A Firma


Maurício Rigotto
Escritor e Colecionador
Collector's Room

De tempos em tempos surgem bandas de rock formadas por membros que são notórios por já terem integrado grupos consagrados, o que imediatamente desperta um grande alarido na mídia e nos fãs, trazendo a nova banda aos holofotes antes mesmo que alguma música seja lançada. Os casos mais recentes são o Chickenfoot, formado por Sammy Hagar e Michael Anthony, ambos ex-Van Halen (nunca gostei dessa banda), pelo virtuoso guitarrista Joe Satriani e pelo baterista do Red Hot Chilli Peppers, Chad Smith; e Them Crooked Vultures, que tem em sua formação Josh Homme (Queens of the Stone Age/Eagles of Death Metal), Dave Grohl (Nirvana/Foo Fighters) e o lendário baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones. Essas bandas logo ganham a alcunha de “supergrupos”, mas será que basta colocar no mesmo time grandes músicos de renome para garantir a qualidade do novo projeto?

Em meados dos anos oitenta, ninguém menos que Jimmy Page e Paul Rodgers formaram uma banda juntos, e, surpreendentemente, o resultado foi desastroso. Considerado um dos melhores vocalistas de rock do mundo, Paul Rodgers surgiu em 1968 à frente do Free e fez sucesso mundial com a faixa “All Right Now”. Em 1973 o Free se desfez e Rodgers, que chegou a ser cogitado para substituir Ian Gillan no Deep Purple, formou o supergrupo Bad Company com o guitarrista do Mott the Hoople, Mick Ralphs, o baixista do King Crimson, Boz Burrel, e o baterista do Free, Simon Kirke. O Bad Company foi o primeiro grupo contratado pela Swan Song, o selo do Led Zeppelin, e fez sucesso com “Can’t Get Enough”, faixa de seu álbum de estreia. Rodgers permaneceu nessa banda até o início dos anos oitenta.

Jimmy Page já era um renomado e requisitado guitarrista de estúdio quando entrou em 1966 para os Yardbirds, um grupo de rock inglês que figurava entre os mais respeitados do mundo e por onde já haviam passado os mestres da guitarra Eric Clapton e Jeff Beck. Com a dissolução da banda dois anos depois, Jimmy Page fundou o Led Zeppelin, grupo que até hoje é considerado como um dos melhores e mais importantes que já existiu.

Naturalmente, quando se noticiou que Page e Rodgers haviam formado uma banda juntos, uma enorme expectativa se formou entre a imprensa musical e os fãs de rock pelo mundo todo. Para completar a formação, Page e Rodgers queriam o baterista Bill Bruford (Yes/King Crimson) e o baixista Pino Palladino, mas como esses estavam compromissados em suas bandas, convocaram Chris Slade, ex-baterista do Manfred Mann e do Uriah Heep, e o desconhecido contrabaixista Tony Franklin. Estava formado o The Firm, uma das grandes promessas do rock no final de 1984.

Em 1985, quando um single com a primeira música do The Firm chegou às lojas, entrou direto para a lista dos vinte mais vendidos, mas ao ouvir a canção “Radioactive” os fãs torceram o nariz. “Radioactive” era apenas mediana, muito abaixo do que se esperava de uma banda com Rodgers e Page.


Logo saiu o LP The Firm e a decepção se confirmou. “Closer” abria o disco com um estranho arranjo de metais, e a estranheza estava apenas começando. Na sequência, “Someone to Love” e “Satisfaction Garanteed” revelaram riffs exóticos de Page e um vocal sem empolgação de Rodgers. Há ainda uma chata e desnecessária regravação de “You’ve Lost that Lovin’ Feelin’” (The Righteous Brothers). O disco encerra com sua melhor faixa, “Midnight Moonlight”, um reaproveitamento de uma canção engavetada do Led Zeppelin, mesmo assim com dispensáveis backing vocals.


No ano seguinte, nova tentativa com o lançamento do segundo álbum, Mean Business, que se revelou um desastre ainda maior, contendo canções pouco inspiradas e banais. O álbum teve vendas tão medíocres quanto as suas músicas e após apenas dois concertos a banda se separou para seus líderes investirem em suas carreiras solo.

Jimmy Page lançou o álbum
Outrider em 1988, com John Miles e Chris Farlowe se revezando nos vocais. Depois disso gravou um disco com o vocalista do Whitesnake, David Coverdale, e dois álbuns com seu ex-companheiro de Led Zeppelin Robert Plant, além de um belo álbum ao vivo ao lado da banda Black Crowes.

Paul Rodgers lançou um disco tributo a Muddy Waters com os guitarristas convidados Jeff Beck, David Gilmour, Buddy Guy, Brian May, Steve Miller, Gary Moore, Trevor Rabin, Neal Schon, Brian Setzer e Slash. Rodgers fez uma turnê com a formação original do Bad Company e excursionou com uma banda com Slash e Jason Bonham até ser convidado por Brian May para integrar a nova formação do Queen, no lugar que outrora fora do finado Freddie Mercury. O Queen + Paul Rodgers lançou um álbum de inéditas e fez uma bem sucedida turnê mundial.

Chris Slade se uniu ao AC/DC enquanto o baterista original Phil Rudd esteve afastado da banda. Tony Franklin fundou o obscuro Blue Murder e depois sumiu do mapa.

Quanto ao The Firm, é melhor esquecer essa mancha no currículo glorioso de Jimmy Page e Paul Rodgers. A firma já nasceu falida.

Comentários

  1. Concordo que pelo nomes do integrantes foi abaixo do que se esperava. Mas mesmo assim não acho o primeiro disco tão ruim. As musicas não tem o mesmo peso das musicas do Led Zepellin ou do Free, mas são boas sim. Caso uma banda desconhecida tivesse lançado esse disco tenho certeza que seria melhor avaliado. O segundo realmente é fraco...

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  2. O primeiro é + o -, o segundo é uma bomba. Boa lembrança

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