On the Road: Crianças, prestem atenção à aula de blues!


Por Ugo Medeiros
Colecionador

Este ano fui ao Rio das Ostras Jazz & Blues Festival na expectativa de ver o lendário John Mayall e os Bluesbreakers. Mas, antes do show do pai do blues inglês, tive um momento de aprendizado. Sim, aprendizado, e em pleno festival, no meio de mais de 15 mil pessoas. Quando o Blues Etílicos subiu ao palco e começou seu concerto tive a impressão de estar em uma aula música, fazendo (e escutando) a lição sobre o blues.



Ao contrário do que muitos possam pensar, esta não foi a primeira vez que assisti ao show da banda. Seria mais um. Mas, um sentimento estranho, aos poucos, tomou conta de mim. Meio a releituras de Muddy Waters e algumas canções próprias, o grupo, que tem 21 anos de estrada, esbanjou técnica e mostrou o verdadeiro feeling do blues. Se em clássicos como "I Want to Be Loved" de Willie Dixon, "Good Morning Little School Girl" de John Lee Williamson e "Walking Blues" de Muddy Waters o quinteto mostrava a intimidade com o estilo centenário, o mesmo pode ser dito em relação à "Seems Like the Whole World Was Crying", um blues rock do gaitista Charlie Musselwhite. Havia, ainda, espaço para interpretações brasileiras: um cover do saudoso Raul Seixas, "Canceriano Sem Lar", e "Dente de Ouro", uma versão de blues com capoeira.

Ver a apresentação dos Etílicos foi participar de um imenso orgasmo musical coletivo, onde todos, sem excessão, entravam em um estado de insanidade devido à performance incendiária de Otávio Rocha, sem dúvida o melhor
slide tupiniquim, e ao virtuosismo de Flávio Guimarães, gaita e vocal, hoje um dos músicos brasileiros mais respeitados fora do Brasil. Há de se reverenciar esses desbravadores do blues nacional, que ainda contam com a guitarra base e o incrível vocal do americano Greg Wilson, natural do Mississipi, e uma cozinha em perfeita sintonia, Pedro Strasser (bateria) e Cláudio Bedran (baixo).


O show encaminhava-se para o final e, paulatinamente, o sentimento de êxtase diminuía. Após uma aula de como o blues deve ser tocado, o público parecia estar esgotado emocionalmente com o privilégio de ter visto a maior banda brasileira do gênero. Porém, todos tinham uma certeza, aquele momento seria para sempre recordado: o dia em que a cidade de Rio das Ostras teve uma aula para 15 mil alunos ensandecidos pelo calor da boa música.

Comentários