Discos Fundamentais: Deep Purple - Stormbringer (1974)




Deus possui várias faces. Mas não apenas isso: ele se comunica conosco também com vozes diferentes. No começo dos anos setenta, a voz divina tinha duas formas. A primeira, loura, atendia pelo nome de Robert Plant. E a segunda, mais cabeluda ainda, chamava-se Ian Gillan. Era o início da década e o hard rock conquistava de vez os corações e mentes da juventude com a tríade Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple mostrando os caminhos do proto-metal.




Nessa época, o Purple atravessava uma fase conturbada. Após lançar álbuns clássicos como
Machine Head e Made in Japan e perder Gillan e o baixista Roger Glover, a banda teve que começar de novo. Com Ritchie Blackmore à frente, acompanhado de Jon Lord e Ian Paice, o grupo descobriu em um desconhecido chamado David Coverdale a sua nova voz. E, para fazer o coração do Purple voltar a pulsar, chamaram o baixista e também vocalista Glenn Hughes. Com essa formação ressurgiram das cinzas com Burn, discaço que conta com clássicos como a faixa-título, "Might Just Take Your Life", "You Fool No One" e "Mistreated". Mas o assunto aqui é o álbum seguinte, Stormbringer.

Com a nova formação mais entrosada, os músicos começaram a se sentir mais confiantes e a se soltar mais. E essa é, simultaneamente, a principal qualidade e o principal "defeito" de
Stormbringer. Blackmore, livre de vez da presença de Gillan e Glover, começou a moldar o som que iria fazê-lo brilhar, um pouco mais tarde, com o Rainbow. Mestre no hard rock repleto de melodia, sua mão é muito forte em músicas como "Stormbringer", "Lady Double Dealer" e "High Ball Shooter".

Mas os principais destaques do álbum são David Coverdale e Glenn Hughes. Anos antes de brilhar à frente do Whitesnake, Coverdale vai descobrindo sua voz aos poucos e, mesmo que não consiga superar a sombra de Gillan, trilha outro caminho não menos brilhante. E Hughes, que antes do Purple fazia parte do power trio Trapeze, escancara de vez todas as suas influências funk, que, misturadas ao hard rock clássico de Blackmore, Lord e Paice, fazem de
Stormbringer um disco único.

A influência das raízes de Hughes estão claríssimas em faixas como "Hold On", "Holy Man", "You Can´t Do It Right" e "The Gypsy", repletas de peso e balanço. Ao mesmo tempo em que mostrou ao Purple que um novo caminho era possível, essa mistura custou ao grupo o seu guitarrista, já que Blackmore abandonou a banda por não aprovar o novo direcionamento musical.

O disco fecha com chave de ouro com "Soldier of Fortune", uma das mais famosas canções de Coverdale. Basicamente acústica e com uma interpretação emocional pra caramba de Coverdale, une melancolia e beleza, nos fazendo levitar e sentir os pés longe do chão.
Stormbringer é um grande disco, o ponto de encontro entre dois mundos riquíssimos - o hard rock na veia by Blackmore com o funk by Hughes, tudo temperado pela voz soul de Coverdade. Sua sonoridade é única, e vale muito a pena. 

Conheça. Tenho certeza de que você vai gostar.



Faixas:
A1. Stormbringer 4:06
A2. Love Don't Mean a Thing 4:23
A3. Holy Man 4:30
A4. Hold On 5:06


B1. Lady Double Dealer 3:21
B2. You Can't Do It Right (With the One You Love) 3:23
B3. High Ball Shooter 4:27
B4. The Gypsy 4:02
B5. Soldier of Fortune 3:13

Comentários

  1. Caprichando cadão, só faltou o Pet Sounds e o Hot Space para os cinco melhores discos de todos os tempos (na minha modesta opinião) figurarem em um mesmo dia no blog. Stormbringer é perfeito do início ao fim. Sem dúvida, o trabalho de Hughes é fundamental para a concepção de um novo Purple. Quanto a Coverdale, ele não podia viver as sombras de Gillan, pois sua técnica era diferente, sem gritos exagerados, mas com muita emoção nos baby, baby das faixas. Stombringer, assim como Technical Ectsasy por exemplo, é um disco q a banda odiou, mas que o fã de mente aberta com certeza, curte as ganha.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.