Travelling Wilburys, a superbanda


Por Maurício Rigotto
Colecionador e Escritor

No final dos anos oitenta, uma superbanda foi formada por mero acaso, sem nenhum planejamento, em uma informal reunião de amigos. Tudo começou com o ex-guitarrista dos Beatles, George Harrison, que lançou no final de 1987 o excelente disco Cloud Nine, cinco anos após o seu pouco inspirado LP Gone Troppo. A pedido da gravadora Warner Bros., George resolveu lançar um compacto com “This is Love”, uma das faixas do disco, mas quis gravar uma música inédita para o lado B do single.

Embora ainda não tivesse uma canção pronta para usar como lado B do compacto, George chamou o produtor do álbum, Jeff Lynne, ex-líder das bandas The Move e Electric Light Orchestra, para auxiliá-lo na gravação. Jeff Lynne a essa altura estava produzindo o disco Full Moon Fever do roqueiro Tom Petty, o primeiro do músico sem a banda que sempre o acompanhou, The Heartbreakers. Jeff Lynne encontrou George e disse que para gravar com ele teria que passar antes na casa de Tom Petty, pois havia esquecido lá a sua guitarra. George e Jeff rumaram juntos para a casa de Tom Petty e quando lá chegaram encontraram Tom tocando com Roy Orbison, pois Tom Petty, assim como Jeff Lynne, iria ser um dos co-produtores do álbum Mystery Girl, que marcaria o retorno de Roy Orbison as paradas de sucesso. Amigo de George desde que excursionou com os Beatles em 1963, Roy Orbison foi convidado para a gravação, assim como Tom Petty.

Restava agora encontrar um bom estúdio disponível. George telefonou para Bob Dylan, seu antigo amigo e parceiro, para perguntar se poderiam usar o seu estúdio em Malibu, na Califórnia. Bob Dylan, que havia encerrado naquele mês uma turnê ao lado do Grateful Dead e que no ano anterior havia feito uma grande turnê com Tom Petty & The Heartbreakers, respondeu afirmativamente, desde que ele também participasse da junção.


Reunidos em Malibu, Dylan, Harrison, Orbison, Lynne e Petty, juntamente com o veterano baterista Jim Keltner, relaxavam bebendo cervejas no jardim, ainda sem saber o que gravar, quando George avistou uma caixa na garagem de Dylan com os dizeres “handle with care”. Imediatamente surgiu a inspiração e George pegou o violão e compôs “Handle With Care”. Gravaram a canção com todos se revezando nos vocais e o resultado ficou tão bom que desistiram do single e resolveram gravar um álbum inteiro em dez dias, pois Dylan logo voltaria para a estrada.

Todos os integrantes colaboraram com as composições, e em uma semana estavam prontas as ótimas canções “Last Night”, “End of the Line”, “Margarita”, “Congratulations” e outras. Faltava um nome para a banda. George sugeriu Trembling Wilburys, inspirado em um termo que ele e Jeff usaram durante a gravação de Cloud Nine: “We’ll bury them in the mix”, algo como “Nós enterraremos tudo na mixagem”. Jeff contrapôs: “Que tal Traveling Wilburys?”. Todos concordaram.

Dizem que o grupo chegou a se apresentar em um clube minúsculo, com capacidade para setecentas pessoas e com menos da metade dos ingressos vendidos, pois o cartaz anunciava apenas “Traveling Wilburys” e poucos sortudos se animaram a sair de suas casas para assistir uma banda que ninguém nunca tinha ouvido falar. Imaginem que grata surpresa tiveram quando a banda subiu ao palco!


Em outubro de 1988 foi lançado o disco Traveling Wilburys Volume 1, quase simultaneamente ao lançamento dos discos de Roy Orbison e Tom Petty. No encarte, a banda aparece com os pseudônimos: Nelson Wilbury (George Harrison), Lefty Wilbury (Roy Orbison), Otis Wilbury (Jeff Lynne), Charlie T. Wilbury Jr. (Tom Petty) e Lucky Wilbury (Bob Dylan). O disco foi muito bem recebido pela crítica e pelo público, mas durante a divulgação, no dia 06 de dezembro, Roy Orbison morreu repentinamente, fulminado por um ataque cardíaco aos 52 anos.


Em 1990 o grupo se reuniu para gravar o seu segundo disco. Chegaram a convidar o cantor e compositor Del Shannon para o lugar de Orbison, mas esse gentilmente recusou o convite, alegando ter outros planos. Alguns dias depois, Del Shannon cometeu suicídio. Especula-se que o grupo cogitou convidar Carl Perkins a se juntar a eles, mas acabaram concluindo que Roy Orbison era insubstituível e resolveram gravar apenas os quatro.


Curiosamente, o segundo disco do grupo chama-se Traveling Wilburys Volume 3, provavelmente como uma forma de homenagear o integrante falecido. George explicou o título com a sua tradicional ironia: “O nosso forte é a música, não a matemática.” O Vol 3 traz mais um apanhado de boas canções, como “Inside Out”, “She’s My Baby”, “The Devil’s Been Busy” e a divertidíssima “Wilbury Twist”. Embora creditadas a todos, a maioria das composições são de Bob Dylan e George Harrison. No disco, os integrantes ganharam novos pseudônimos: Spike Wilbury (George Harrison), Clayton Wilbury (Jeff Lynne), Muddy Wilbury (Tom Petty) e Boo Wilbury (Bob Dylan).


Como as carreiras solos continuavam a ser prioridade, o grupo se separou amigavelmente depois desse segundo disco. George Harrison, dono dos direitos dos dois álbuns, trabalhou em 2001 para o relançamento dos discos, acrescidos de faixas bônus e um DVD. George, que morreu no final daquele ano, não chegou a ver a bela caixa com dois CDs e um DVD que seu filho Dhanni e Tom Petty lançaram. O
Vol 1 veio acrescido das inéditas “Maxine”, cantada por George, e “Like a Ship”, cantada por Dylan. O Vol 3 trouxe como bônus “Nobody’s Child”, lançada apenas em um disco beneficente em 1990, e “Runaway”, lado B do single “She’s My Baby”, uma homenagem a Del Shannon. O DVD traz os cinco videoclipes lançados pela banda e o emocionante documentário The True History of The Traveling Wilburys.

Esse é o legado da superbanda Traveling Wilburys, um verdadeiro deleite para ouvidos exigentes.


Comentários

  1. A banda formada pelos ícones do rock é sublime, tenho a edição com os três cds e é algo fabuloso com belas canções de amor que até te fazem chorar...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.