David Lebón, a estréia de um gigante do rock portenho


Por Marco Antonio Gonçalves
Colecionador
Collector´s Room

Sou um bolha fissurado no rock portenho. A sonoridade dos bons tempos, grandes músicos, toda a poética dos hermanos, versos socando o estômago da ditadura e o velho e bom rock’n’roll no sangue. Sofro desse mal desde a descoberta dos primeiros discos do Pappo’s Blues no início da década de 8o. Acho que não tem cura ...

Há alguns meses achei este David Lebón de 1973, primeiro álbum solo deste versátil músico argentino e que esteve diretamente ligado aos primórdios da cena roqueira em seu país. Multiinstrumentista e cantor, contribuiu com seu talento em algumas das mais consagradas bandas do rock portenho: tocou baixo no Pappo’s Blues e Pescado Rabioso; bateria no Color Humano; teclados no Espiritu; e guitarra no La Pesada, Serú Giran, Sui Generis e Polifemo, só pra citar alguns dos projetos em que esteve envolvido.

Nesta estréia como solista, dá pra dizer, com o perdão do termo, que Lebón quebrou o cabaço em grande estilo, mandando ver num grande disco de rock e blues. Tocando vários instrumentos em quase todas as faixas, o anfitrião Lebón recebe a visita de alguns dos ícones locais como Alejandro Medina (baixo), Charly Garcia (teclados), Black Amaya (bateria), Pedro Aznar (baixo), Isa Portugheis (bateria), e também de Norbert “Pappo” Napolitano, que intitulou os temas compostos por Lebón e Liliana Lagardé e, segundo lenda, ainda tocou piano no rock “Treinta y Dos Macetas". Coisa de camarada argentino.


O disco abre com a acústica “Hombre de Mala Sangre”, uma de suas mais conhecidas canções, com bela melodia e interpretação vocal primorosa. Segue com a instrumental “Envases de Todo”, onde baixo e batera criam os atalhos para uma guitarra nervosa cuspir efeitos e timbres sujos num blues rock da pesada . Mantém a pegada blues na acachapante “Dos Edificios Dorados”, com belo solo de guitarra e um feeling de arrepiar a alma.

A balada “Tema para Luis” se destaca pelo piano e vocal emocionantes e foi escrita para Luis Alberto Spinetta quando Lebón deixou o grupo Pescado Rabioso, partindo em busca de novas perspectivas musicais. A clássica “Casa de Arañas” é uma de suas melhores composições, sendo conduzida por viciantes batidas de violão e vocal tranqüilamente sereno. A
blueseira segue pecaminosa em “Copado por El Diablo”, desta vez com os solos de guitarra a cargo de Walter Malosetti. Divino é o mínimo, infernal é o máximo!

Hermanos, que belo disco! Se não fui neguinho, devo ter sido então argentino na outra encarnação. Dá-lhe River!!!


Comentários

  1. Puxa, o quanto eu ainda tenho que aprender sobre rock argentino! Não sabia que David Lebón já tinha uma carreira-solo ANTES do Seru Giran. Fiquei supercurioso de conhecer esse disco. Aliás, está nos meus planos ir a Buenos Aires. Que Casa Rosada, que nada, que Caminito! Vou para comprar CDs, mesmo!

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  2. Emílio, dá uma conferida na página do David Lebón no RYM que lá tem um monte de informações sobre a carreira do cara.

    Segue o link:
    http://rateyourmusic.com/artist/david_lebon

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  3. Valeu, Cadão, na verdade eu fui correndo pegar meu Dicionário de Rock Argentino. Outra descoberta curiosa foi a existência de um filme de 1972 chamado "Hasta Que Se Ponga El Sol", mostrando um festival de rock. Ali o Sui Generis fez sua estréia e o filme tem a participação também de várias outras bandas. Parece que não existe em vídeo oficial, mas circula no "circuito alternativo" com boa qualidade. Tem trechos no YouTube.

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  4. Emílio,

    Não sei se procurei muito bem, mas lá há mais lojas grandes como El Atheneo.Ouvi dizer lá que a era dourada dos discos ficou na década de 80.Vi poucas lojas, nada como uma Galeria do Rock ou os sebos como aqui em SP.Os lugares são muito esporádicos e difíceis de se encontrar.Mesmo assim, boa sorte...

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  5. Fábio, quando eu finalmente for à Argentina, os discos que eu quero achar são os "normais", mesmo. Espero que ainda estejam em catálogo. Quero completar minha coleção de Charly Garcia e Iracundos (banda uruguaia tipo Jovem Guarda), procurar o que existir dos ex-Seru Giran e talvez investigar a obra de Luis Alberto Spinetta.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Fala galera! Curto pacas o rock portenho e tô sempre encontrando “novidades” nessa praia. Como se não bastasse maravilhas como Pappo’s Blues, Almendra, Pescado Rabioso, Invisible, La Pesada, Color Humano, Sui Generis, Arco Íris, La Cofradía De La Flor Solar, Aquelarre, Serú Girán, El Reloj, Crucis, Espíritu, La Máquina De Hacer Pájaros, entre outras bandas, recentemente "descobri" o Caballo Vapor e Cuero, mais dois grupos portenhos bem recomendados. Coleciono vinil e posso dizer que não é nada fácil encontrar essas belezinhas dando sopa por aí. Quem sabe um dia encontro estas bolachinhas por um preço camarada... Abraços!!

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  8. Marcão, la lenda viva del rock portenho!

    Ótimas suas dicas, como sempre. Um dia ainda vou conhecer pessoalmente essa fantástica coleção de discos.

    Abração, muchacho!

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  9. Pôxa Cadão, ia ser bem legal. Um churrasquinho ao som dos bons sons, hein?? Vamos combinar uma quando vc vier pra Sampa, ok? Abração!

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