Discos Fundamentais: Stanley Clarke - School Days (1976)


Por Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room

Ao lado do baterista Tony Williams, Stanley Clarke foi um dos grandes prodígios do jazz no século XX. O que pouca gente sabe é que, apesar de ter se tornado um dos maiores e mais conhecidos baixistas do mundo, Stanley deu os seus primeiros passos na música estudando outros instrumentos, no caso o violino e o cello.

Aos dezoito anos nosso herói já estava dividindo o palco com Horace Silver, uma das grandes lendas do gênero. Mais tarde, fez parte do fenomenal Return to Forever, combo liderado pelo tecladista Chick Corea nos anos setenta, e um dos agrupamentos seminais do jazz rock.

Stanley Clarke iniciou sua carreira solo em 1973 com o disco
Children of Forever, uma clara alusão ao seu grupo anterior. Como curiosidade vale citar que nesse álbum ele se apresentou como Stan Clarke, alcunha que seria substituída pela que conhecemos nos trabalhos posteriores. Em seguida vieram Stanley Clarke (1974), Journey to Love (1975) e School Days (1976), marcando a primeira fase de sua carreira como artista solo.

School Days é um disco com a cara daquela metade dos anos setenta. A sonoridade de suas seis faixas nos leva de volta no tempo. Tendo o baixo de Clarke à frente, as composições transbordam melodias, energia e lirismo, em um tempo onde um trabalho solo de um instrumentista não era sinônimo de auto-indulgência.

A bolacha abre com "School Days", um funkão contagiante que se desdobra em riquíssimas passagens instrumentais, unindo com maestria os dois gêneros musicais negros que comandam o álbum: o jazz e o funk. A belíssima "Quiet Afternoon" vem na sequência, e nela somos tocados por melodias angelicais saídas do baixo de Clarke. Sua beleza é absoluta, construída pelos detalhes cuidadosamente pensados de cada instrumento.

Uma batida tipicamente brasileira dá início à "The Dancer", groove hipnótico que hoje seria classificado apenas com o rótulo exdrúxulo world music, mas que na verdade se revela um grande exercício de como unir gêneros musicais a princípio díspares em uma mesma composição.

O mago John McLaughlin bate o cartão na arrepiante "Desert Song". Nela, o líder da Maravishnu Orchestra é acompanhado por Stanley Clarke, que toca um contra-baixo acústico. Clarke alterna o uso do arco e dos dedos para executar o instrumentos, criando passagens e harmonias que transportam o ouvinte para outras dimensões. O brilhantismo minimalista de McLaughlin com o seu violão é a cereja do bolo da canção, fazendo com que sua audição seja uma experiência quase espiritual.

Fechando o play, a rápida "Hot Fun" é o que o seu título antecipa: uma animada e festiva jam em estúdio. Já "Life is Just a Game" é a única composição a contar com passagens vocais, e mesmo assim brevíssimas, de Clarke. Com um arranjo orgásmico e apoteótico, repleto de metais e grooves alucinógenos, é um dos momentos mais altos do disco. Um final perfeito para um álbum excepcional.

Se você conhece, sabe do que eu estou falando. Se você nunca ouviu, vá atrás agora mesmo.

Faixas:
A1. School Days - 7:50
A2. Quiet afternoon - 5:05
A3. The Dancer - 5:23

B1. Desert Song - 6:53
B2. Hot Fun - 2:50
B3. Life Is Just a Game - 9:00

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