Frank Zappa: genial, inovador e único



Por Marco Antonio Gonçalves
Colecionador

Visionário, polêmico, louco, ousado, provocativo, sarcástico, inventivo, contestador, virtuoso, revolucionário … para defini-lo, na verdade, bastaria um só adjetivo: genial! Falar de Frank Zappa é trazer à mente o nome de um dos artistas mais importantes do século 20 e, porque não, da história da música universal. E isso não é nenhum exagero! Sua morte, em 1993, deixou uma lacuna irreparável na música e no coração dos fãs.

Frank Vincent Zappa nasceu em 21 de dezembro de 1940, na cidade de Baltimore, Estados Unidos, filho de uma família pobre de imigrantes italianos. Ainda garoto começou a se interessar por música, ouvindo junto com os pais discos de r&b, blues e jazz. Mais tarde, passou também a se interessar por música clássica, tendo Igor Stravinsky, Karlheinz Stockhausen e Edgard Varèse como seus compositores prediletos. Vem daí a sua adoração por estruturas musicais complexas e grandiosas.

Sua primeira incursão musical se deu na adolescência, tocando percussão na Mission Bay High School, onde estudava. Em 1956 conhece Don Van Vliet (o Captain Beefheart), de quem fica amigo. Juntos tocam no obscuro grupo Blackouts ao lado de músicos negros, escandalizando a conservadora sociedade local. Digamos que era uma espécie de aprendizado daquilo que ambos aprontariam futuramente. Em 1957 Zappa ganhou a sua primeira guitarra, adotando-a definitivamente como seu principal instrumento de trabalho. A partir daí não parou mais, articulando e desenvolvendo um estilo próprio e inovador.


Durante seu percurso como músico, acumulou habilidades fenomenais através de sólida formação musical. Quando em 1964 resolveu assumir o posto de guitarrista no grupo The Soul Giants (o embrião dos Mothers of Invention), já era de fato um músico completo, tocando com aptidão vários instrumentos. Compositor, cantor, multiinstrumentista, arranjador, maestro, se tornou um monstro da música, uma fábrica reprodutora dos bons sons!

Enquanto esteve no planeta Terra, Zappa construiu uma obra fenomenal e singular, tanto no que diz respeito ao aproveitamento de diversos estilos musicais, como pela imensa quantidade de discos lançados em sua carreira. De personalidade multivanguardista, trafegou com extrema competência e desenvoltura por inúmeras vertentes musicais: música erudita, concreta ou experimental, free jazz, jazz rock, doo-wop, rock and roll, r&b, blues, rockabilly, rock progressivo, hard rock e tudo do que de melhor a música pudesse abrigar.

Com seu humor corrosivo e desconcertante, era do tipo politicamente incorreto e se tornou um dos maiores críticos da sociedade moderna. Sua língua ferina cuspia ironias e sarcasmos em profusão, atingindo a tudo e a todos sem distinção: o “american way of life”, a classe média americana, as seitas religiosas, o comércio do sexo, o excessivo poder dos meios de comunicação, o sistema educacional americano, os reacionários da direita, os liberais da esquerda, os bêbados, drogados, hippies, punks, roqueiros, católicos, judeus, evangélicos, políticos, homossexuais, playboy … ufa! Era um iconoclasta irreparável.

Sua música era complexa e de difícil assimilação, com muitas quebras de andamento e arranjos de outra dimensão. Extremamente exigente e perfeccionista, Zappa sempre buscou em sua obra uma sonoridade rica e irrepreensível, requerendo destreza e técnica apuradas por parte de seus músicos. Por isso mesmo, esteve continuadamente cercado por colaboradores de absoluta e inegável competência.

Captain Beefheart, Jean-Luc Ponty, Shuggie Otis, Lowell George, Roy Estrada, Elliot Ingber, Ray Collins, Don ‘Sugarcane’ Harris, Ian e Ruth Underwood, George Duke, Ansley Dunbar, Ernie Watts, Max Bennett, Jack Bruce, Napoleon Murphy Brock, Tom e Bruce Fowler, Johnny “Guitar” Watson, Terry Bozzio, Adrian Belew, Warren Cucurullo, Ike Willis, Vinnie Colaiuta, Ray White, Steve Vai, Bobby Martin, Scott Thunes, Chad Wackerman, Tommy Mars, Ed Mann e Mike Keneally são só alguns nomes entre tantos não menos excepcionais que tocaram com ele.

Ao morrer de câncer de próstata no dia 4 de dezembro de 1993, antes de completar 53 anos, Zappa já tinha deixado seu legado para os fãs: uma discografia descomunal e impressionante, um universo estranho povoado por personagens esquisitos e bizarros, transcritos e narrados em forma de maravilhosa complexidade musical. Nunca haverá outro músico como ele. Viva Zappa!!


Abaixo a lista de discos oficiais de Mister Zappa. E estes são só os oficiais!!! Não sei se chega a tanto, mas conversando com um colecionador ele me garantiu que se somarmos estes aos álbuns piratas gravados em concertos, transmissões radiofônicas e aparições na TV, o número pode chegar na casa dos 800 títulos!!! Levando-se em conta que tenho pouco mais de 70 vinis do prolífero músico, penso que esta coleção eu não vou completar nunca (risos).

Álbuns Oficiais

- Freak Out!* - duplo (junho / 1966)
- Absolutely Free* (maio / 1967)
- We’re Only in It for the Money* (janeiro / 1968)
- Lumpy Gravy (maio / 1968)
- Cruising with Ruben & the Jets* (dezembro / 1968)
- Uncle Meat - duplo (abril / 1969)
- Hot Rats (outubro / 1969)
- Burnt Weeny Sandwich* (fevereiro / 1970)
- Weasels Ripped My Flesh* (agosto / 1970)
- Chunga’s Revenge (outubro / 1970)
- Fillmore East - June 1971 (agosto / 1971)
- 200 Motels - duplo (outubro / 1971)
- Just Another Band from L.A. (março / 1972)
- Waka/Jawaka (julho / 1972)
- The Grand Wazoo (novembro / 1972)
- Over-Nite Sensation (setembro / 1973)
- Apostrophe (’) (março / 1974)
- Roxy & Elsewhere - duplo (setembro / 1974)
- One Size Fits All (junho / 1975)
- Bongo Fury (outubro / 1975)
- Zoot Allures (outubro / 1976)
- Zappa in New York - duplo (março / 1978)
- Studio Tan (setembro / 1978)
- Sleep Dirt (janeiro / 1979)
- Sheik Yerbouti - duplo (março / 1979)
- Orchestral Favorites (maio / 1979)
- Joe’s Garage act I (setembro / 1979)
- Joe’s Garage acts II & III - duplo (novembro / 1979)
- Tinsel Town Rebellion - duplo (maio / 1981)
- Shut Up ‘n Play Yer Guitar (maio / 1981)
- Shut Up ‘n Play Yer Guitar Some (maio / 1981)
- Return of the Son of Shut Up ‘n Play Yer Guitar (maio /1981)
- You Are What You Is - duplo (setembro / 1981)
- Ship Arriving Too Late to Save a Drowning Witch (maio / 1982)
- The Man from Utopia (maio / 1983)
- Baby Snakes (março / 1983)
- London Symphony Orchestra, Vol. 1 (junho / 1983)
- Boulez Conducts Zappa: The Perfect Stranger (agosto / 1984)
- Them or Us - duplo (outubro / 1984)
- Thing-Fish - triplo (novembro / 1984)
- Francesco Zappa (novembro / 1984)
- The Old Masters Box One - 7 discos (abril / 1985)
- Frank Zappa Meets the Mothers of Prevention (novembro / 1985)
- Does Humor Belong in Music? (janeiro / 1986)
- The Old Masters Box Two - 9 discos (novembro / 1986)
- Jazz from Hell (novembro / 1986)
- London Symphony Orchestra, Vol. 2 (setembro / 1987)
- The Old Masters Box Three - 9 discos (dezembro / 1987)
- Guitar - duplo (abril /1988)
- You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 1 - duplo (maio / 1988)
- You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 2 - duplo (outubro / 1988)
- Broadway the Hard Way (outubro / 1988)
- You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 3 - duplo (novembro / 1989)
- The Best Band You Never Heard in Your Life - duplo (abril / 1991)
- You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 4 - duplo (junho / 1991)
- Make a Jazz Noise Here - 2 discos (junho / 1991)

Box "Beat the Boots" (julho / 1991)
- As an Am (recorded 1981 – 1982)
- The Ark (recorded 1969)
- Freaks & Motherfu*#@%! (recorded 1970)
- Unmitigated Audacity (recorded 1974)
- Anyway the Wind Blows - duplo (recorded 1979)
- Tis the Season to Be Jelly (recorded 1967)
- Saarbrucken 1978 (recorded 1978)
- Piquantique (recorded 1973)

Box "Beat the Boots II" (junho / 1992)
- Disconnected Synapses (recorded 1970)
- Tengo Na Minchia Tanta (recorded 1970)
- Electric Aunt Jemima (recorded 1968)
- At the Circus (recorded 1978)
- Swiss Cheese/Fire! - duplo (recorded 1971)
- Our Man in Nirvana (recorded 1968)
- Conceptual Continuity (recorded 1976)

- You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 5 - duplo (julho / 1992)
- You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 6 - duplo (julho / 1992)
- Playground Psychotics - duplo (outubro / 1992)
- Ahead of Their Time (março / 1993)
- The Yellow Shark (novembro / 1993)
- Civilization, Phaze III - duplo (dezembro /1994)

* como Mothers of Invention

Coletâneas Póstumas

- The Lost Episodes (fevereiro / 1996)
- Läther - triplo (setembro / 1996)
- Frank Zappa Plays the Music of Frank Zappa: A Memorial Tribute (outubro / 1996)
- Have I Offended Someone? (abril / 1997)
- Mystery Disc (setembro / 1998)
- Everything Is Healing Nicely (dezembro / 1999)
- FZ:OZ - duplo (agosto / 2002)
- Halloween (fevereiro / 2003)
- Joe’s Corsage (maio / 2004)
- QuAUDIOPHILIAc (setembro / 2004)
- Joe’s Domage (outubro / 2004)
- Joe’s XMASage (dezembro / 2005)
- Imaginary Diseases (janeiro / 2006)
- Trance-Fusion (outubro / 2006)
- The Making Of Freak Out! Project/Object - duplo (dezembro / 2006)
- The Making Of Freak Out! Project/Object (deluxe) - 4 discos (dezembro / 2006)
- The Frank Zappa AAAFNRAA Birthday Bundle (dezembro / 2006)
- Buffalo - duplo (abril / 2007)
- The Dub Room Special (agosto / 2007)
- Wazoo - duplo (outubro / 2007)

Compilações

- Mothermania: The Best of the Mothers (março / 1969)
- The **** of the Mothers (outubro / 1969)
- The Mothers of Invention (julho / 1970)
- Worst of the Mothers (março / 1969)
- The Guitar World According to Frank Zappa (junho / 1987)
- Cucamonga Years (dezembro / 1991)
- Strictly Commercial, the best of Frank Zappa (agosto / 1995)
- Strictly Genteel, a ‘classical’ introduction to Frank Zappa (maio / 1997)
- Cucamonga (fevereiro / 1998)
- Cheap Thrills (abril / 1998)
- Son of Cheep Thrills (abril / 1999)
- The Secret Jewel Box: Archives Vol. 2. FZ Original Recordings (dezembro / 2001)
- Zappa Picks by Jon Fishman of Phish (outubro / 2002)
- Zappa Picks by Larry LaLonde of Primus (outubro / 2002)


Comentários

  1. Ontem no Alpendre comprei meu primeiro álbum do Zappa:"Zoot Allures" e espero ter feito uma boa compra.Segundo o Alpendre estou começando com uma obra bem legal do velho Zappa, e vocês o que acham ??Comecei bem para um iniciante que praticamente não conhece quase nada do cara ??

    ResponderExcluir
  2. Fábio, eu só conheço dois discos: "Hot Rats" e "Grand Wazoo". Os dois são bons, mas prefiro o HR, enquanto que o GW é mais puxado pro jazz rock.

    Acho que a pessoa indicada para comentar sobre o disco pra vc é o noss zappólogo de plantão, Mr Marcão.

    Abração.

    ResponderExcluir
  3. O Marco é uma das maiores enciclopédias musicais que já conheci. Ainda não bati um papo pessoalmemnte com ele, que é gente finíssima e muito alto astral, mas o fato é que ele conhece muito de muitas bandas diferentes, além de ter uma quantidade indecente de discos.

    E o Zappa é um dos assuntos que ele mais domina, Fábio. Outra sumidade em Zappa é o Fábio Massari, escritor e crítivo musical. Aliás, contar com o Massari aqui no site seria ótimo. Alguém tem o contato dele?

    ResponderExcluir
  4. Ia perguntar justamente isso. Sou "zerado" em Zappa. Por onde começar?

    ResponderExcluir
  5. Cadão, o Bento já entrevistou ele para o poeira... deve ter o contato..

    ResponderExcluir
  6. Aguardem, porque logo logo vou colocar um texto no blog que vai dar umas pistas preciosas para os iniciantes em Zappa.

    ResponderExcluir
  7. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderExcluir
  8. Vai no como comprar Zappa aqueles lá são realmente ótimos,mas tem um que não está na lista que é o meu preferido se é que eu posso ter apenas um preferido rsrsrsss é o ZAPPA IN NEW YORK compre,roube,grave,peça emprestado mas não deixe de ouvir essa obra prima,ainda mais ao vivo onde Zappa realmente de divertia!!!rsrsss

    ResponderExcluir
  9. Otima dica Marco. De que ano é esse ao vivo que vc indicou?

    ResponderExcluir
  10. Fala aí Cadão blz hein!!então esse ao vivo do Zappa é de 1978,mas uma dica prefira a versão dupla em cd por que vem com faixas extras.Inclusive uma versão matadora da música Torture Never Stops, é aí que vc vê que às vezes o cd amarela o vinil.Bem pra ninguém dizer q eu sou contra ou favor do vinil ou do cd eu tenho esse disco nos dois formatos!!!rssss valeu abraço a todos!!!

    ResponderExcluir
  11. Grande Zappa. Pô galera, entre tantos discos do mestre, alguns são de estimação: Freak Out, Burnt Weeny Sandwich, Weasels Ripped My Flesh, Chunga's Revenge, Waka Jawaka, Grand Wazoo, Over-nite Sensation, Apostrophe, Roxy & Elsewhere, One Size Fits All, Bongo Fury, Zoot Allures, In New York, Sleep Dirt, Sheik Yerbouti, Joes Garage acts 1,2 e 3, You Are What You Is, Ship Arriving to Late Save a Drowning Witch, The Best Band You Never Heard in Your Life, Them Or Us, Guitar, a série ao vivo You Can’t Do That On Stage Anymore… sem falar os que estou esquecendo (risos). Agora, o meu preferido (e talvez o melhor disco que já escutei na vida) é o Hot Rats. Já dá pra começar bem a coleção zappiana hehe. E mais uma vez estou envaidecido com os elogios e só tenho a agradecer a todos. Abraços!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.