Brian Jones: o beatnik de Cheltenham


Por Marina de Campos e Rodrigo de Andrade
Os Armênios

Ele foi o líder fundador dos Rolling Stones. E se a banda se vale da mítica em torno da figura do rebelde marginal como a personificação dos ideais do rock’n’roll, a verdade é que Brian Jones nunca precisou encarnar tal papel. Desde o início ele foi um autêntico outsider.

Nascido em Cheltenham, no interior da Inglaterra, Lewis Brian Hopkin Jones era filho de uma professora de piano. Começou a tocar com 10 anos, aos 12 já era o clarinetista principal da orquestra de sua escola e com 15 já fazia dinheiro tocando saxofone todo fim de semana em uma banda de jazz. Como um autêntico beatnik, colocou o pé na estrada, fugindo de sua cidade natal aos 16 anos de idade. Escapava também da responsabilidade de ser pai, deixando sua namorada de 14 anos com um filho no colo. Viveu como mendigo por um período na Escandinávia, até que voltou para Londres, onde descobriu o blues e se integrou no circuito musical local, apresentando-se em inferninhos e cafés universitários.

Quando Mick Jagger e Kieth Richards o conheceram, em 1962, ficaram impressionados não apenas com a primeira execução de slide guitar que eles presenciavam, mas principalmente com aquele indivíduo loiro. Brian tinha a mesma idade que eles, tocava de maneira surpreendente, já havia passado por um sem número de bandas, vivia de sua arte, morava sozinho, tinha três filhos e nenhuma esposa, havia perdido o contato com a família e se metia em brigas frequentes, muitas vezes por furto. Parecia um personagem dos filmes de James Dean. Isso tudo enquanto Jagger e Richards ainda moravam com os pais!

Logo os Rolling Stones surgiram e tinham aquele marginal como figura de ponta. Com um QI de 137 - acima da média -, Brian tinha uma visão única sobre a música e uma facilidade impressionante para dominar, pelo autodidatismo, uma série de instrumentos. Se Mick Jagger passou meses tentando aprender a tocar gaita harmônica, Jones não precisou mais que meia hora. Enquanto o beatle George Harrison foi para Índia ter aulas de cítara com Ravi Shankar, Brian começou a tocar o instrumento sozinho. Era o responsável por trazer o toque de originalidade que diferençava sua banda de tantas outras que infestavam os inferninhos da Swinging London. Suas contribuições musicais nas composições dos Rolling Stones se tornavam referências citadas por artistas do porte de Eric Clapton, John Lennon, Ray Davies, Bob Dylan e Jimi Hendrix.


Mas não era nada fácil ser Brian Jones. Desde o início sofria fortes ataques dentro de seu próprio grupo, permanecendo em constante disputa pela liderança da banda. O controle da coisa começou a escapar de suas mãos quando o núcleo criativo das canções foi se centrando na dupla Jagger & Richards. Sentia-se inibido por tantos músicos de relevo o apontarem como o gênio do grupo, cobrando por suas contribuições. Aliado a tudo isso, há o triste fato dele ter sido um dependente químico - algo que debilitava a sua já frágil saúde -, e pela sua posição, vivia cercado de pessoas que lhe ofereciam todas as drogas disponíveis o tempo inteiro. Era outro fator que, emocionalmente, lhe deixava em frangalhos. Foi preso mais de uma vez por porte de drogas.

O outro ponto que lhe desestabilizava eram as mulheres. Jones tinha sérios problemas em lidar com o sexo oposto, e várias vezes foi acusado de agressão. O músico nunca superou a perda de seu grande amor - a atriz, modelo e bruxa Anita Pallenberg - para o colega de banda, Keith Richards.

Assim como sua ascensão, a queda de Brian foi meteórica. Afundado em drogas, desestabilizado emocionalmente, encrencado na justiça, o artista estava num estado em que não conseguia mais produzir. O golpe final foi a expulsão da própria banda que ele havia criado. No mês seguinte, no dia 03 de julho de 1969, Brian Jones foi encontrado morto, na piscina de sua casa, em circunstâncias até hoje não esclarecidas. No final do ano - 28 de novembro de 1969, exatos quarenta anos atrás - os Rolling Stones lançavam Let it Bleed, um impressionante disco de transição com as últimas contribuições de Brian no grupo e a obra símbolo de sua época.

Ao lado de outros gigantes lendários do rock que faleceram cedo demais, todos num curto espaço de tempo - Jimi Hendrix, Jim Morrison, Janis Joplin - Brian Jones se diferençava não só por ser inglês, mas se destacava por ter precedido e influenciado os demais.

Comentários

  1. Quero ver quem aqui vai dizer que o Brian Jones era inspirado nos Beatles

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.