O prazer de consumir música


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Os prazeres da vida estão em pequenas coisas do cotidiano. Isso é uma grande verdade, que a gente só entende quando a maturidade chega, quando estamos mais velhos e nos permitimos mais tempo para perceber o que ocorre ao nosso redor. No meu caso, a música exerce um papel central, tem uma grande presença nos segundos, minutos e horas dos meus dias.

Desde sempre fui um colecionador. Comecei a ter vontade de comprar discos desde que comecei a consumir música, do alto dos meus doze anos, lá no comecinho de 1985, após assistir ao primeiro Rock in Rio pela TV. Essa é uma história que talvez eu conte um outro dia, mas o fato é que a partir deste momento comecei a cultivar um dos maiores prazeres da minha vida: comprar discos, descobrir sons, ouvir música, seja ela qual for.

Por isso, apesar de entender essa nova geração de ouvintes, que baixa mp3 compulsivamente, sinto pena desses jovens, que não conhecem o prazer que aventuras e jornadas por lojas de discos podem proporcionar. Sou um colecionador das antigas, eu sei, afinal já são vinte e quatro anos comprando discos, mas a sensação de bem estar ao entrar em uma loja de discos continua viva, assim como o frio na barriga ao bater o olho naqueles álbuns que estou atrás há anos. Tudo isso para dizer que estou inaugurado uma nova sessão aqui no blog, destinada a comentar um assunto frequente e corriqueiro na vida de qualquer colecionador: as tão faladas e amadas últimas aquisições.

Tenho o hábito de dedicar as manhãs de sábado para o único esporte da minha vida: visitar lojas de LPs, CDs e DVDs. Com esse enorme ponto de interrogação que envolve o presente e o futuro da indústria fonográfica, as lojas acabaram minguando e diminuindo, tanto de tamanho quanto de quantidade. Para quem não sabe, moro em uma cidade do interior de Santa Catarina, de tamanho médio - 200 mil habitantes -, e por aqui temos apenas três lojas de discos, sendo que duas são de uma mesma rede atacadista e possuem um acervo bastante comum, que não reserva maiores surpresas para qualquer colecionador que se preze, que já tem em seu acervo a base, e mais um pouco, dos estilos e bandas que gosta de ouvir. Além delas, há também um sebo, onde costumam pintar algumas pepitas interessantes, tanto em CD quanto em LP.

Já o outro estabelecimento é um ponto tradicional da cidade, que no passado era muito mais frequentado, mas que hoje sobrevive vendendo muito do tal sertanejo universitário ou qualquer moda que esteja em voga no momento. Mas essa loja possui alguns vendedores bastante ligados, que sempre pinçam alguns itens interessantes nas gravadoras, e, assim, acabo batendo assiduamente com surpresas diantes dos meus olhos. Como velhos rockers como eu estão em extinção, vários desses itens interessantes acabam encalhando na loja, o que me dá o conforto e a calma de deixá-los lá, expostos, esperando a hora certa de encontrarem o seu lugar em minha estante. E, o que é melhor, por um preço cada vez mais justo. Como sempre digo na hora de pagar a conta, "agora dá de um desconto para eu virar cliente", apesar de já frequentar a loja há oito anos.


Pois bem, minha mais recente jornada pelo mundo dos discos foi bastante fértil. Encontrei três ótimos álbuns que fixaram residência em meu CD player, e não estão com a menor vontade de sair de lá. O primeiro é uma edição comemorativa aos trinta anos do lançamento original de Diamond Dogs, álbum de David Bowie que chegou às lojas originalmente em 1974. Essa edição especial é absolutamente supimpa. Linda, com acabamento gráfico exemplar - incluindo a capa original, com o órgão sexual do corpo animal de Bowie preservado, imagem que havia sido censurada quando do lançamento original e apagada nos posteriores - traz dois discos remasterizados, sendo o primeiro com o álbum original e o segundo dedicado exclusivamente aos bônus, que totalizam oito faixas. Além disso, os dois CDs vem em uma capa que imita a capa dupla original, enquanto um longo e grosso encarte fecha o pacote. Não vou nem falar do som - basta dizer que esse é um dos melhores discos gravados por David Bowie em toda a sua carreira. Simplesmente de babar.


Outro disquinho delirante é o
Viva Muddy Waters, álbum tributo gravado pelo Blues Etílicos ao pioneiro bluesman norte-americano, lançado em 2007. O acabamento gráfico também é muito bom, em uma embalagem digipack de ótima qualidade, que inclui um texto sobre os discos de Muddy lançados no Brasil e o desenvolvimento do Blues Etílicos como banda. As versões, no total de onze faixas, tem uma pegada enérgica e farão a alegria de quem curte o estilo. Discaço.


E, fechando o pacote, meu primeiro play do Buddy Guy. Peguei uma expanded edition do
Damn Right, I´ve Got the Blues, de 1991, um dos melhores trabalhos do Buddy, e que conta com a participação especial de feras do calibre de Jeff Beck e Eric Clapton. Essa edição especial traz duas bonus tracks e uma capa ligeiramente diferente da original - aqui, o azul da edição normal foi substituído pelo prata.

Enfim, álbuns que, além de belas embalagens, trazem grandes sons em seus conteúdos.

E que venha o próximo sábado trazendo novas surpresas.

Comentários

  1. Olá tenho um blog também que fala para colecionadores: www.saborcultural.wordpress.com
    se puder pase lá.
    Gostei dessa matéria sua a respeito do prazer de consumir música, sou colecionador e também vivi tudo isso em relação ao vinil e as lojas de discos.
    Vou postar este texto no meu blog e te dar o crédito
    Ok!
    Abraço
    Julio

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  2. Valeu man. Vou conferir seu site agora mesmo.

    Abraço.

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  3. Você começa a notar que está ficando velho quando o filho de um colega de trabalho te pergunta por que as pessoas compram CDs, afinal é tão mais fácil baixar música direto... somos uma raça em extinção mesmo.

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  4. É verdade cara, por isso que os lojistas tem que os valorizar cada vez mais, tratar bem e manter os clientes que ainda possuem. Eu falo isso direto pra quem eu compro discos.

    Abraço, e valeu pelo comentário.

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  5. Eu acho que todas as midias tem que ter espaço... o mp3 é um importante divulgador para quem gosta de conhecer coisas...facilita para quem quer adquirir cultura musical...mas nada substitui o som de um CD bem produzido...com um encarte bem legal...o vinil então nem se fala...recentemente ganhei o vinil do Abbey Road importado...que som...superior ao do Cd...pois tenho uma boa vitrola... o mp3 pode ser mais prático, mas em termos sonoros perde pras outras mídias...mesmo quando compactado em 320kbps

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  6. Grande Cadão...

    este assunto realmente toca alma...

    O Zeca Baleiro tocou neste assunto a um certo tempo no blog dele...

    Vale a pena conferir, principalmente os comentários...

    Segue o link:

    http://colunas.g1.com.br/zecacamargo/2009/03/05/requiem/

    Saudações,

    Izaias.

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