Entrevista exclusiva - Rolando Castello Jr: o lendário batera da Patrulha do Espaço bate um papo com a Collector´s Room


Por Ricardo Seelig
Colecionador
(perguntas elaboradas por Ricardo Seelig e Marcelo Peixoto)

A Collector´s Room bateu um longo papo com um dos músicos mais respeitados do Brasil, líder da cultuada Patrulha do Espaço. Rolando Castello Jr falou de sua carreira, contou histórias perdidas no tempo e fez um relato, sincero e emocionante, do que é ser um músico de rock em nosso país.

Acomode-se na cadeira e curta com a gente!


Rolando, você é citado, frequentemente, não só aqui no Brasil mas também em várias partes do mundo, como um dos principais nomes da bateria no rock. Quais você acha que foram as suas principais contribuições para o instrumento, e como você se sente ao ver seu nome reconhecido dessa maneira?

Muito obrigado pelas palavras. Sinceramente, não sei quais seriam minhas maiores contribuições para o instrumento. Talvez eu tenha sido um arauto do uso de dois bumbos e um monte de tons, o que certamente obrigou, por meio da minha influência, um monte de bateristas a "se fuderem" para carregar e montar tanta tranqueira (risos).

Quais foram os músicos que o influenciaram quando você começou a se interessar pela bateria?

Em geral, quando me perguntam isso, sempre esqueço de um fato interessante: quando eu era menino e ainda nem pensava em tocar bateria, vi na TV um filme com o Sal Mineo sobre a vida e obra do grande baterista Gene Krupa e fiquei bem impressionado e motivado com o instrumento. Posteriormente ganhei um disco dele, então acho que minha primeira influência tenha sido o Gene Krupa.

Mas entrei no mundo da bateria e do rock capturado pelas melodias e bateria dos Beatles e, ao citar o Ringo Starr, de tabelinha tinha o grande Charlie Watts. Logo depois dessas primeiras influências fui totalmente influenciado pelo Keith Moon. A bem da verdade, temos que sacar que naquela época, meados dos anos 70, não havia muita informação e acesso ao que rolava lá fora, a não ser os bateras das bandas que emplacavam algum hit na rádio por aqui. Então, dentro desse contexto, fui fortemente influenciado pelo Carmine Appice, do Vanilla Fudge, que teve seu primeiro play lançado no Brasil naqueles tempos

Depois, lá por 68, recebi uma porrada na cachola que foi conhecer, de uma vez só e em um curto espaço de tempo, Ginger Baker, Mitch Mitchel e Jonh Bonhan. Então, posso dizer que esses foram os alicerces de meu aprendizado e minha maior influência inicial.

Na sua opinião, quem são os grandes nomes da bateria em todos os tempos, não só no rock, mas em todos os estilos?

Gene Krupa e Buddy Rich detonaram a bateria e a transformaram, assim como aos bateristas em solistas e estrelas do show bussines. Esses dois caras são fundamentais para a história da bateria, segundo minha ótica. O Joe Morello também foi muito importante ao gravar o solo de "Take Five" junto ao Dave Brubeck.

Já no rock tem dois caras fundamentais para a história desse ritmo: o Earl Palmer, que gravava com o Little Richards e outros pioneiros do rock - inclusive o John Bonhan chupou dele a introdução de "Rock and Roll", originalmente tocada na música "You Keep Knockin", do Little Richards; e o Hal Blaine, que gravou nove entre dez hits pop dos anos sessenta e foi o introdutor do uso de vários tom tons.

Continuando, segundo minha ótica, entre os grandes bateras de todos os tempos, fora os acima citados nas minhas influências, temos o Carl Palmer, Cozy Powel, Bill Bruford, Billy Cobham, Lenny White, Alphonse Mouzon, enfim, são muitos pra citar.

Aqui no Brasil, o Albino Infantozzi - que tocava rock pra caralho -; o Dartagnan do Som Beat, que era uma figuraça; o Nelson Pavão do Made foi uma grande influência em 69; o Hermínio do Loupha, que foi o primeiro batera que eu ouvi tocando com um instrumento importado, batera Gretch e pratos Zildjian, puta som; e o Dudu França que tocava no Colt 45, a primeira vez que ouvi um som de Ludwig ao vivo - simplesmente foi lindo.

Agora, minha maior influência foi um baterista anônimo chamado Toninho, com mais experiência e que morava perto de minha casa e que, gentilmente, foi até a minha casa e me ensinou minha primeira levada de rock interessante.

E atualmente, quem se destaca no instrumento?

Olha, sinceramente faz tempo que parei de procurar e ouvir a última sensação do momento. Realmente não acompanho mais o que está rolando, a não ser quando entro no YouTube e vejo um monte de caras detonando o instrumento. É muita gente tocando bem, o padrão hoje em dia está elevadíssimo, então acabo ficando com meus bateras velhinhos que acompanho já há tanto tempo e ainda não consegui assimilar tudo o que eles tem para ensinar.

Como rolou a sua entrada no Made in Brazil e como foi o período em que você esteve no grupo?

Eu já era amigo da galera do Made, desde 1968 ou 1969, não recordo ao certo, portanto nessa época ia a todos os shows deles e também frequentava os ensaios na Rua Caraíbas, na Pompéia. Depois fui morar no México e perdemos contato. Quando voltei ao Brasil montei uma banda com o Tony Medeiros, o famoso Babalú. Posteriormente ele foi tocar no Made e foi ele que me fez o convite de entrar na banda.

Foi uma época deliciosa e de muito trabalho, ademais o Made estava com uma ótima estrutura empresarial e eram contratados de uma grande gravadora. Ensaiávamos todos os dias, tocávamos todos os finais de semana e passamos um bom tempo gravando o primeiro disco da banda. Fora isso tinha todo o trampo de divulgação, então sempre estávamos indo a entrevistas, televisão e tudo mais. Acho que durante o tempo que estive no Made não tive um dia de folga, minha vida era a banda e o trabalho.


E o contato com o Arnaldo Baptista para a formação da Patrulha, como aconteceu?

Nessa época eu estava morando e tocando na Argentina, com o Aeroblus. Em uma ocasião voltei ao Brasil, pois o Pappo estava em lua de mel e o disco estava para sair. Ao chegar aqui não queria ficar sem tocar, então procurei o Kokinho para a gente fazer um som. A ideia era convidar o Luis Chagas para a guitarra, mas nesse meio tempo o Arnaldo procurou o Kokinho e ofereceu a ele o lance de tocar na Patrulha. Portanto, o Kokinho me procurou, contou a história e me ofereceu o posto de batera. Aceitei na hora por ser grande fã do Arnaldo, e acabei nem voltando para a Argentina.

O disco que vocês gravaram ao lado do Arnaldo, Faremos uma Noitada Excelente, de 1978, é venerado até hoje por uma parcela considerável de fãs. A que você acha que se deve tamanho culto?

Para falar a verdade esse disco é totalmente ‘non sense’, porque nem foi gravado para ser um disco, foi apenas a gravação de um show para termos como referência ou recordação daquele momento. Em verdade, acho que a força desse trabalho reside nas canções do Arnaldo. Era um material poderoso, canções ótimas, com boas letras e bons arranjos, que são melhor apreciadas no disco Elo Perdido, ainda que na edição original faltem quatro músicas que gravamos e não saíram no LP, mas que a galera conhece, pois estão por aí na net.

Como é típico aqui da terrinha o desleixo com a arte, esse material, que nunca foi propriamente mixado, não existe mais em 16 canais, então não é possível resgatá-lo e mixá-lo dignamente. Para vocês terem uma ideia, hoje quando ouço as canções e a gravação fico pasmo, até mais que na época, com a ignorância e falta de consideração para com esse trabalho pelos geniais produtores artísticos das gravadoras, que cagaram em cima desse trabalho tão bonito e honesto do Arnaldo e da Patrulha. Enfim, coisas do Brasil.

Mas voltando a sua pergunta, devo somente agradecer aos ouvidos e corações educados e cultos que sabem admirar e gostar desse trabalho, do qual tanto me orgulho e que me deu um enorme prazer em poder participar ao lado desse grande homem e gênio que é o Arnaldo, em uma ótima fase criativa de sua vida.


Como é o seu dia-a-dia, já que você gerencia praticamente sozinho a nave Patrulha, sendo o "faz tudo" da banda?

Pra falar a verdade é um horror, esse lance de matar um leão por dia é coisa para o Jim das Selvas. Confesso que ando bastante cansado dessa função, pois tenho que lidar com um monte de gente completamente despreparada para as inúmeras funções e tarefas do show bussines.

Então, perco um puta tempo lidando com isso que é absolutamente desgastante. Manter uma banda na ativa e na estrada é um trabalho por vezes burocrático, cansativo e estressante, com o agravante de que, ao contrário de um emprego digamos normal, você não tem horário a cumprir, o trabalho não tem hora pra começar e muito menos para terminar, são horas e horas intermináveis resolvendo os problemas inerentes ao trampo. Ademais, se você vai fazer digamos 19 shows em cidades diferentes, você tem que lidar com aproximadamente umas 30 pessoas em diferentes situações e funções, o que é deveras desgastante, um trabalho solitário e que não acaba quando você entra no ônibus da banda, ele continua em movimento continuo e estressante.

Não recomendo isso a ninguém, principalmente se o cara também é músico, pois a dictomia é enorme. Para você ter uma ideia, nessa última incursão que fizemos ao sul, agora em junho, voltei com um monte de cabelos brancos - e não é linguagem figurada, é a mais pura realidade.

Na sua opinião, qual a importância e que papel a Patrulha do Espaço teve, e ainda tem, na evolução, desenvolvimento e história do rock brasileiro?

Bom, essa é uma questão bem complicada, primeiro porque quando começamos com o Arnaldo não pensamos que estávamos começando a escrever uma página da história do rock brasileiro - e, porque não, da música brasileira. Naquele momento, o única coisa que queríamos era tocar bem as canções e fazer alguns shows onde fosse possível.

Posteriormente, quando seguimos sem o Arnaldo, também não tínhamos noção de que estávamos fazendo um verdadeiro trabalho de resistência com nosso rock bem mais pesado e cru do que rolava, pois estávamos nos estertores do rock progressivo, que praticamente dominava o mundo. Então, numa primeira instância, vejo que fomos os precursores do rock pesado no Brasil, principalmente nas apresentações ao vivo.

Outro fato significativo é que a Patrulha é a primeira banda de rock do Brasil a gravar e editar discos de forma independente, fato que não é sequer reconhecido por essa galera da Abrafin e seus festivais e movimentos, ditos independentes, então, nisso também a Patrulha tem uma importância histórica até os dias de hoje, ou seja, o fato de ser sempre uma banda outsider até mesmo para o movimento no qual a banda foi a primeira a desencadear e ser pioneira na questão.

Outro lance que acho importante é que quando a Patrulha apresentava-se em ginásios de esportes, estando totalmente fora da mídia, sempre levávamos bandas para abrir e tocar conosco, coisa que desde a tal explosão do rock Brasil, em meados dos anos 80, nenhuma banda o fez, ou por acaso alguém sabe que o Barão, Titãs, Paralamas, ou quem quer que seja, levaram bandas para abrir suas tours?

Resumindo, foram inúmeras ações de cunho e espírito estritamente rockeiro que a Patrulha realizou e realiza até hoje, e que configura uma eventual influência no movimento, mas vamos deixar bem claro que isso só é reconhecido apenas por uma minoria que realmente é rockeira de cepa e não de mentirinha. A Patrulha é algo para essa galera e não para os iluminados e poderosos sábios de plantão, que chegaram ontem mas estão instalados nas poltronas e cargos de formadores de opinião.

Ademais, e finalmente, acho que o melhor e maior legado da Patrulha seja o de só ter tido músicos bons e engajados com o rock.

Qual o seu disco preferido da Patrulha?

Não há apenas um disco preferido. Eu diria que seriam o Elo Perdido com o Arnaldo; o primeiro disco da Patrulha, conhecido como o álbum preto; o Patrulha 4; Patrulha 85; e Missão na Área 13. Sem dúvida são os mais significativos, não só pela música mas pelo momento e importância na história da banda.

Alguma previsão de novos lançamentos da Patrulha?

Sim, sempre há essa vontade e até temos algumas coisas já gravadas, mas devido ao mercado estar muito instável e difícil, não sei qual será o formato do CD, nem quando irá sair. Com certeza em 2010 deve sair algo, apesar de que a ideia no momento é focar o trabalho e recursos na produção de um DVD.

Na música atual existe alguma banda com uma relevância tão grande que irá ficar para a história, como os grupos dos anos sessenta e setenta?

Não sei se a pergunta é a nível nacional ou internacional, que são panoramas totalmente diferentes, então vou focar a nível nacional e digo que não.

Como você vê a indústria fonográfica nesses tempos de internet e MP3? Acha que tem salvação?

Que indústria? Graças a Deus a indústria fonográfica - ou seria pornográfica -, já não existe mais no Brasil e espero, sinceramente, que ela acabe de vez o mais breve possível. Esse bando de FDP que obrigaram nosso povo a retroceder culturalmente, nivelando por baixo, alienando e impondo música de baixíssimo nível para a população, criando um sistema corrupto de compra de espaço em rádios e televisão, cerceando completamente qualquer iniciativa cultural que possa fazer esse povo dormido despertar. Manipulam os corações e mentes de toda uma nação em prol de ganhar milhões, e foda-se a nação.

Viva a internet, viva o MP3, viva a democracia na música, viva a arte pela arte e a música livre desses charlatões canalhas.


Rolando, agora uma perguntinha de colecionador: quantos discos você tem?

Caro amigo, sinto se vou decepcioná-lo, mas já fui colecionador contumaz, tive uma linda e grande coleção de discos nos anos 70, discos que comprei na América, México e Argentina. Eu tinha tudo o que você possa imaginar, porém, para manter a banda funcionando, em dois momentos de minha vida vendi todos os meus discos. Mais recentemente, num momento de sufoco, até meu álbum do Aeroblus eu vendi.

Quais são, para você, os principais álbuns de rock and roll de todos os tempos?

Meet the Beatles, Revolver, Rubber Soul, Whos Next, Live at Leeds, Disraeli Gears, Eletric Layland, Led Zepelin 1 e 2, Physical Graffiti, Tarkus, Paranoid, Exile on Main Street, Band on the Run, Band of Gypsies e vários outros.

Não é bem rock, mas o álbum Spectrum, do Billy Cobham, é foda.


Voltando um pouco no tempo: como surgiu a ideia do projeto Aeroblus?

Aqui a história se repete. Quando entrei no Made eu vinha de uma viagem do México, quando fui tocar com o Arnaldo eu vinha da Argentina, e quando fui tocar no Aeroblus eu vinha de viagem dos Estados Unidos. Vendo isso agora em retrospecto, acho que eu deveria voltar a viajar mais. Então, logo depois que voltei da América, o Alejandro Medina me procurou e convidou para tocarmos junto com o Pappo e, assim, nasceu o Aeroblus.

Conte pra nós como foi a experiência de tocar ao lado do Pappo no Aeroblus. No que ele se diferenciava dos outros instrumentistas da época?

Tanto na época, como antes e depois, o grande diferencial do Pappo em relação aos outros músicos era o enorme talento e bom gosto dele nas seis cordas, ademais de ser um cara totalmente autêntico, na música e na vida. O Pappo era um guitarrista que tirava um puta som de guitarra, com um bom amplificar, uma Gibson, um cabo e mais nada.

Haver tocado com o Aeroblus foi um dos pontos altos de minha carreira. Tenho enorme orgulho e prazer em ouvir o disco que gravamos, e tínhamos outras canções muito boas em andamento que não chegaram a ser gravadas. Fizemos vários shows em Buenos Aires e ensaiávamos todos os dias, foi uma convivência muito legal mesmo e que me deu também a possibilidade de conhecer todos os grande músicos de rock da Argentina na época. Para mim, foi uma enorme conquista pessoal e musical.

E o Inox, como o grupo surgiu e qual foi a sua repercussão?

Bom, aqui eu não voltei de nenhuma viagem para isso acontecer (risos). Tudo começou porque eles precisavam de uma força para gravar uma demo e estavam sem batera, e então me procuraram. Como a Patrulha estava meio parada e eu já estava de saco cheio de empresariar a banda, acabei me envolvendo nesse projeto.

Rolando, o que você tem escutado atualmente? Alguma banda nova tem chamado a sua atenção?

Não querendo parecer alienado, mas não tenho ouvido nada novo. Ouvir o que? Radiohead, Oasis, nem sei o que tá rolando e, sinceramente, não me interessam. Infelizmente, para mim ouvir algo, seja lá o que for, existe uma condição básica de que os caras toquem bem e, a bem da verdade, tanto nas bandas gringas como nas nacionais atuais, os caras tocam mal pra caralho.

Meus padrões musicais e de bateristas são elevados, não ralei para tentar emular um Keith Moon, um Carmine Appice, pra ouvir os Marcelos Bonfás de lá e de cá tocando merda, socando a bateria e sendo elevados a potência de gênios. Sinceramente, não dá!

Como sou um produto legítimo dos anos 60 e 70, e nessa época o acesso a discos e imagens das bandas era praticamente impossível, hoje quando tenho tempo e estou a fim de curtir um som gasto meu tempo ouvindo e vendo o que não pude assistir em décadas de retrocesso e ditadura, principalmente cultural, aqui nos trópicos. Ou seja, ouço o som e vejo DVDs do passado.

Se há algo realmente de bom rolando hoje em dia, agradeço que alguém me apresente, irei ouvir com o maior prazer.

Um arrependimento e um orgulho.

Vou ser absolutamente sincero nessa resposta, inclusive porque recentemente, respondendo a uma pergunta em uma entrevista a revista Roadie Crew, minha resposta causou uma certa celeuma em alguns.

Então, se tenho um arrependimento e não é pequeno, sou obrigado a dizer isso com enorme dor interior, é o fato de não ter ido morar fora do Brasil e construir uma carreira lá fora, como dizem, ainda que o tenha feito no México e na Argentina em algum momento. Mas, sinceramente, eu deveria ter me estabelecido na América, Europa ou quem sabe no Canadá. Porque, ao contrário do que disse meu querido amigo Régis Tadeu, de quem devo discordar, não é balela o fato de que em outros países o rock e o show bussines funcionam muito melhor do que aqui. Havia e ainda deve haver um mercado de trabalho muito mais democrático e funcional. Ademais, sempre houve uma estrutura empresarial e um mercado realmente independente, estruturado, assim como rádios engajadas, com uma programação alternativa de qualidade e de verdade.

Inclusive, nesse bafafá que seguiu à minha entrevista, teve até um desavisado e desinformado total da realidade da música e do show bussines brasileiro que declarou que se o Rush fosse brasileiro teria o mesmo sucesso devido à qualidade de seu trabalho. Nunca ouvi uma besteira tão grande, porque posso garantir que se o Rush fosse brasileiro não teria acontecido absolutamente nada com eles. Que gravadora brasileira contrataria os caras nos anos 70? E se isso tivesse acontecido, eles teriam o mesmo fim que o Peso e o Som Nosso tiveram, só para citar dois exemplos. Acho que se o Rush fosse brasileiro e respeitando a cronologia deles como banda, arrisco dizer que o Neil Peart e o Alex Lifeson iam estar dando aula em alguma escola e tocando em algum buteco - cover, é claro - nos finais de semana, e o Geddy Lee ia estar acompanhado algum canário ou dupla sertaneja para sobreviver.

Então, meu maior arrependimento foi não ter emigrado quando eu era ainda jovem. Fiquei por aqui na batalha e paguei, e pago, o preço de, como dizia Rui Barbosa, "ver triunfarem as nulidades".

Quanto a um orgulho, seria o fato de ter ficado a não ter ido embora. Como dizia Torquato Neto, "ser homem é não cortar o cabelo quando a barra pesa".

Hoje em dia a galera tem o tal movimento independente, instrumentos bons em qualquer loja de qualquer cidade do país, gravar um CD e tocar no circuito de bares underground em todo país é uma realidade para a molecada que está começando, o cara tem escolas de música, livros, revistas, CDs, DVDs, pode baixar, gravar, ler e se comunicar com o mundo inteiro sentado à frente de um computador e ninguém mais vai ser preso, ou humilhado na rua, por ser diferente ou usar o cabelo comprido.

Mas nem sempre foi assim. E quando não era assim, quando apenas alguns poucos ainda acreditavam e não foram embora como tantos o fizeram e ficaram se arriscando, dando a cara pra bater e ralando na estrada por algo em que acreditavam e amavam como o rock and roll, contra tudo e contra todos, eu estava lá com esses poucos, construindo, pavimentando, com o meu suor e minhas lágrimas, junto à memoráveis e dignos companheiros de luta, na estrada por onde hoje trafegam faceiros as estrelas do rock nacional, em seus bólidos que foram abastecidos pelo jabá.

Então, arrependimento eu tenho de ter ficado, e o maior orgulho o de também ter ficado.


Valeu Rolando, paz pra você e saiba que, ainda que a Patrulha nunca tenha tido um estouro comercial gigantesco, você possui aquilo que muitos músicos lutam a vida inteira pra conseguir e apenas poucos alcançam: credibilidade e respeito, tanto dos fãs como de seus colegas. Abração e obrigado por conceder essa entrevista para a Collector´s Room.

Comentários

  1. Só faltou um "L" no Castelo.
    a matéria está boa! Rolando é uma grande pessoa!! um grande abraço de um grande fã!

    Yuri Vasselai - Curitiba- Pr

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  2. Muito boa a entrevista. O cara falou coisas que muita gente do rock nacional fica tentando maquiar para não mostrar que em relação ao rock o Brasil está bem atrás de outros países.

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  3. Cara...oque preocupa é que não é só no rock que nacionalmente nós estamos com uma carencia de grandes artistas...é na MPB, no POP, no samba... certamente os grandes nomes ainda existem...mas não vem a publico...ficam escondidos....ou sou só eu que acha Ana Carolina, Zélia Duncan ... e outros interpretes bem medianas...

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  4. Cara, o próprio dono do álbum ter que vender o Aeroblus para poder se sustentar é de chorar. Parabéns pela entrevista com esse que é um dos cara mais simpáticos e queridos do nosso rock brazuca

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  5. É ISSO AI QUEM CONHECE A LUTA DESTE MESTRE SABE COMO É DIFICIL TER UMA BANDA DE ROCK VERDADEIRA NESSE BRASIL DE FUNK,RAP E MERDAS AFINS SALVE ETERNAMENTE A PATRULHA

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  6. Rolando disse tudo, as usual.
    Heading to the hard and heavy European east, my friend, let's go !
    Abção

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  7. Estou muito orgulhoso, por ter contribuido com alguma informação musical a este grande batera.

    Herminio (LOUPHA)
    Email: herminoreis@yahoo.com.br

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