Filmes sobre Música: Durval Discos (2002)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Durval Discos é um ótimo exemplo de um filme que tinha tudo para ser muito interessante, mas que se revela um exercício estilístico sem pé nem cabeça, que joga no lixo uma ideia que tinha tudo para dar muito certo.

Vendido como uma espécie de Alta Fidelidade tupiniquim (uma alusão ao ótimo filme do diretor inglês Stephen Frears, baseado no livro homônimo de Nick Hornby), Durval Discos conta a história do simpático Durval, um bolha paulistano padrão, dono de uma loja de discos usados, colecionador e amante dos LPs, e que, como não poderia deixar de ser, mora com a mãe.


O problema é que o roteiro da também diretora Anna Muylaert escorrega ladeira abaixo em clichês pseudo-intelectuais, com a história caminhando para um caminho teoricamente insólito a partir do momento em que a diretora/roteirista decide, equivocadamente, inserir uma menina sequestrada na vida de Durval e sua mãe. A partir daí o filme tenta entrar em uma espécie de realismo fantástico que, na verdade, soa constrangedor, tanto pela sequência de cenas absurdas tanto pelo modo como elas são contadas.

Não há problema algum em trilhar esse caminho, desde que você saiba onde está pisando. E Anna Muylaert dá provas, frame após frame, que não faz a menor ideia por onde anda. Adoro o realismo fantástico, tanto que tenho o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez, como uma das minhas obras favoritas de todos os tempos, mas é inegável que, na ânsia de tentar fazer um filme diferenciado, Muylaert escorregou feio nos clichês cinematográficos brasileiros, que durante décadas dominaram a produção nacional e apenas recentemente, com obras-primas como Cidade de Deus, passaram a ser superados e devidamente ignorados.


Durval Discos tinha tudo para ser uma pequena jóia, uma história cativante de um colecionador e sua relação com seus discos. Ao invés disso, revela-se um filme sem pé nem cabeça, com um roteiro tão bobo que não emplacaria nem uma modesta novela das sete.

Pelo menos a trilha sonora se salva, com várias canções emblemáticas da música brasileira dos anos setenta, como "Mestre Jonas" com Sá Rodrix e Guarabyra, "Maracatu Atômico" e "Back in Bahia" com Gilberto Gil, "Ovelha Negra" com Rita Lee, "Besta é Tu" com Os Novos Baianos e "Xica da Silva" com Jorge Ben, entre outras.

A trilha é maravilhosa, mas o filme é uma verdadeira bomba. Infelizmente, esse é o resultado final de
Durval Discos, o que é uma pena.


Tracklist da trilha de Durval Discos:

1. Mestre Jonas - Os Mulheres Negras

2. Que Maravilha - Jorge Ben

3. Maracatu Atômico - Gilberto Gil

4. Madalena - Elis Regina

5. Irene - Caetano Veloso

6. Ovelha Negra - Rita Lee

7. Back in Bahia - Gilberto Gil

8. Alfômega - Caetano Veloso

9. Besta é Tu - Novos Baianos

10. Xica da Silva - Jorge Ben

11. London, London - Gal Costa

12. Pérola Negra - Luiz Melodia

13. Mestre Jonas - Sá, Rodrix e Guarabyra

Leia também: Filmes sobre Música: Alta Fidelidade (2000)

Comentários

  1. Cadão, realmente o filme começa bem e depois desanda em uma loucura sem sentido nenhum. Mas mesmo assim eu gosto. E a trilha sonora é sensacional. Só pérolas da música brasileira.

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  2. Marcelo, você sabe se a trilha ainda está em catálogo?

    Abraço.

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  3. Acho que não, nunca mais vi em nenhuma loja. Trilha sonora normalmente fica pouco tempo em catálogo.

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  4. Concordo em gênero, número e grau com vc Cadão! Começa bem, mas depois...a trilha é sensacional!
    Abraço!
    Ronaldo

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  5. Ricardo,

    Não vai acreditar! Mas eu adoro esse filme, rs!

    Acho uma peça surrealista!

    Sem falar na música...

    A cena da garotinha sentada num cavalo, dentro do quarto, passando sangue da defunta na parede com uma vassoura poderia ser uma capa de um disco dos anos 60.

    Loucura total!

    Abraço,

    Vitor
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  6. Fico confortado de que não somente eu ficou completamente desapontado com esse filme, mas outros também. Ele toma um caminho sem rumo, perdeu-se mesmo nos clichés como mencionado no texto do post, fora a cena do cavalo, que é bem 'chupada' das idéias de Fellini...Uma pena, realmente...

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