Machine Head - The Blackening (2007)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Cotação: *****

Ouvir este disco, lançado originalmente em 27 de março de 2007, mais parece um milagre. Motivos para isso existem aos montes. O primeiro deles é o próprio Machine Head ainda estar na ativa, já que depois de um início de carreira inspirador com o excelente
Burn My Eyes a trupe de Robert Flynn foi aos poucos se perdendo pelo caminho, até culminar no quase fim do grupo.

Outro é o fato de
The Blackening conter oito canções que são o mais puro thrash metal que o mundo ouve em muito tempo. O estilo, tão popular nos anos oitenta e influência para centenas de grupos, há anos ensaia uma retomada, mas não passa disso. É claro que os grandes monstros, como Slayer, Testament, Anthrax (e até mesmo o Metallica, apesar de o grupo de Hetfield e Ulrich não fazer mais este tipo de som desde … And Justice For All, de 1989 - Nota do editor: este review foi escrito originalmente antes do lançamento de Death Magnetic) sempre chamam a atenção com seus novos álbuns, mas isso acontece muito mais pela mítica do que pela qualidade dos lançamentos propriamente ditos.

Um terceiro fator é um álbum como este ter sido composto e criado por uma banda norte-americana, já que o cenário metálico dos Estados Unidos se caracterizou nos últimos anos pelo surgimento de grupos que apostaram suas fichas quase que exclusivamente na busca de novos caminhos (e alguns também na própria negação) para o heavy metal, gerando o tão discutido new metal, que muitos adoram questionar, mas poucos prestaram realmente atenção.

Dito isso, contextualizando
The Blackening e o Machine Head, vamos ao que interessa. A grande contribuição do thrash metal, na minha opinião, está na união definitiva do peso à melodia, retomando uma característica que estava se perdendo na música pesada da primeira metade dos anos oitenta: a agressividade. Pois bem, The Blackening é um álbum agressivo, repleto de peso e dono de canções que transbordam melodias inspiradas. Isso já fica claro em “Clenching the Fists of Dissent”, faixa que abre o trabalho. Uma introdução acústica (impossível, nessa hora, não lembrar das clássicas intros dos discos Ride the Lightning e Master of Puppets, de vocês sabem quem, que não por acaso também eram executadas em violões) evolui para uma autêntica pedrada thrash, repleta de mudanças de andamento, culminando em uma linda passagem vocal quase em seu final.

O nível se mantém lá no alto com “Beautiful Mourning”, agressiva e cheia de riffs animais. “Aesthetics of Hate”, escrita em protesto a um artigo do jornalista William Grim sobre Dimebag Darrel, eleva o sentido da palavra raiva a outro nível. Você ouve e saliva de ódio junto com Flynn. O final dessa canção me trouxe mais uma referência à cabeça, e dessa vez foi a cacofonia sonora com a qual o Slayer costuma introduzir “Rainning Blood” em seus shows.

O que chama, e muito, a atenção em The Blackening é a capacidade e o talento que o Machine Head teve em construir um álbum que, mesmo calcado nas características clássicas do thrash metal, soa inovador. Canções como “Now I Lay Thee Down” arriscam em arranjos nada óbvios, em andamentos desconcertantes. O festival de riffs melodiosos de “Slanderous” é outro destaque, levando qualquer animal como eu, que acompanha loucamente o heavy metal há mais de vinte anos e nunca se dignou a tirar a bunda da cadeira e aprender a tocar um instrumento, a sacar sua Flying V imaginária e tocar air guitar ensandecidamente pela sala.

“Halo” traz elementos de prog metal, em evoluções repletas de peso, enquanto “Wolves” deveria ser tocada para James Hetfield, Lars Ulrich, Kirk Hammet e Robert Trujillo em uma sala fechada e com a seguinte ordem: “
prestem atenção, vocês criaram tudo isso, escutem e vejam se aprendem como se faz, de novo e mais uma vez” (e a minha esperança roga, todas as noites, para que esses quatro estejam realmente escutando o que o Machine Head fez nesse novo disco, e encontrem nele inspiração para o novo álbum que estão gravando - Mais uma nota do editor: pelo jeito Rick Rubin colocou The Blackening pra rolar no estúdio, pois Death Magnetic é uma pedrada sensacional). Fechando o CD, “A Farewell to Arms” tem um início mais calmo, para depois cair em ótimas passagens de vocais e guitarras.

Um grande disco, é isso que
The Blackening é. Inspirador, refrescante, raivoso, agressivo. Uma paulada bem dada em nossas cabeças. Não sou de nadar com a maré, mas neste caso vou fazer coro: The Blackening é desde já um clássico, e um dos principais trabalhos não só de 2007, mas também dos anos 00.


Faixas:
1. Clenching the Fists of Dissent - 10:34
2. Beautiful Mourning - 4:49
3. Aesthetics of Hate - 6:34
4. Now I Lay Thee Down - 5:36
5. Slanderous - 5:17
6. Halo - 9:03
7. Wolves - 9:04
8. A Farewell to Arms - 10:12

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