Minha Coleção: Marcos A. M. Cruz


Por Ricardo Seelig
Colecionador
Nesta edição batemos um papo com Marcos A. M Cruz, também conhecido como Socram, editor do maior site de rock e heavy metal em língua portuguesa, o Whiplash!. Esta entrevista foi produzida originalmente para a revista poeira Zine (na minha opinião a melhor publicação de música do Brasil, e que eu tenho a imensa honra de colaborar), e agora resolvi publicá-la aqui também.

Socram tem um acervo gigantesco, cujo principal diferencial é o foco em grupos obscuros do hard rock setentista. Sabe aqueles discos raros que você vê com frequência em sites de downloads espalhados pelo mundo? Pois é, o Marcos tem todos eles originais, seja em LP ou CD. Além disso, possui também uma imensa quantidade de gravações ao vivo, verdadeiras preciosidades que, em muitos casos, nem mesmo as bandas possuem ou sabem existir.

Então, respire fundo e mergulho nessa viagem pelo tempo com a gente!

Ricardo Seelig - Como foi o seu primeiro contato com o rock?

Marcos A. M. Cruz - Quando criança tinha em casa uma fitinha K7 com o Tommy do The Who, e algum tempo mais tarde ganhei de presente de aniversário um compacto do Alice Cooper, mas roqueiro mesmo eu virei quando conheci Jimi Hendrix e Janis Joplin.

RS - Qual o tamanho da sua coleção?

MC - Só tenho material produzido até meados dos 70´s, salvo algumas coisas posteriores de grupos surgidos até esta época ou raras exceções, como Stevie Ray Vaughan e Gov´t Mule. Não sei ao certo, devem ser mais de mil CDs, idem LPs, mais que duas vezes e meia disto em gravações ao vivo – incluindo umas duzentas fitas K7 que sobraram - e não estou longe de dois terabytes de arquivos em geral (risos). Sério, está tudo espalhado pela casa, sou muito bagunceiro e na realidade não me considero um colecionador, mas sim um "acumulador". Não ligo muito para este lance de formatos, embora tenha predileção por LPs – na realidade, enjoei completamente de CDs, hoje em dia eu não compro mais, só quando se trata de banda independente ou coisas que nunca saíram/sairão em CD, como os Cactus ao vivo.

RS - Que disco mudou a sua vida?

MC - Uma coletânea da Janis Joplin chamada Forever, do início dos anos oitenta.

RS - De quais grupos você possui mais material?

MC - Do Jimi Hendrix são cerca de 350 títulos entre LPs e CDs prensados (originais), sem contar as gravações em áudio/CDR – só de uma série organizada por colecionadores, chamada ATM, são 230 discos.

RS - Qual foi o primeiro álbum que você comprou, e porque?

MC - Huuummm ... não faço a mínima idéia (risos) …

RS - Qual o item mais raro da sua coleção?

MC - Adoro bootlegs editados em LP nos 70´s, e teoricamente eles são difíceis de se conseguir, mas com um pouco de paciência e bastante dinheiro no bolso praticamente tudo, vez por outra, aparece nos eBay, Gemm ou Musicstack da vida. Acredito que os itens mais raros que tenho curiosamente são dois box sets não em LP, mas sim em CD: Cabala e 51st Anniversary, do Led Zeppelin e do Jimi Hendrix respectivamente, ambos trazendo oito discos e um VHS.

RS - Qual foi o número máximo de itens que você adquiriu de uma única vez?

MC - Quando começaram a chegar os CDs da Repertoire/Second Battle eu me deparei com um monte de bandas/artistas do qual nunca tinha ouvido falar, e não raro chegava em casa no final da tarde de sábado com mais de trinta ou quarenta CDs – meu cheque especial vivia eternamente no vermelho (risos).


RS - Qual é o item mais bonito da sua coleção?

MC - O dono do acervo! (gargalhadas gerais)

RS - Qual você considera o item mais estranho e curioso do seu acervo?

MC - Não é propriamente estranho, mas há algum tempo eu cismei que juntaria todos os títulos que foram lançados pelo Sábado Som, selo brasileiro dos anos setenta. Um deles, o Dschinn, eu arrumei com um sujeito fora do Brasil, todas as cópias que achava por aqui estavam absurdamente caras ou eu chegava tarde demais e já tinham sido vendidas.

RS - Tem algum disco que passou pela sua mão e você se arrepende até hoje de não ter ficado com ele?

MC - Me arrependo de ter trocado meus LPs por CDs quando houve o boom do formato digital. Ainda bem que, senão todas, pelo menos boa parte das pepitas eu consegui novamente.

RS - Em que ordem você guarda os seus discos?

MC - Procuro manter mais ou menos em ordem alfabética, mas na prática meio que enfio no primeiro lugar que couber (risos).

RS - Onde você costuma comprar discos?

MC - O eBay é imbatível, mas há lojistas especializados aqui no Brasil, como o Ray (Blue Sonic/SP) que consegue qualquer coisa, e o Cláudio Fonzi (Renaissance/RJ), que sempre tem bons preços.

RS - Qual o selo que mais te impressiona?

MC - Os bootlegs, cujo selo é totalmente branco (risos).

RS - E a melhor prensagem de disco de vinil, qual é?

MC - Acho que depende do disco em si. Veja o caso destes discos de 180 gramas da Akarma: alguns títulos são maravilhosos, outros são meio fraquinhos. Aqui mesmo no Brasil temos discos dos anos setenta que possuem qualidade muito boa, caso do Sweet Fanny Adams, Goodthunder, etc. Por outro lado, há títulos japoneses e europeus que são terríveis – por exemplo: a versão nipônica do E Pluribus Funk do Grand Funk é uma lástima, o Steamhammer inglês é terrível, enfim.

RS - Como a sua esposa lida com essa sua paixão pelos discos? É solidária ou vive dando bronca?

MC - Ela me dá bronca por eu ser desleixado e não cuidar deles como deveria, já que o rock´n´roll nos uniu, afinal nos conhecemos num show do Bando do Velho Jack e depois liguei para ela a pretexto de levar uma gravação ao vivo do Free, que ela adora!

RS - A sua coleção tem fim? Vai chegar um dia em que você vai parar de comprar discos?

MC - Só deixarei de comprar quando alguém resolver me dar de presente tudo que eu quero!

RS - Quem será o herdeiro da sua coleção no futuro?

MC - A mesma pessoa que assumir as dívidas que eu deixarei (risos).


RS - Você possui um grande número de gravações ao vivo. Como funciona esse nicho de colecionadores, que trocam gravações raras com outras pessoas em todo o mundo? Qual o formato predominante nessas gravações?

MC - O que posso dizer é que se trata de um mundo à parte, com regras próprias e que, curiosamente, nunca foi muito disseminado no Brasil. Pra mim tudo começou quando comprei o Mudslide, LP bootleg do Led Zeppelin, com uma gravação de rádio do início de 1970. Fiquei impressionado com aquilo, até então tinha como objetivo ter TUDO, mas percebi que o buraco é bem mais embaixo. Além dos oficiais há muito, mas MUITO mais coisa por aí - respeito quem não curte, mas sem querer ser pedante, acho impossível conhecer a fundo a obra de um artista sem ouvir os seus concertos. E, como se não bastasse, descobri algum tempo depois que na realidade os bootlegs são apenas a ponta do iceberg, existe um mercado totalmente subterrâneo formado pelos colecionadores de gravações extra-oficiais em cassete ou fita de rolo, que trocam material entre si, prezando a integridade absoluta do registro sonoro tal qual foi realizado – antigamente as trocas eram feitas em fita K7, depois passou para CDR e hoje em dia se usa basicamente os torrents de arquivos em lossless, que não possuem perda, ao contrário dos MP3, que são considerados um palavrão neste meio, pois ao comprimir o áudio ele também apaga uma parte do arquivo.

O que acontece é que, ao contrário dos discos ao vivo oficiais, onde os overdubs muitas vezes imperam, estas gravações são, digamos, mais puras – eu, particularmente, não considero boa parte dos discos ao vivo oficiais como sendo legitimamente ao vivo, mas sim como colagens de material registrado ao vivo – alguns títulos descritos naquela edição especial da Poeira Zine de ao vivo não tem muita coisa...


RS - Então você considera que estes registros ao vivo "puros" são mais representativos que os de estúdio.

MC - Não é isto, não se trata de um ser melhor ou pior que o outro. Comparo discos de estúdio com cinema e gravações ao vivo com teatro, são coisas semelhantes, porém com algumas características diferentes. Numa a colagem/edição é fundamental, noutra o calor da performance/improvisação é o que faz a diferença.

RS - Mas se o músico acha que a performance teve seus defeitos, ele não teria o direito de consertar?

MC - Tudo bem, mas daí não é mais o registro de um show ao vivo legítimo. É que nem um jogador de futebol que quisesse consertar uma jogada para que ela aparecesse na TV, saca? (risos)

RS - Qual foi a sua última aquisição interessante, que você indicaria para os nossos leitores?

MC - Rapaz, nos últimos anos eu só tenho pego LPs com coisas das antigas, bootlegs ou gravações ao vivo. Serve uma das catorze versões em áudio e três em vídeo do show do Led no Arena 02? (risos)

RS - Serve (risos). Abração.

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