Discografia Comentada: Viper


Muitos ouvintes mais novos de heavy metal associam o som pesado brasileiro à nomes como Sepultura, Angra e Krisiun, esquecendo-se de bandas vitais para o desenvolvimento do estilo no Brasil, como Viper, Korzus, Attomica, Sarcófago e outros. Isso acontece, muitas vezes, por pura falta de conhecimento, por não saber que tal grupo existiu e o quanto ele foi importante.

Esse é o caso do Viper. A banda paulista, que revelou Andre Matos, possui, ao lado da alemã Helloween, o mesmo peso na criação e desenvolvimento do speed metal, que mais tarde passou a ser chamado de heavy metal melódico. Seus dois primeiros discos são fundamentais para a definição do gênero, lançando as bases para o que ele se tornaria nos anos noventa.

Mas a história do Viper tem muito mais. Nosso colaborador Marcello Vieira mergulhou na discografia da banda e desenvolveu um verdadeiro dossiê sobre todos os discos lançados pelo grupo em mais de vinte anos de carreira. Então, boa viagem!

Por Marcello Vieira
Colecionador

Soldiers of Sunrise (1987) ****

Trabalho de estréia, "Soldiers of Sunrise" chegou para mostrar que o Viper seria muito mais do que apenas uma banda de músicos precoces. Foi fácil perceber que Pit Passarel (baixo), Felipe Machado (guitarra), Yves Passarel (guitarra), Andre Matos (vocal) e Cássio Audi (bateria) tiveram como suas principais influências neste início nomes como Iron Maiden, Manowar, Metallica e Black sabbath, entre outras. Curiosamente, essa mistura resultou numa sonoridade próxima a que o Helloween fazia na época, porém vale ressaltar que as composições do álbum já estavam sendo escritas desde 1985, o que faz cair à teoria de que uma banda teria copiado a outra.

Apesar de contar com uma fraca produção, "Soldiers of Sunrise" trouxe à luz do dia grandes músicas, como as fortes "Knights of Destruction" e "H.R.", as melódicas "Nightmares" e "Wings of the Evil" e a até hoje clássica faixa-título.


Theatre of Fate (1989) ****1/2

O que dizer de "Theatre of Fate"?  Resumir o que este disco representa apenas usando adjetivos positivos seria pouco considerando o altíssimo nível que a banda alcançou neste trabalho. Contando com o Sérgio Facci (Vodu e Volkana) como baterista convidado, o Viper lançou este que é para muitos o seu melhor traba
lho.

O destaque absoluto fica para as canções, onde Pit Passarel (autor de quase todas) se firmou como um dos principais compositores brasileiros. As faixas de trabalho "Living for the Night" e" A Cry From the Edge" tiveram um reconhecimento imediato dentro do cena metálica nacional, porém "At Least A Change", "To Living Again", a faixa-título e a soberba "Prelude to Oblivion" são músicas tão boas quanto. Completam o álbum a introdução "Illusion" e a emocionante "Moonlight", que recentemente ganhou uma nova versão chamada "New Moonlight" gravada no álbum solo do Andre Matos.

De certa forma "Theatre of Fate" foi um prenúncio do caminho que Andre Matos iria seguir na sua futura banda, o Angra, mas isso já é uma outra história ...


Evolution (1992) ***1/2

Mudanças internas provocaram duas trocas de baterista (Guilherme Martin entrou para a turnê do "Theatre of Fate" e logo deu lugar à Renato Graccia) e a saída do vocalista Andre Matos, substituido pelo baixista Pit Passarel, que passou a acumular as duas funções. Assim, o Viper chegou com um novo disco apresentando uma mudança na sonoridade, que ganhou mais peso e mais punch.

"Evolution", todo gravado na Alemanha com produção do conceituado Charlie Bauerfeind (Angra, Blind Guardian, Helloween, Saxon, Primal Fear, Rage, Hammerfall), apesar de ter desagradado a alguns fez com que a banda ganhasse bastante popularidade, tanto no Brasil, onde teve os clipes da faixa-título e de "Rebel Maniac" bastante executados pela MTV, quanto no exterior, o que proporcionou turnês pela Europa e pelo Japão, onde alcançaram ótimas vendas.

Além das faixas citadas, merecem atenção especial a meia balada "Dead Light" e a marcante "Coming From the Inside", que contou com uma pequena participação do pessoal do Heavens Gate fazendo backing vocals.


Vipera Sapiens (EP, 1993) ***1/2

EP lançado apenas no exterior, contém sobras de estúdio do disco "Evolution" e uma versão acústica de "The Spreading Soul". O fato de até hoje este disco não ter sido lançado no Brasil e de estar fora da catálogo há bastante tempo torna este EP um item de muita cobiça entre os fãs.


Maniacs in Japan (1993) ***1/2

Aproveitando todo o sucesso alcançado pelo lançamento de "Evolution", o Viper realizou uma turnê que culminou em históricas apresentações na Terra do Sol Nascente, onde foram realizadas as gravações de "Maniacs in Japan". Apesar de não serem tecnicamente perfeitos ao vivo, o carisma do grupo em cima do palco compensa qualquer deficiência. O destaque fica para o inusitado cover de "Não Quero Dinheiro", de Tim Maia, e "I Wanna be Sedated", dos Ramones, sendo que esta seria uma dica do caminho sonoro que a banda viria a seguir no próximo álbum.


Coma Rage (1995) ***

Após o sucesso de "Evolution" o Viper entra em estúdio para gravar seu sucessor, "Coma Rage". Apostando em uma sonoridade ainda mais crua do que o seu antecessor, este disco trouxe a banda para um estilo muito próximo do punk rock, o que não agradou muito seu público.

A pesada "Coma Rage" foi o cartão de visitas do álbum, sendo muito executada pela MTV brasileira. A rápida e certeira "Somebody Told Me You’re Dead", que contou com a participação de Ernie-C (Body Count), também pode ser considerada outro ponto alto do disco, assim como "Brast". Apesar de ser um bom trabalho, o grupo se perde um pouco no decorrer dele, onde nota-se uma sucessão de faixas burocráticas.


Tem Pra Todo Mundo (1996) **1/2

A vocação do Viper de estar sempre trazendo mudanças em seu estilo chegou a seu ápice em "Tem Pra Todo Mundo", disco composto quase que em sua totalidade por letras em português e trazendo uma roupagem pop rock. Independente do álbum ser bom ou ruim, a verdade é que foi uma mudança totalmente arriscada para uma banda que já tinha toda uma história e um público formado. Enfim, em minha modesta opinião teria sido mais coerente terem usado outro nome no lugar de Viper para o lançado deste disco, já que ele não tem nada de semelhante ao que já tinha sido lançado anteriormente.

Quanto ao álbum em si, dentro do novo estilo adotado a banda se sai acima da média na maioria das vezes, sendo que em uma época onde nomes como Charlie Brown Jr, Jota Quest e Skank reinavam absolutos, músicas como "8 de Abril", "Sábado" e "Dinheiro" poderiam ter sido uma boa opção para as FMs. O ponto negativo fica para "Na Cara do Gol", faixa onde a banda incorpora em seu pop rock o típico “sambinha pra gringo ver”, tendo inclusive participação do Ivo Meirelles e Funk ‘n Lata.

Simultaneamente ao lançamento ouve a falência da Castle Brasil, gravadora da banda na época, o que atrapalhou bastante a promoção do disco e a própria carreira do grupo, acarretando uma paralização na trajetória do Viper.


Everybody Everybody - The Best of Viper (1999) ***1/2

Coletânea lançada em comemoração aos 15 anos do conjunto. Indicada apenas para aqueles que não conheçam o Viper como um todo, já que não apresenta nenhuma faixa inédita.


All My Life (2007) ****

Após um longo tempo inativo o Viper volta para alguns shows, que acabaram proporcionando à banda o incentivo que faltava para a criação de um novo trabalho. Tendo a formação alterada com a entrada do guitarrista Val Santos no lugar do Yves Passarel e o ótimo vocalista Ricardo Bocci, o Viper ressurgiu com uma proposta que trouxe o grupo de volta às origens, uma sonoridade entre "Theatre of Fate" e "Evolution". 

"All My Life" por enquanto serviu mais para matar saudades daqueles que já eram fãs de longa data, já que ainda não proporcionou à banda o status que tinha alcançado anteriormente, mas tendo como base ótimas músicas como "Come On Come On", "Miles Away" e "Love is All" (esta com participação do Andre Matos), fica fácil perceber que estão no caminho certo para alcançar novamente um lugar de destaque no cenário metálico nacional.


Comentários

  1. Os 2 primeiros discos são muito bons mesmo, power metal de primeira qualidade... pena que a banda mudou bastante depois...o all my life ainda não escutei...

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  2. Ramon, o "All My Life" vale a pena, pode ir atrás sem medo.

    Abração.

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