. Tá bom ou quer mais?

A bolacha abre com uma versão inspirada para o clássico dos Moody Blues, “Nights in White Satin”, num instrumental dominado por uma seção rítmica impecável e orquestrações por todos os lados. Tem lá o seu climão sinfônico e intimista na adaptação de “Pavane For A Dead Princess”, de Ravel, mas os arranjos descambam mesmo para a pancadaria ultra suingada. São os casos de “Skyscrapers” (que traz bela intervenção de John Tropea na guitarra e metaleira nervosa no seu encalço), “Rhapsody in Blue” (outra obra clássica com assinatura de Gershwin) e a predileta e explosiva “Super Strut”, composta por Deodato e que faria até mesmo uma múmia paralítica sair se requebrando de dentro do seu sarcófago.

O formato digital ainda traz três faixas bônus (“Latin Flute”, “Vênus” e “Do It Again”), uma espécie de guloseima extra para deleite dos fãs. Fiquei com água na boca … Grande Deodato!

Comentários

  1. Caramba !!Só poderia ser o Marco mesmo !!Grande matéria com o Deodato...Muita informação, estou sem tempo para ler tudo isso, mas assim que "bati o olho" li imediatamente.Parabéns, Marco !!

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    1. Melhor que o segundo,é o IN CONCERT com Airton e Flora Purim,mais o Deodato.Joia Rara!

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  2. Mais um texto ótimo do nosso amigo Marco, Fábio. Foi através do Marco que conheci esses dois discos do Deodato, e imediatamente adorei. Clássicos perdidos da música brasileira, do jazz fusion e dos grandes sons, como diz o Marcão.

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  3. Realmente são discos excelentes. Mas, "Pra essa cambada de energúmenos, vou falar com jeito: “Deodato é do caralho!""....

    Não acho q seja esse o espírito do blog...

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  4. Marcello, realmente o objetivo do blog não é agredir ninguém, muito pelo contrário.

    Esse texto havia sido publicado no blog do Marco, e deixei passar essa frase. Agora já arrumei.

    Abração, e valeu pela dica.

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  5. Parabéns pela resenha! Deodato merece.
    A maioria das pessoas não gosta de, hã, música instrumental. E, quando gostam, citam os mesmo de sempre: kind of blue, black lady, love supreme... como se o jazz não lançasse mais nada nos dias de hoje!!!! Está aí a ECM Records que não me deixa mentir.
    Um abraço!

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  6. Excelente texto. Como ja foi dito, o cara merece mais, muito mais.

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  7. Que é isso! Devolve o minha frase sobre os energúmenos, Cadão!! Chama a polícia!! (risos). Tô brincando. Pô galera, pega leve!! Falei com jeito, vai... Mas que Deodato é do caralho, ah isso é... Valeu pessoal!!

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