Mofo: Iron Maiden - Parte I


Por Rubens Leme da Costa
Colecionador

Qual a maior banda de heavy metal de todos os tempos? Uma questão difícil de ser respondida, mas se você apontar o Iron Maiden haverá pouca contestação. Isso porque a banda formada pelo baixista e compositor Steve Harris está há mais de trinta anos na estrada arrebatando fãs de todas as partes do planeta e sempre renovando a audiência. Apesar de várias formações ao longo dos anos, o grupo sempre teve no baixista e no vocalista Bruce Dickinson as maiores estrelas da companhia. Mas, antes de entrarmos na fase do vocalista, é preciso começar a contar lá atrás, quando Paul Dianno era a voz principal e o Iron ainda dava seus primeiros passos.

A história do Iron Maiden começa quando um jovem baixista de nome Stephen Percy Harris, nascido em 12 de março de 1956, em Leytonstone, Londres, resolve fundar um grupo após deixar bandas como o Gypsy’s Kiss e o Smiler.

Como todo e qualquer garoto, Steve sonhava em jogar futebol e tentou a sorte no seu clube do coração, o West Ham. Steve, porém, acabou vingando mesmo foi como músico. Aos 17 anos comprou, por apenas 40 libras, seu primeiro baixo, um Fender Precision Bass.

Em 1972 Harris resolve montar uma banda ao lado do amigo e guitarrista Dave Smith. Nascia o Gypsy’s Kiss, de curta duração. A banda consistia, além dos dois, em Bob Verschoyle (voz) e Tim Wotsit (bateria). Steve deixa logo depois o grupo e entra para o Smiler, com Doug Samson (bateria), Mike Clee (guitarra), Tony Clee (guitarra) e Denis Wilcock (vocal).

Steve tinha vários ídolos, entre eles Phil Lynott (Thin Lizzy), Chris Squire (Yes), Geezer Butler (Black Sabbath), John Entwistle (The Who), Geddy Lee (Rush), John Paul Jones (Led Zeppelin), Mike Rutherford (Genesis), entre outros.

Mas a vida no Smiler também foi curta e, de certa forma, frustrante, pois Harris era muito mais jovem que os demais integrantes, que não iam muito com a cara daquele menino, que ficava se mexendo demais no palco e escrevendo suas próprias composições.

Com muita vontade, resolveu montar uma nova banda, a qual batizou de Iron Maiden (Donzela de Ferro), um instrumento de tortura medieval onde uma pessoa era colocada dentro de uma espécie de sarcófago, com vários pregos e lancetas, de vários tamanhos. Dependendo do efeito desejado, o número de pregos e lancetas variavam. Depois de fechada, a pessoa começava a ser perfurada e sangrava lentamente até morrer. Isso poderia levar vários dias, às vezes mais de uma semana. Algumas contavam de uma manivela, para intensificar o aumento das perfurações. Harris diz que tirou o nome após ler o livro de Alexandre Dumas,
O Homem da Máscara de Ferro.

Apaixonado por mitologia e histórias de terror, Harris começa a compor. A primeira formação do Iron Maiden constava de Paul Day como vocalista, Dave Sullivan (guitarra), Terry Rance (segunda guitarra) e o baterista Ron Matthews. Paul Day pouco ficou e logo entrou Dennis Wilcock, ex-Smiler. E, através de Dennis, Steve conheceu um outro guitarrista, que seria o mais longevo membro do Iron Maiden, além do próprio baixista: o guitarrista Dave Murray. Murray cobria a lacuna, pois Steve estava decepcionado com os dois guitarristas.

David Michael Murray nasceu em Edmonton, Londres, no dia 23 de dezembro de 1956, e era um guitarrista apaixonado pelo instrumento, estudando cerca de sete horas por dia. Entre várias bandas no início destacava-se o Stone Free, que tinha outro guitarrista muito famoso entre os fãs do Maiden: Adrian Smith.

Com Murray em uma das guitarras, é recrutado outro instrumentista, Bob Sawyer. Mas Bob criou uma briga entre Dennis e Dave, e Harris resolveu demitir os dois guitarristas. Após um desastroso show em Bridgehouse em novembro de 1977, Harris ficou desesperado e resolveu chamar novamente Dave Murray, demitindo o vocalista, além do tecladista Tony Moore, do guitarrista Terry Wapram e do baterista Barry Purkis, que haviam tocado no show. Para o posto de baterista é convocado Doug Sampson.

A banda saiu em busca de um novo vocalista e o escolhido foi Paul Andrews, conhecido como Paul Di'Anno, nascido em 17 de maio de 1958, em Chingford, Londres, e com experiência mais com punk e reggae. O primeiro show com Paul aconteceu no dia 31 de dezembro de 1977, no Ruskin Arms Pub. O repertório já incluía clássicos como "Iron Maiden" e "Prowler", e o grupo foi bem recebido.


O então quarteto - Steve Harris, Paul, Dave Murray e Doug Sampson - já tinha um ano de estrada quando resolveram, novamente em um 31 de dezembro, mas agora de 1978, registrar a primeira gravação do grupo. Vão até o estúdio Cambridge Spaceward e gravam uma demo com as canções "‘Iron Maiden", "Invasion" e "Prowler". A demo ficaria conhecida como
The Soundhouse Tapes e cerca de 5 mil cópias são comercializadas em poucas semanas.

Uma dessas demos cai na mão do DJ Neil Key, que fica impressionado com a boa qualidade técnica das gravações e dos músicos. Key era dono do clube The Soundhouse e fez do Iron presença frequente. Um EP é editado com esse nome em 1979, contendo as músicas, pelo selo Hard Rock Records. Havia também uma quarta composição - "Strange World" - mas Harris não gostou da gravação. Nessa época o grupo já contava com uma figura fundamental para a banda, o empresário Rod Smallwood.

O grupo sente que precisa de um segundo guitarrista e começam as audições. O Maiden já começava a ter nome, já que o EP conseguira, em duas edições, vender mais de 15 mil cópias. O escolhido para a segunda guitarra é Paul Cairns. Cairns pouco tempo ficou, passando ainda Paul Todd e Tony Parsons, até se fixarem com Dennis Stratton.

Stratton não era a primeira opção, já que Dave queria o velho amigo Adrian Smith, mas Smith preferiu ficar no grupo Urchin, embora não por muito tempo. Doug Sampson também deixou o posto, entrando o baterista Clive Burr. Com Burr, Stratton, mais Steve Harris, Paul Di'Anno e Dave Murray, consolida-se a primeira formação do Iron Maiden.


O grupo é convidado para participar da coletânea
Metal for Muthas, que reunia as novas bandas do movimento conhecido como New Wave of British Heavy Metal. O Iron Maiden comparece com duas faixas - "Sanctuary" e "Wrathchild". A coletânea reunia nomes como Samsom (de onde viria o vocalista Bruce Dickinson), Angel Witch, Sledgehammer e Nutz, e fez tanto sucesso que acabou tendo um segundo volume.

As duas coletâneas traziam os seguintes artistas e canções:

Volume I

1. Iron Maiden - "Sanctuary"
2. Sledgehammer - "Sledgehammer"
3. E.F. Band - "Fighting for Rock and Roll"
4. Toad the Wet Sprocket - "Blues in A"
5. Praying Mantis - "Captured City"
6. Ethel the Frog - "Fight Back"
7. Angel Witch - "Baphomet"
8. Iron Maiden - "Wrathchild"
9. Samson - "Tomorrow or Yesterday"
10. Nutz - "Bootliggers"

Volume II

1. Trespass - "One Of These Days"
2. Eazy Money - "Telephone Man"
3. Xero - "Cutting Loose"
4. White Spirit - "High Upon High"
5. Dark Star - "Lady Of Mars"
6. Horsepower - "You Give Me Candy"
7. Red Alert - "Open Heart"
8. Chevy - "Chevy"
9. The Raid - "Hard Lines" (Jameson Raid)
10. Trespass - "Storm Child" [2]


Enquanto a coletânea era editada, Rod Smallwood fecha contrato com a EMI, que resolve lançar o primeiro LP do grupo,
Iron Maiden, em 14 de abril de 1980. O disco teve ótima vendagem, chegando ao quarto posto da parada britânica, e consolidou o nome da banda, além de trazer clássicos como "Iron Maiden", Running Free" e "Prowler". Merece um destaque especial a capa feita por um dos mais estáveis colaboradores do Maiden ao longo dos anos, o desenhista Derek Riggs.

O grupo já tinha conseguido um feito ao se apresentar no programa
Top of the Pops tocando ao vivo, fato que não acontecia desde 1973, quando o The Who lá se apresentou.

As gravações foram conduzidas pelo produtor Will Malone e contaram com um ótimo trabalho de Dennis Stratton, que juntou-se aos demais poucas semanas antes de começarem as sessões.

Apesar do sucesso em solo inglês o disco passou quase batido na América e, além disso, teve a ordem das músicas mudadas. Veja como eram as edições inglesa e norte-americana:

Edição inglesa:

Lado A

1. "Prowler" – 3:55
2. "Remember Tomorrow" (Paul Di'Anno, Harris) – 5:27
3. "Running Free" (Di'Anno, Harris) – 3:17
4. "Phantom of the Opera" – 7:20

Lado B

1. "Transylvania" – 4:05
2. "Strange World" – 5:45
3. "Charlotte the Harlot" (Dave Murray) – 4:12
4. "Iron Maiden" – 3:35

Edição norte-americana:

Lado A

1. "Prowler" – 3:52
2. "Remember Tomorrow" (Paul Di'Anno, Harris) – 5:27
3. "Running Free" (Di'Anno, Harris) – 3:14
4. "Phantom of the Opera" – 7:20

Lado B

1. "Transylvania" – 4:19
2. "Strange World" – 5:40
3. "Sanctuary" (Dave Murray, Di'Anno, Harris) – 3:12
4. "Charlotte the Harlot" (Murray) – 4:10
5. "Iron Maiden" – 3:31

Ao ser lançado em CD, o álbum trazia as seguintes faixas:

1. "Prowler" – 3:56
2. "Sanctuary" (Dave Murray, Paul Di'Anno, Harris) – 3:16
3. "Remember Tomorrow" (Di'Anno, Harris) – 5:27
4. "Running Free" (Di'Anno, Harris) – 3:17
5. "Phantom of the Opera" – 7:07
6. "Transylvania" – 4:19
7. "Strange World" – 5:32
8. "Charlotte the Harlot" (Murray) – 4:12
9. "Iron Maiden" – 3:38


Após tocarem no festival de Reading, em agosto, o grupo acaba sendo convidado para abrir a turnê britânica do Kiss, enquanto edita vários compactos, casos de "Running Free" e "Sanctuary".


Além desses, lançam "Women in Uniform", cuja capa fazia uma paródia com a Dama de Ferrodo governo britânico, Margaret Thatcher, com uma arma pronta a atacar Eddie, a figura que seria retratada em todas as capas do grupo. A música acabou não entrando em nenhum LP e a capa causou uma grande polêmica.

A turnê com o Kiss marca a saída de Stratton e a entrada de Adrian Smith, em outubro de 1980. Adrian Frederik Smith, nasceu em Hackney, Londres, no dia 27 de fevereiro de 1957 e, com ele, começa a segunda formação clássica do grupo.


Com a nova formação é editado, em fevereiro de 1981, o disco
Killers, onde Eddie aparece com uma machadinha na mão ensaguentada enquanto um corpo puxa sua camisa, morto. O álbum marca também a estreia de outro grande colaborador do Iron ao longo dos anos, o produtor Martin Birch. Destaque para as faixas "Wrathchild" e "Prodigal Son".

O LP foi editado apenas em junho de 1981 nos Estados Unidos e, novamente, as duas edições eram diferentes. Vejam as faixas de cada uma:

Edição inglesa:

Lado A

1. "The Ides of March" – 1:46
2. "Wrathchild" – 2:54
3. "Murders in the Rue Morgue" – 4:18
4. "Another Life" – 3:22
5. "Genghis Khan" – 3:06

Lado B

1. "Innocent Exile" – 3:53
2. "Killers" (Paul Di'Anno, Harris) – 5:01
3. "Prodigal Son" – 6:11
4. "Purgatory" – 3:20
5. "Drifter" – 4:48

Edição norte-americana:

Lado A

1. "The Ides of March" – 1:45
2. "Wrathchild" – 2:54
3. "Murders in the Rue Morgue" – 4:19
4. "Another Life" – 3:22
5. "Genghis Khan" – 3:06
6. "Innocent Exile" – 3:53

Lado B

1. "Killers" (Di'Anno, Harris) – 5:01
2. "Twilight Zone" (Dave Murray, Harris) – 2:34
3. "Prodigal Son" – 6:11
4. "Purgatory" – 3:21
5. "Drifter" – 4:48

Em CD:

1. "The Ides of March" – 1:45
2. "Wrathchild" – 2:54
3. "Murders in the Rue Morgue" – 4:19
4. "Another Life" – 3:22
5. "Genghis Khan" – 3:06
6. "Innocent Exile" – 3:53
7. "Killers" (Di'Anno, Harris) – 5:01
8. "Prodigal Son" – 6:11
9. "Purgatory" – 3:21
10. "Twilight Zone" (Murray, Harris) – 2:34
11. "Drifter" – 4:48


Após o lançamento são editados dois compactos, "Twilight Zone" e "Purgatory", e o grupo sai para uma gigantesca turnê mundial com mais de 120 shows e a primeira turnê no Japão, além de varrerem a Europa e os Estados Unidos. A tour marca o fim de Di'Anno no Maiden.

Com um comportamento agressivo e auto-destrutivo, potencializado pelo uso de cocaína, o vocalista é dispensado após sua voz falhar em vários shows. Sem ele, a banda conheceria uma nova vida com a chegada de uma figura fundamental para o grupo: Bruce Dickinson. Mas isso é papo para outro dia.

Um abraço e até a próxima coluna.

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