A discografia dos Stones em Super Audio CD


Por Bento Araújo
Jornalista e Editor da Poeira Zine

É PURA E TÃO SOMENTE ROCK´N ROLL, 
MAS A GENTE ADORA!!!!

São ao todo 22 discos relançados em formato digipack, todos remasterizados em SACD (Super Audio Compact Disc), uma nova tecnologia que oferece uma alta definição e resolução sonora, para essa que foi, sem dúvida alguma, a mais inventiva fase, da mais sacana (em todos os bons sentidos da palavra) banda do planeta. Os relançamentos compreendem todos os álbuns lançados pela selo Decca/London/ABCKO, ou seja, do primeiro, “England’s Newest Hitmaker’s” de 1964, até o ao vivo “Get Yer Ya-Ya’s Out” de 1970. Cada disquinho vem com um certificado de autenticidade (que mimo!), e todos eles juntos formam a capa do “Their Satanic Majesties Request”. 

Essa nova tecnologia pode ser apreciada tanto em aparelhos comuns como em próprios aparelhos SACD. O único senão é que você não poderá ouvi-lo no seu computador. É importante ficar de olho bem aberto, pois as discografias inglesas e americanas do grupo diferem bastante em alguns casos, e alguns títulos foram relançados em ambas versões. 

Não é exagero dizer que todos são essenciais em qualquer coleção que se preze, afinal trata-se de um registro de uma época única dentro do rock; uma época onde uma simples banda que tocava standarts do rhythm’n’blues, passou a agregar elementos psicodélicos no seu som, e no fim dos anos 60 voltou-se as mais puras raízes do rock n’ roll. Quarenta anos depois, tudo ainda é revolucionário, e até hoje cada vez mais garotos ainda amam os Rolling Stones. 

Ladies and Gentlemen: The Rolling Stones

England´s Newest Hit Makers (1964)
(US Version) *** 1/2

Antes de qualquer comentário, é importante ressaltar que essa versão em questão é baseada na versão original americana do álbum, que difere da inglesa em alguns aspectos.

Versão americana: lançada em 29 de maio de 1964 pelo selo London, com o título de “England’s Newest Hit Makers”. Trazia a faixa “Not Fade Away” e não continha a faixa “Mona (I Need You Baby)”. Já a música “Tell Me” vinha com 2:59 minutos de duração, com um fade out (aquele tradicional efeito que vai diminuindo o volume da música em seu fim) e sem o breque da guitarra.

Versão inglesa: lançada em 17 de abril de 1964 pelo selo Decca, somente com uma foto da banda na capa, sem nada escrito. Trazia a faixa “Mona (I Need You Baby)” e não continha “Not Fade Away”. Já a faixa “Tell Me” aparecia mais longa, com 4:08 minutos, sem o fade mas com o breque da guitarra presente. 

Esclarecidas as diferenças, vamos ao disco. A estréia dos meninos não podia ser melhor. Composto basicamente de standarts do rhythm ‘n’ blues americano, como dois clássicos da Motown - “Walking the Dog” (que curiosamente outra banda, com um vocalista também “bocudo”, gravou no seu disco de estréia) e “Can’t I Get A Witness”. Apenas uma canção de composição de Jagger/Richards aparece, a balada “Tell Me”. 

E o legal mesmo, é a crueza de coisas, como “I Just Want Make Love To You” de Willie Dixon. Reza a lenda que durante algumas das sessões de gravação, Phil Spector, Gene Pitney e Graham Nash se juntaram aos Stones e criaram coisas como “Andrew´s Blues” e “Spector & Pitney Came Too”, que para o desespero geral nunca foram lançadas.

Dica: não esquente porque somente a versão
yankee do disco está disponível, a música “Mona (I Need You Baby)” aparece no disco “NOW ! ” de 1965.

12 x 5 (1964) ***

É o segundo disco norte-americano da banda, contém material gravado nos estúdios Chess, de Chicago, durante os poucos dias de descanso que o grupo tinha enquanto fazia sua primeira excursão pelo país. Nunca foi lançado na Inglaterra, somente algumas de suas faixas apareceram no mercado britânico sob forma de “Rolling Stones no. 2” e “Five By Five EP”.

Já abre com um arrasa quarteirão, a cover de “Around and Around” de Chuck Berry (que se tornou um dos pontos altos da tour inglesa), e continha também os hits “Time Is On My Side” e “It’s All Over Now”. Tem blues lamacento à vontade, ”Confessin’ The Blues” e “Good Times Bad Times”, e uma instrumental bacana, “2120 s. Michigan”.

Curiosidade: O lendário bluesman americano Muddy Waters ajudou o grupo a carregar todo seu equipamento para dentro do Chess Studios!

The Rolling Stones Now! (1965) ***

Disco lançado somente nos EUA com intuito de ser a versão americana do inglês “The Rolling Stones No. 2”. Continha gravações de 64 e 65, escolhidas a dedo pelo produtor do grupo, Andrew Oldham.

Mostra, mais do que qualquer outro disco da banda, as tão amadas influências do blues americano. Basta uma rápida ouvida em “Little Red Rooster”, “Down the Road Apiece” e “Heart of Stone” para perceber que os garotos não estavam de brincadeira. 

Versões para clássicos da soul music também aparecem, “Pain In My Heart” de Otis Redding e “Everybody Needs Somebody To Love” de Solomon Burke, essa com uma impressionante atuação de Jagger. Com certeza é um álbum que deixou Brian Jones orgulhoso!

Out of Our Heads (1965) *** 1/2

Se somente um motivo fosse necessário para justificar a aquisição desse álbum, ele seria o hino “(I Can’t Get No) Satisfaction”, aqui em sua deliciosa versão original. O disco já estreou direto no topo da parada americana, onde permaneceu por três semanas; foi também o primeiro a ser gravado totalmente em estéreo. 

As composições da dupla Jagger/Richards aumentavam cada vez mais. Dessa vez quatro faixas apareciam em meio as já tradicionais versões de clássicos do R&B.

Confusão: As versões inglesa e americana do disco estão disponíveis nessa nova leva; a versão inglesa de “Out of Our Heads” tem a mesma capa que o exclusivamente americano “December’s Children”, ou seja, aquela com Brian na frente. Já o americano traz aquela foto com Keith no centro. Quanto ao repertório, ele também difere bastante entre as versões; o jeito melhor de resolver é adquirindo ambas.

December´s Children (And Everybody´s) 
(1965) *** 1/2

Lançamento dedicado ao mercado americano. Reunia dois singles de sucesso (“Get Off My Cloud” e “As Tears Go By”) e outras faixas inéditas até então na América. O disco foi o último a ser elaborado sobre total controle dos executivos da gravadora; o que veio a seguir já era totalmente idealizado, única e exclusivamente, pela banda.

As faixas “Talkin’ Bout You” e “Look What You’ve Done” eram sobras daquelas famosas sessões gravadas no Chess Estúdios de Chicago; já “Route 66” e “I’m Moving On” eram gravadas ao vivo.

Aftermath (1966) **** 1/2

É o pontapé do grupo em sua mais experimental e criativa fase; foi aqui que Brian passou a utilizar instrumentos exóticos (dulcimer e cítara) como peça fundamental no som da banda. Foi também o primeiro disco dos Stones a conter somente canções de Jagger/Richards, como “Under My Thumb”, “Out of Time” e “Lady Jane”.

A versão americana, além de ter uma capa mais legal, traz a maravilhosa “Paint It Black” no lugar de “Mothers Little Helper” da versão inglesa.

Mancada: ainda continuam inéditas três músicas gravadas durante as sessões de “Aftermath”. São elas: “Looking Tired”, “Aftermath” e “Track Of My Tears”.

Got Live If You Want It! (1966) ** 1/2

Primeiro e mais fraco registro ao vivo dos Stones. O duro é ter que ouvir aquelas histéricas garotinhas berrando pelos seus ídolos mais de quarenta anos depois! Parece que a banda fez questão de mostrar mais o barulho gerado por tais garotas do que as músicas em si. O pior é que sempre rolou um boato que algumas músicas do disco foram gravadas em estúdio, com o barulho da platéia adicionado posteriormente!

O disco foi lançado somente na América, e ao contrário do que diz a ficha técnica os shows aqui registrados não são do Royal Albert Hall de Londres, e sim foram tirados de duas noites no City Hall em Newcastle e mais duas no Colston Hall em Bristol.

Between the Buttons (1967) *** 1/2

A versão americana arrasa, pois traz o hino “Let’s Spend The Night Together” e a delicadeza que é “Ruby Tuesday”, no lugar de “Backstreet Girl” e “Please Go Home” da versão inglesa. Para remediar tamanha confusão, é bom esclarecer que as quatro músicas acima aparecem na coletânea “Flowers”.

A foto da capa é genial, inspirada em “Rubber Soul” dos Beatles, mostra que os Stones andavam bem no clima psicodélico da época. Desenhos do baterista Charlie Watts ilustram a contra capa.

Flowers (1967) ***

Mais uma compilação destinada ao mercado americano, que serviu para nada além do que levantar uma grana enquanto Jagger e Richards estavam detidos por porte de drogas. O que mais vale o investimento é a versão de “My Girl”, dos Temptations.

Their Satanic Majesties Request (1967) *** 1/2

Apesar de muito malhado pela crítica e pelos fãs na época, hoje pode ser condiderado uma das mais belas viagens de LSD já feitas por uma banda. Suavemente esquisito na primeira audição, traz maravilhas do quilate de “She’s A Rainbow”, que contava com John Paul Jones (futuro Led Zeppelin) no piano e arranjos; “2.000 Man”, que foi regravada pelo Kiss alguns belos anos depois; “2.000 Light Years From Home”, escrita por Jagger numa prisão em Brixton; e “Sing this Altogether”, com backing vocals de Lennon e McCartney. O título era uma paródia à inscrição contida nos passaportes britânicos: “Her Britannic Majesty Requests”. 

Pena que essa reedição em SACD não reproduz o genial efeito holográfico contido na capa do LP original, onde até os quatro Beatles aparecem.

Beggar´s Banquet (1968) ****

Uma primeira volta às raízes rock n’ roll, que mescla sabiamente algumas faixas acústicas, como “No Expectations”, “Dear Doctor” e “Prodigal Son”, com as vicerais “Sympathy For The Devil” (nada mal para uma abertura de um disco de rock) e “Street Fighting Man”.

A famosa capa censurada do banheiro grafitado foi motivo de muita confusão entre a banda e a gravadora Decca, e na verdade funcionou como a gota d’água para que os Stones procurassem uma gravadora nova assim que o contrato expirasse. Só para se ter uma idéia do pique da banda durante as gravações, basta lembrar que dessas sessões também saíram coisas como “Jumpin’ Jack Flash”, “Love In Vain” e “Sister Morphine”; usadas ou em forma de singles, ou em álbuns posteriores.

Curiosidade: a capa (fotografada pelo marido da “Mary” do Peter, Paul and Mary) trazia insultos grafitados num banheiro imundo, escritos por Jagger e Richards; a dupla atacava Bob Dylan, Herb Alpert e o próprio manager deles, Allen Klein.

Let It Bleed (1969) *****

Quem ouvir aquela introdução de “Gimme Shelter” e não sentir um arrepio subindo pela espinha não merece nunca mais ouvir um disco de rock na vida!  Que abertura de disco, meu!  A faixa foi escrita por Keith Richards enquanto ele esperava em seu carro por sua namorada Anita Pallenberg, que estava transando com Mick Jagger.

Um fator importante é que o disco trazia as últimas gravações de Brian Jones (nessa altura ele já não fazia mais parte do grupo), que morreu justamente enquanto o disco era finalizado em Londres; e trazia também as primeiras gravações de seu substituto, Mick Taylor.

Alguns meses antes, a banda estourava com o single de “Honky Tonk Woman” (gravada na primeira sessão de Taylor com o grupo), e no disco eles satirizavam eles próprios com “Country Honk”. Fora isso o disco ainda tinha “You Can’t Always Get What You Want”, “Midnight Rambler” e “Love In Vain”.

Uma das sessões para o álbum tinha Ry Cooder como guitarrista convidado (parte disso está registrado no disco “Jamming With Edwards”), e até hoje muitos acusam a banda de ter roubado várias partes de guitarra tocadas por Cooder sem sequer ter dado devido crédito ao moço. Coisas do rock and roll.

Get Yer Ya-Ya´s Out (1970) ****

O melhor dos muitos discos ao vivo lançados pela banda, simplesmente por mostrar o grupo no auge e com muito tesão pelo palco. Basta conferir versões potencializadas de “Midnight Rambler”, “Jumpin’ Jack Flash” e “Carol”.

Os shows aqui registrados foram realizados no Madison Square Garden, em Nova Iorque, durante a
tour de 1969, porém até hoje existem dúvidas quanto à inclusão de algumas faixas tiradas de shows também no Boston Garden e no Baltimore Civic Center.

Singles Collection - The London Years ****

Que tal uma compilação de todos os lados A e B dos singles da banda de 1963 até 1971? Pois é isso que oferece essa atraente coletânea tripla.

De bom, o que temos aqui é a fiel ordem da seleção das faixas, acompanhando exatamente a ordem dos singles lançados. E muitos dos lados B´s e mesmo dos lados A’s não aparecem nos álbuns originais (principalmente nas versões britânicas).

De ruim, o fato das maiorias das faixas estar em mono, fazendo com que coisas como “Sympathy For The Devil” percam muito em relação à versão em estéreo contida no disco original (nesse caso, no “Beggar’s Banquet”).

More Hot Rocks (1972) ****

Relançamento daquela compilação dupla de 1972, com três faixas bônus incluídas: “Everybody Need’s Somebody To Love”, “Poison Ivy”(version 2) e “I’ve Been Loving You To Long”. Funciona como complemento da “Singles Collection”, com inúmeras faixas raras e difíceis de arranjar, mesmo em singles do grupo.

Through the Past Darkly - Big Hits Vol. 2 (1969) ****

Compilação norte-americana que nada mais é do que uma continuação do item anterior, cobrindo o período de 1966 até 1969. Foi dedicada a Brian Jones e trazia uma inovação para o formato vinil; a capa era cestavada, com seis lados! Infelizmente nessa reedição a arte gráfica não foi fiel à original.

Musicalmente era um primor, pois tinha
hits do calibre de “Jumpin’ Jack Flash” e “Paint It Black”, e obscuridades como “Dandelion” e “Sittin On A Fence”.

Metamorphosis (1975) *****

Talvez o mais esperado de todos esses relançamentos, simplesmente pelo fato de que é a primeira vez que o álbum é lançado no formato digital!

Se trata de uma compilação de irresistíveis
out-takes e faixas não aproveitas dos anos 60. Outra boa notícia é que o título em questão foi baseado na versão inglesa de 1975, que tinha duas músicas a mais do que a norte-americana.

A qualidade sonora é surpreendente, a o disco pega fogo do meio em diante, pois lá estão escondidas sobras das sessões do “Beggar’s Banquet” e do “Let It Bleed”; coisas como o gostoso
boogie sulista de “Jiving Sister Fanny”; o nervoso hard rock que é “I’m Going Down” e o cover de “I Don’t Know Why” de Stevie Wonder, que curiosamente foi gravada na noite da morte de Brian Jones.

Comentários

  1. Essa fase da banda merecia um tratamento melhor talvez até por parte da própria banda...
    A matéria é útil por servir de guia pras obras, mas discordei de quase tudo o que foi dito a respeito dos discos... Fazer o que?

    ResponderExcluir
  2. Cadão, essa é a matéria do blog que fala sobre os 4 beatles. Eu até hoje só encontrei 3 deles ...

    ResponderExcluir
  3. Mairon, eu também só encontrei três, e olha que faz mais de 25 anos que eu tenho o vinil e procuro.

    Tentar achar a saída do labirinto que tem na parte interna da capa também é bem divertido.

    ResponderExcluir
  4. Hehehe, esa saída também me deu trabalho, mas consegui depois de muito esforço!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.