Miles Davis - Pangaea (1976)


Por Tiago Rolim
Colecionador
Collector´s Room

Quando nós pensamos em discos irmãos, sempre vem à mente álbuns de rock, como por exemplo,
Rubber Soul e Revolver dos rapazes de Liverpool (se você não sabe quem são, lamento), Use Your Illusion I e II do Guns´N Roses, os famigerados Load e Reload do Metallica, entre outros, certo?

Mas existem outros discos que podem ser considerados irmãos pelas mais diversas razões, tais quais os citados acima, mas nenhum deles são ao vivo,
live albums. Este, assim como seu “irmão”, é ao vivo, e como. Estou falando dos ábuns Pangaea e Agharta de Miles Davis, ambos lançados em 1976 e gravados no mesmo dia, em 1º de fevereiro de 1975. Enquanto Agharta foi gravado na tarde desse fatídico dia, Pangaea foi registrado à noite. O Agharta já foi muito bem resenhado aqui antes, então vou me ater ao Pangaea.

Enquanto o
Agharta, assim como uma tarde, é quente, rápido e transpira frescor, é impressionante, como em questão de horas, tudo muda. Pangaea é um disco longo até para os padrões de Miles Davis. Composto de apenas duas músicas, onde a menor beira os 42 minutos de duração, ele transborda dor e sofrimento em seus sulcos. Não foi à toa que, depois desses shows, Miles se retiraria da música por seis anos.

As faixas que compõem o disco são, por ordem, "Zimbabwe" e "Gondwana". Pelos títulos se vê que ele estava mergulhado em suas raízes africanas, o que fica claro no som, repleto de percussões alucinadas, cortesia da dupla Mtume e Al Foster, respectivamente percursionista e baterista de Miles à época.

Enquanto "Zimbabwe" é mais energética, começando com um violento solo de bateria e guitarra, fazendo a cama para o bruxo entrar apavorando como sempre e levando a faixa, e os músicos, até os limites do inferno, resgatando ambos momentos depois para novamente guiá-los por diferentes caminhos até que, enfim, ele se acalma e lentamente vai sumindo em nossos ouvidos, depois de 42 minutos que passam voando.

No segundo disco, "Gondwana" tem um começo calmo com uma flauta, mas aos poucos se torna densa e aflitiva, sendo possível até mesmo escutar a voz de Miles reclamando de algo em pleno palco. Mais uma vez fica claro o poder hipnótico de Miles Davis, pois a música não cansa, mesmo tendo 46 minutos de duração. Mesmo nos momentos atonias e mais espaçados ele prende sua atenção com um talento incomum. Esta faixa, e o disco por tabela, terminam de uma maneira aflitiva e densa, como um som irritante de uma alma gemendo, chorando, pedindo socorro.

Pangaea e Agharta são o limite da fase elétrica de Miles Davis. Aquilo que começou discretamente em Neferetti (1968) e evolui em In a Silent Way (1969) foi se tornando um monstro que encontrou sua morte em fevereiro de 1975. Daí em diante Miles se retirou da música, voltou, mas nunca mais encontrou este monstro novamente.

Faixas:
A. Zimbabwe Part 1

B. Zimbabwe Part 2

C. Gondwana Part 1

D. Gondwana Part 2

Comentários

  1. Tiago, sensacional a sua resenha sobre o disco. Ela completa o texto do Marco sobre o "Agartha". Ambos são ótimos.

    Parabéns pela bela estreia aqui no blog, e que venham mais reviews e textos seus.

    Abração, e obrigado.

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