O heavy metal em Santa Catarina


Por Alessandro Cubas
Colecionador

Santa Catarina é um estado muito conhecido por sua beleza natural, com suas serras e seu belo litoral, que possui lindas praias, atraindo turistas de todo o país. Mas poucos sabem que também é um estado onde o heavy metal é muito forte, contando com grandes bandas e ótimos festivais.

São muitos os grupos que podemos destacar neste cenário, nomes como Orquídea Negra, Steel Warrior, Before Eden, Perpetual Dreams, Arsenal, Still Life, Pain Of Soul, Battalion, Sacrilegium, Shadow of Sadness, Warriors of Metal, Infektus, Juggernaut, Forest of Demons, Vulkro, Flesh Grinder, as já extintas Mr Powerfull, Black Rainbow e Scorner, entre muitas outras, que ajudam a tornar o metal catarinense muito forte, tendo bandas do mesmo nível que as dos grandes centros do país.

Já falando sobre os festivais que rolam no estado podemos destacar o River Rock de Indaial, que talvez seja o mais tradicional de todos; o Tchumistock de Rio do Sul; o Bob Rock de Dona Ema; o extinto Fúria Metal Rock de Rio Negrinho; o Zombie Ritual Metal Fest, também de Rio Negrinho e que esse ano trará atrações arrasadoras e tem tudo para se tornar o maior festival de Santa Catarina; o Orquídea Rock Festival de Lages; Trento from Hell, de Nova Trento; 92 FM Metal Fest de Timbó; Vooadera Festival de Florianópolis, além de outros espalhados por todo o estado. 

A maioria destes festivais são open air e oferecem uma ótima estrutura ao público, que pode acampar e curtir suas bandas favoritas sem se preocupar. Nesses eventos podemos destacar apresentações de nomes fortes do metal e do rock nacional, como Krisiun, Korzus, Torture Squad, Tuatha de Danann, Claustrofobia, Matanza, entre outros. Os festivais acontecem durante todo o ano e também nos trazem diferentes grupos, agradando todos os gostos. É só escolher o seu favorito e se divertir.

Mas vamos ao que interessa, que são os discos. Vou falar um pouco de alguns álbuns e demos que eu considero destaques entre as bandas catarinenses. Para isso escolhi dez trabalhos de nomes de diferentes estilos do heavy metal e que representam muito bem esse estado e essa cena, que continua crescendo muito.

Flesh Grinder – Libido Corporis (2001)

Vinda da cidade de Joinville, a banda Flesh Grinder pode ser considerada um dos maiores nomes do splatter mundial. Libido Corporis é o terceiro trabalho full-lenght do grupo, que já havia gravado Anatomy and Surgery em 1997 e o espetacular S.P.L.A.T.T.E.R. em 1999. Com um som super veloz, Libido Corporis foi lançado no ano de 2001 pela Demise Records e é cheio de introduções macabras, vocais urrados intercalados por vocais rasgados, bateria na velocidade da luz, bons riffs e, é claro, muita influência do Carcass antigo.

Algumas faixas de destaque são “Inflamed Rectum from Anal Intercurse”, “Cryptosporidiosis: Profuse Watery Diarrhea”, “Sterilize With Severe Vasectomy”, “Aroma of an Open Gall-Blader”, entre outras tão nojentas quanto. O CD ainda traz uma faixa multimídia, que é um vídeo da música “Disruption of the Samatognosia”, que também é a faixa de áudio que encerra o play.

A capa e o encarte nos trazem fotos características do splatter, cheio de tripas e corpos mutilados. Se você tem estômago fraco passe longe!

A formação conta neste álbum com Fábio Gorresen (V/G), Chacal (V/G), Rogério Murara (B) e Johnny (D). Ou seja, esses doentes, no bom sentido, nos apresentam neste disco pérolas que só este estilo poderia nos proporcionar.

Uma ótima pedida! Para quem gosta do gênero, lógico.

Resthus – Embryo of the Endless Sands (2003)

Uma das minhas bandas de thrash metal favoritas. O Resthus foi formado na cidade de Rio do Sul no ano de 1993, e após o lançamento de duas demo tapes foi lançado de forma independente este excelente Embryo of the Endless Sands.

O CD começa com “Inside a Torn Apart” e daí pra frente é um petardo atrás do outro. Seguindo adiante temos “Bullet in Point”; “Insane War”, que começa com um belo arpejo que antecede a pancadaria e é também uma das melhores músicas da banda; “Die Like a Dog”; “Tsavo: The Place of Slaughter” é a melhor faixa do álbum e é baseada no filme A Sombra e a Escuridão. 

“Njord Hymn” é instrumental e acústica, e abre caminho para outra míssil, que é a faixa “Big Anesthesia”. Ainda temos “Cancer”, “Sacrificed by Mistake”, “Doomsday” e “Eternal Sorrow”, que fecha o play com chave de ouro. Este trabalho nos traz tudo que o estilo exige: riffs trabalhados, cozinha arrasadora, solos e vocais rasgados. As músicas são bastante influenciadas pelo thrash alemão, mas em alguns momentos também percebemos influência das bandas americanas do estilo.

A capa foi feita pelo artista alemão Michael Schindler, que também já trabalhou com o Motörhead e com o Steel Warrior. Na formação da época estavam Alex Leber (V/G), Célio Jr (G), Valda (B) e Jailson (D).Este CD é viciante e agradará em cheio os fãs de thrash metal.

Steel Warrior – Army of the Time (2002) 

O Steel Warrior é um dos principais nomes do metal catarinense e também nacional. Vindos da cidade de Itajaí, a banda sabe fazer heavy metal como poucas. Unindo influências de nomes como Running Wild e Iron Maiden, o grupo lançou seu primeiro CD em 1999, o maravilhoso Visions from the Mistland, que chegou inclusive a ser pirateado na Europa.

Army of the Time é o segundo álbum e segue o mesmo estilo do debut da banda. Os destaques do track list são “Guardians of the Sea”, com uma pegada à la Running Wild mas ao mesmo tempo com identidade própria; o hino “Power Metal”, que possui um belo refrão, com uma boa performance do vocalista Andre Fabian e uma letra realmente metálica; “Divine Wind of Sho”,  onde o batera Culver Yu simplesmente destrói; e “The First Warrior”, que é a minha favorita.

Foi também através do lançamento deste disco pela Hellion Records que os catarinenses fizeram sua turnê européia, tocando em países como Alemanha, Bélgica, entre outros.

Formação conta com Andre Fabian (V/G) - que está cantando muito neste CD, Boon Yu (G), Anderson Agostinho (B) e o talentoso Culver Yu (D). Um timaço de primeira. No ano de 2008 a banda ainda lançou o excelente Legends, que também vale a pena ser conferido.

Symmetrya – Eternal Search (2005) 

Confesso que fiquei em dúvida entre escolher o Symmetrya e o também excelente Perpetual Dreams para representar o heavy metal melódico, mas acabei optando pelo Symmetrya, pois apesar do pouco tempo de existência a banda tem se firmado como um dos principais nomes do estilo. Já pude acompanhar vários shows dos caras e mesmo eles já tendo um ótimo padrão técnico e um excelente entrosamento continuam em constante evolução, sempre surpreendendo.

Eternal Search é o álbum de estreia destes joinvillenses, que no ano de 2003 haviam lançado o CD demo Symmetry, que inclusive era o nome da banda na época, mas pelo fato de já existir uma outra com o mesmo nome eles acabaram incluindo a letra "A" no final, ficando como Symmetrya.

Como destaques do álbum podemos citar as faixas “Eternal Search”, “Lost”, “Dead Zone”, “Misbelief” e Inner Force” ,que já constava em outra versão no CD Demo. A banda ainda fez vídeo clipes para as faixas “Wings of Tragedy” e “Learn to Live”, faixas estas que também podemos citar como destaques.

A formação conta com o vocalista Jurandir Junior, o guitarrista Ney Soteiro, o baixista Alexandre Lamim, o tecladista Milton Maia e o baterista Marcos Vinícius, o Nána.

A arte gráfica do álbum foi feita por Robson Piccin (Eternal Malediction, Lothlöryen) e é bem trabalhada, com uma bela capa e um bom design no encarte, chegando a nos lembrar os últimos trabalhos do Angra.

O grupo ainda promete muito! Vamos aguardar.

Still Life – Still Life (2004) 

O Still Life é mais um representante do metal tradicional catarinense. Oriundo de Florianópolis, este quarteto nos apresenta um heavy metal com referências a nomes como Iron Maiden e Judas Priest.

Algumas faixas que encontramos neste play já haviam sido registradas anteriormente no CD demo The Crab Ship Arise, de 2000, faixas essas que são destaques tanto neste álbum quanto nos shows, como “Destination Somewhere”, “Still Life”, “Discovery of Metal” e “Silent Hill” , todas muito empolgantes. O track list é completado por “War of Discord”, “Kill the Captain”, “Metal Flame Heart”, “Darknees Woods”, “Fallen World”, “Resurection” e “The Priest”, todas seguindo o padrão de qualidade do grupo.

As performances ao vivo também são referência, uma aula de como se faz um show de metal.

Khrophus – God From the Dead Images (2003) 

Apesar de não contar com uma produção muito boa, este álbum do Khrophus nos mostra toda a brutalidade da banda, demonstrando porque a mesma é considerada um dos destaques do metal extremo catarinense.

Músicas bem trabalhadas, riffs rápidos, bateria a mil. O play começa com o petardo “Trench”, seguida pela não menos brutal “Darkness”. Destaco também “Message of Sins”, “Dying Serenity” e a poderosa faixa-título, que conta com uma bela introdução. Brutal death metal de primeira linha.

Vinda da cidade de São José, na região metropolitana de Floripa, a banda conta no line-up deste CD com os músicos Guilherme Bridon (V), Adriano Ribeiro (G), Sandro Diefenbach (B) e Kennedy Ribeiro (D)

Destruidor!

Orquídea Negra – Orquídea Negra (1996) 

Uma das bandas mais tradicionais do estado, o Orquídea Negra vem da serra catarinense, para ser mais preciso da cidade de Lages. Este é o segundo trabalho do grupo, sendo que o primeiro registro foi o LP Who’s Dead, de 1992, que foi também o primeiro álbum de heavy metal gravado por uma banda catarinense.

O destaque do disco com certeza é a faixa “Miss You”, mas temos outros bons momentos, como as pesadas “Some Light to See” e “The Unknown”.

A formação na época era Jean Varela nos vocais, Vinícius Porto na guitarra, Robson Anadon no baixo e Marcelo Menegotto na batera.

Vale citar que a banda também é responsável pela idealização e organização do
Orquídea Rock Festival, que vem acontecendo todos os anos durante o mês de dezembro na cidade de Lages.

Se o Orquídea Negra não tivesse existido talvez o metal catarinense não seria forte como é hoje.

Great Vast Forest – Battletales and Songs of Steel (2002) 

Escolhi o trabalho deste excelente grupo para representar o black metal, que sempre foi uma das mais fortes vertentes do metal dentro do estado.

Battletales and Songs Of Steel é o debut desta horda, e nos traz dez faixas do mais puro black, ou como eles mesmo preferem: barbarian black metal. Vale destacar as músicas “Wolvesclan”, “Magestic South”” e “Imperial Moon”. O trabalho é bem produzido e traz composições avassaladoras.

O CD também conta com uma das mais belas capas já feitas por bandas do estilo, isso não só em termos de Brasil, mas também internacionalmente.

Este trabalho foi lançado pelo selo curitibano especializado em black metal Evil Horde Records, que também disponibilizou uma versão do álbum em slip case.

Battletales and Songs of Steel é trilha sonora ideal para os seus pesadelos.

Vlad V – Volume IV (2001) 

Apesar de não podermos considerar o Vlad V uma banda de metal, não havia como deixar de citar esse excelente conjunto de Blumenau, que já está na estrada desde 1994 e tem um som bem diferenciado, com influências de MPB, bandas de rock dos anos setenta, progressivo e, sobretudo, do grande Jethro Tull.

O trabalho que escolhi para representá-los foi o
Volume V, que traz belas composições como “O Pescador”, a rock and roll “Doce Lar dos Malucos”, “Vento Sul” - com um belo trabalho de flauta, e “Dança de Shiva”, essa bem na veia Jethro Tull.

Uma boa dica para quem gosta de bandas que cantem em português. Se você ainda não conhece o grupo não perca tempo, pois vale muito a pena dar uma conferida.

Sodamned – On the Gallows (2003 - Demo) 

Para encerrar escolhi um CD demo de uma das melhores bandas de death metal do estado, este power trio formado por Juliano Regis da Silva (G/V), Gerson Lange (B/V) e Gilson Lange (D).

Com composições muito agressivas, e ao mesmo tempo com ótimas melodias, este play nos traz um trabalho de altíssima qualidade. São apenas quatro músicas -  “Hanged”, “So Damned”, “Dreams and Tears” e “Graveyard of Secrets” -, todas de muito bom gosto. As letras são poemas feitos pela própria banda, e o bom trabalho gráfico nos traz as letras tanto em inglês como em protuguês.

Após esse CD demo o grupo ainda lançou no ano de 2007 o EP
The Garret, trazendo cinco novas músicas.

Mais uma excelente banda catarinense.

Outros álbuns de bandas de Santa Catarina que também merecem ser citados são
Eyes of Infinity (2004) e Arena (2005), ambos da virtuosa Perpetual Dreams; e The Legacy of Gaia (2005), da excelente Before Eden.

Espero ter conseguido passar a todos, principalmente os que são de outros estados e não conhecem os gruos catarinenses, um pouco do heavy metal que a às vezes subestimada bela e Santa Catarina tem a oferecer.

Comentários

  1. Caro Colecionador, a Rockause - Rock for a Cause, tomou a liberdade de criar um link no blog para a sua postagem. Confira!!

    http://rockause.blogspot.com/

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  2. Muito bom!!!
    Caramba tinha bandas que eu nem sabia que era de Santa Catarina ... outras q eu ja tinha ouvido e nem me lembrava mais...
    Seria legal fazer algumas entrevistas com essas bandas fudidas!

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  3. Está faltando um das mais antigas e melhores bandas de santa catarina nessa lista, a SYNDROME de Balneário Camboriu

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  4. Miguel, obrigado pelo comentário. Como o Ale colocou, ele escolheu as bandas que ele acha mais representativas do heavy metal catarinense, em uma opinião pessoal e sujeita a discussões. Como toda lista, certamente essa não será unanimidade - e nem espero que seja -, mas o legal dela e justamente isso: levar ao debate e à discussão sobre o assunto que ela analisa.

    Valeu pela presença, e continue acompanhando o blog que sempre tem novidade boa na área.

    Abraço.

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  5. Realmente acabei esquecendo ao menos de citar o Syndrome, que é uma puta banda catarinense, que também era uma das bandas responsável pela realização do festival Merco Rock que contava com bandas brasileiras e argentinas e que ocorria nos dois países. Com certeza faltaram mais bandas, mas a intenção é apresentar um pouco desta cena a pessoas que não tiveram oportunidade de conhece-la.

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  6. muito legal, eu que tenho 2 anos que moro aqui em joinville. estou querendo conhecer mais as bandas local...pois agora faço parte dessa massa e quero a apoiar a cena da minha região!!! gostei muito.

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