Castiga!: a brilhante tacada de estreia do Babe Ruth


Por Marco Antonio Gonçalves
Colecionador

First Base do Babe Ruth é daqueles discos que me conquistaram logo na primeira orelhada. O álbum, lançado pelo selo Harvest (EMI) em 1973, é a brilhante estreia da banda inglesa de Hatfield, e traz em suas seis faixas uma interessante combinação de estilos, reunindo características do hard rock, rock progressivo, jazz e música pop.

Criado em 1971 pelo guitarrista Alan Shacklock e conhecido inicialmente como Shacklock, o grupo logo teve seu nome alterado para Babe Ruth em homenagem ao lendário jogador de baseball norte-americano George Herman “Babe Ruth”. Mudanças no line-up, cinco discos oficiais lançados entre 1973 e 1976, um longo recesso e o retorno em 2002 – quando começaram a compor o álbum Que Pasa, só finalizado em 2006. O certo é que o combo nunca mais alcançou o mesmo nível de qualidade musical de First Base.


A formação neste debut discográfico incluia Alan Shacklock (guitarra, vocais, órgão e percussão), Janita “Jenny” Haan (vocal), Dave Hewitt (baixo), Dick Powell (bateria e percussão) e Dave Punshon (piano e piano elétrico). Outros músicos que marcaram presença no Abbey Road Studios, em Londres, foram Gaspar Lawal (congas, bongos, kabasa), Brent Carter (saxofone) e Harry Mier (oboé), além de um quarteto de violoncelistas composto por Peter Halling, Clive Anstee, Manny Fox e Boris Rickleman.

Com arranjos bem estruturados, a arquitetura sonora era moldada por uma cozinha robusta, passagens sutis e estilosas de teclados, riffs e frases precisas a cargo do guitarrista Alan Shacklock (que também fez os arranjos e escreveu boa parte das composições) e, claro, pelo poderoso e marcante vocal de Janita Haan. Seu canto, pode-se dizer, é algo próximo de uma mistura dos timbres vocais de Robert Plant e Janis Joplin. Um arraso!


O álbum abre com a faixa “Wells Fargo”, numa pegada hard rock mas com piano elétrico constante, intervenções maneiras de sax e um instrumental refinado que dá um revigorante aspecto jazzístico à composição. “The Runaways” tem estruturas harmônica e melódica de intensa beleza, realçadas por instrumentos de cordas, oboé e o piano elétrico de Punshon. Agora a voz expressiva de Janita Haan passeia em meio a uma balada mezzo folk, mezzo progressiva, com uma sonoridade que se assemelha aos conterrâneos do Renaissance. Nesta faixa primorosa, a bateria é pilotada por Jeff Allen. Encerrando o lado A do vinil, uma versão simples e honesta de “King Kong” – obra de Frank Zappa, gravada com o Mothers of Invention originalmente no álbum Lumpy Gravy (1968) e retomada com maior consistência no duplo Uncle Meat (1969). Um clássico zappiano gravado sem nenhum overdubbing ou qualquer tramóia eletrônica, conforme indica a contra-capa do disco. Grande homenagem ao mestre!


O lado B tem início com “Black Dog”, outra bela canção interpretada de forma sublime por Janita, que mais uma vez é muito bem assessorada por teclados, guitarra e uma condução rítmica impecável. Mas o maior destaque do álbum é a faixa “The Mexican”, trazendo à tona a clássica “Per Qualche Dollaro in Piu”, tema western spaghetti do compositor e maestro italiano Ennio Morricone, numa versão original e simplesmente espetacular. Não é exagero afirmar que esta é uma das minhas músicas prediletas em todos os tempos. Fechando o disco, “Joker” engatilha outro hard rock fulminante, com ótimos fraseados e riffs de guitarra, base percussiva animal e a voz contundente de Janita – aliás, bem parecida também com o timbre da vocalista Inga Rumpf, da banda alemã Frumpy. Sonzeira!

Apesar das críticas favoráveis na época de seu lançamento o álbum obteve pouco sucesso comercial na Grã-Bretanha, só alcançando relativo sucesso nos Estados Unidos e no Canadá.


A capa (com um desenho futurista que sugere uma partida de baseball em pleno espaço sideral ou, quem sabe, na escuridão do fundo do mar) tem a assinatura de ninguém menos que Roger Dean, o cultuado designer e ilustrador inglês, responsável pela criação de capas antológicas de álbuns do Yes, Uriah Heep, Budgie, Greenslade, Osibisa, Atomic Rooster e Asia, entre tantos outros grupos de respeito. É só a embalagem de uma obra indispensável para os amantes da boa música e item obrigatório numa coleção de respeito. Já tinha o CD velho de guerra e no começo do ano consegui o vinil original (made in Canadá) em excelente estado e por um preço pra lá de camarada. Tacada de mestre!

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