A história da capa de "Thick as a Brick", do Jethro Tull


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Lançado em 18 de fevereiro de 1972, Thick as a Brick é não apenas um dos principais discos do Jethro Tull, mas também uma das grandes obras da história do rock progressivo. Conceitual, o álbum tem apenas uma faixa (dividida em duas partes para poder caber no vinil, com cada uma tendo mais de vinte minutos de duração), que na verdade é um poema escrito pelo personagem central da história, um menino de oito anos de idade chamado Gerald Bostock (a.k.a. Little Milton). O poema de Gerald, que o jornal anuncia como o grande vencedor de uma competição infantil promovida por uma tal de Society For Literary Advancement and Gestation (SLAG - escória, em inglês), versa sobre os dilemas e angústias do crescimento.

Toda esa história é devidamente embalada por uma sonoridade que torna explícitas as influências folk de Ian Anderson, inclusive com o uso de instrumentos pouco comuns ao rock, como harpa, xilofone, violino, trompete e um sessão de cordas, que, somados à flauta característica de Anderson, agregam um senhor diferencial à música de
Thick as a Brick. Além disso, a performance de todos os integrantes, principalmente de Anderson, do guitarrista Martin Barre e do baterista Barriemore Barlow, estão entre as melhores de suas carreiras, contribuindo para a construção de uma obra inesquecível.

Mas o assunto aqui é outro. Vamos falar da capa de
Thick as a Brick, um calhamaço gráfico imitando um jornal da época. Concebida pelo líder do Jethro Tull, traz inúmeras manchetes e notícias sobre Little Milton e sua história. A capa original trazia doze páginas de um jornal fictício chamado The St. Cleve Chronicle, datado de sete de janeiro de 1972, uma sexta-feira. Os textos que formam a capa de Thick as a Brick, escritos por Ian Anderson, pelo baixista Jeffrey Hammond e pelo tecladista John Evan, vem carregados de um humor ácido e irônico, muito influenciado pelo combo inglês Monthy Python, responsável por obras-primas como A Vida de Brian. Neles, Anderson descarrega sua artilharia sobre a hipocrisia da sociedade inglesa daquele início dos anos setenta, usando a história do garoto Gerald Bostock como metáfora para os seus próprios pontos de vista, fazendo com que várias passagens soem quase como autobiográficas.


Todo o projeto gráfico segue os padrões de um jornal de verdade, com matérias, manchetes, notícias e até mesmo anúncios publicitários. E mais: um dos textos traz um review do próprio disco! As matérias incluem trechos da letra de "Thick as a Brick", e a leitura de tudo o que o jornal traz impresso é fundamental para entender por completo todo o conceito desenvolvido por Anderson para o disco.

Infelizmente grande parte dessa riqueza gráfica se perdeu na versão digital do álbum. Pelo formato reduzido do CD foi impossível reproduzir todas as informações da arte original, mas essa falha foi corrigida em 1997 com o lançamento de uma versão comemorativa aos vinte e cinco anos de
Thick as a Brick contento uma reprodução em fax-simile da capa original, o que agradou bastante os fãs e colecionadores mundo afora.

Sem dúvida alguma, além da relevância musical,
Thick as a Brick é um dos maiores exemplos de uma época em que a música era pensada como um todo, onde cada elemento, desde as melodias e letras até o título do trabalho, passando por sua embalagem, eram peças que conspiravam a favor da idéia que o artista queria expressar. Bem diferente de hoje, onde toda uma geração de ouvintes está mais interessada em acumular arquivos MP3 do que ir atrás de informações sobre quem faz a música que toca em seus iPods.


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