Leonard Cohen - Live in London (2009)


Por Lidiana de Moraes
Jornalista
Revista Paradoxo

Cotação: ****1/2

Seria um sinal dos tempos o fato de Leonard Cohen ter lançado mais um disco ao vivo, com o mesmo repertório de sempre? Teria ele resolvido se juntar ao rol de bandas caça-níqueis, tal qual Sex Pistols e tantas outras? Quem ouve Live in London sabe que a resposta é um categórico não.

Antes de entender porque Leonard Cohen passa imune por qualquer crítica negativa quanto às suas intenções musicais, vamos aos fatos que levaram o célebre cantor canadense a deixar um longo período de isolamento para colocar o pé na estrada.

Há quatro anos, Cohen veio a público alegando que seu antigo empresário, Kelley Lynch, havia retirado ilegalmente U$ 5 milhões, deixando-o com apenas U$ 150 mil em conta. A quantia restante é efêmera se levarmos em conta que estamos falando de alguém com uma longa carreira e diversos fãs famosos, como Bono Vox, Nick Cave e Rufus Wainwright. Portanto, já que a justiça é lenta, o melhor foi voltar ao trabalho.

Mas, como é sempre melhor ver o copo meio cheio do que meio vazio, se Leonard Cohen não estivesse mal financeiramente, o mundo poderia continuar privado de uma pérola musical tão primorosa quanto
Live in London. Agora a pergunta é: o que há de tão especial neste disco?

No alto de seus 75 anos, Cohen construiu uma trajetória singular, edificada a cada trabalho. Mesmo não sendo seu primeiro disco ao vivo (
Cohen Live, de 1994 já havia dado um gostinho do que ele é capaz ao vivo, mas o ápice acontece neste novo trabalho duplo), é perceptível que ele consegue ser muito bem sucedido no sentido de continuar relevante, sem a necessidade de grandes inovações. Percebe-se neste registro um músico que conseguiu chegar a um nível utópico para 99% das pessoas que um dia tentaram fazer música como uma forma artística relevante.

Tal conquista pode ser explicada com a ideia defendida por Alfredo Bosi, ao definir arte como um “
objeto consagrado pelo tempo, e que se destina a provocar sentimentos vários”. A intensa reação da platéia a cada movimento de Leonard mostra como estamos falando de um verdadeiro artista, que consegue deixar marcas impossíveis de apagar nas pessoas que querem entender profundamente a alma humana através de suas canções.

Como performer, Leonard Cohen não precisa fazer esforço para agradar. Ele é ele mesmo, e o ouvinte pode vê-lo como o senhor muito bem vestido, como um Humphrey Bogart eternizado em
Casablanca, que estampa a capa do disco. Porém, ao colocar o CD para tocar, damos de cara com o criador de clássicos como "Everybody Knows" e "Hallellujah", que conseguiu para si a prerrogativa de se tornar um artista sem rosto, reconhecido apenas através da voz, que emana todas as sensações do mundo em poucas notas. Sua imagem é indubitavelmente fascinante, mas é o som que sai de sua boca que captura toda a atenção, seja acompanhando uma melodia como a de "Suzanne", recitando "A Thousand Kisses Deep" ou apenas conversando com a platéia, com a mesma intimidade com a que se fala com alguém que se conhece a vida toda.

Com o fim do álbum duplo mantêm-se a certeza de que
Live in London é primoroso porque Leonard Cohen conseguiu elidir o músico, o poeta, o ator, o compositor e todas as outras personas possíveis para deixar em cena apenas um artista nato e essencial, que personifica o pensamento do pintor russo, Wassily Kandisky: “Todos os procedimentos são sagrados quando interiormente necessários”.


Faixas:
CD1
1.1 Dance Me to the End of Love 6:20
1.2 The Future 7:20
1.3 Ain’t No Cure for Love 6:16
1.4 Bird on the Wire 6:14
1.5 Everybody Knows 5:52
1.6 In My Secret Life 5:02
1.7 Who by Fire 6:35
1.8 Hey, That’s No Way to Say Goodbye 3:47
1.9 Anthem 7:20
1.10 Introduction 1:29
1.11 Tower of Song 7:07
1.12 Suzanne 3:46
1.13 The Gypsy’s Wife 6:42

CD2
2.1 Boogie Street 6:57
2.2 Hallelujah 7:20
2.3 Democracy 7:08
2.4 I’m Your Man 5:41
2.5 Recitation w/N.L. 3:53
2.6 Take This Waltz 8:37
2.7 So Long, Marianne 5:24
2.8 First We Take Manhattan 6:15
2.9 Sisters of Mercy 4:56
2.10 If It Be Your Will 5:22
2.11 Closing Time 6:15
2.12 I Tried to Leave You 8:33
2.13 Whither Thou Goest 1:27

Comentários