Jorge Ben - Salve, Jorge! (2009)


Por Luiz Felipe Carneiro
Jornalista
Esquina da Música

Cotação: ****

Lá pelo início dos anos 00, logo que o mercado discográfico começou a despencar no Brasil, as gravadoras correram aos seus arquivos para relançar álbuns que nunca haviam visto a luz do dia no formato CD. Para os colecionadores foi uma festa. Até mesmo o primeiro álbum de João Donato (Chá Dançante, quando ele ainda tocava acordeom) foi lançado em CD!!! Estava tudo indo muito bem, até que essas reedições também começaram a ser tornar cada vez mais raras. Volta e meia uma caixa ainda era posta na loja, mas, mesmo assim, tudo bem distante daqueles tempos (não tão distantes, diga-se de passagem).

No ano retrasado, a Universal colocou nas lojas a excelente caixa Camaleão, de Ney Matogrosso, que abarcava a sua carreira entre 1975 e 1991. Perfeito, até mesmo porque os trabalhos mais recentes - que já haviam saído em CD - foram excluídos do box, de forma que este não ficasse tão caro.

No final do ano passado, foi a vez de Jorge Ben ter a sua obra na Universal reeditada no box Salve Jorge!, com coordenação do pesquisador musical Rodrigo Faour e ótimos textos explicativos da jornalista Ana Maria Bahiana. Da pedra fundamental Samba Esquema Novo (1963) até África Brasil (1976), o supra-sumo da obra de Ben está mais do que bem representado na caixa. Desde a descoberta da batida perfeita de Samba Esquema Novo - álbum de estreia com clássicos como "Mas Que Nada" e "Chove Chuva" - e de Sacundin Ben Samba (1964), passando pelo suingue de Ben é Samba Bom (1964) e pela "psicodelia iê-iê-iê" de Big Ben (1965), Salve Jorge! cobre a fatia mais saborosa da carreira de Jorge Ben.

Depois de um hiato de quatro anos, o box tem continuidade com Jorge Ben (1969), o álbum da "retomada", que tem um clássico desenho do cantor segurando um violão com o escudo do Flamengo na capa, além de sucessos como "País Tropical", "Charles Anjo 45" e "Que Pena (Ela Já Não Gosta Mais de Mim)".

Força Bruta (1970) é o primeiro trabalho de Ben com o Trio Mocotó, e traz pelo menos uma obra-prima: "O Telefone Tocou Novamente". A parceria teve continuidade com o não menos incensado Negro é Lindo (1971), com os petardos "Comanche" e "Que Maravilha".

Já a fase "alquimista" teve início com Ben (de 1972 e com os clássicos "Fio Maravilha" e "Taj Mahal"), continuou dois anos depois com o célebre A Tábua de Esmeralda (o que dizer de canções como "O Homem da Gravata Florida", "O Namorado da Viúva" e "Menina Mulher da Pele Preta"?), e com Solta o Pavão (1975), conhecido como a segunda parte de A Tábua de Esmeralda e que originou "Zagueiro" e "Jorge da Capadócia". Entre esses álbuns, em 1973 Jorge Ben revisitou os seus sucessos até então acumulados em medleys no álbum 10 Anos Depois, que aparece no box sem a sua capa original.

Salve Jorge! fecha com Gil & Jorge (1975), a viajante jam session ao lado de Gilberto Gil, e África Brasil (1976), a obra-prima na qual Jorge Ben misturou soul, funk, pop, rock e disco, resultando em pérolas como "Ponta de Lança Africano (Umbabarauma)", "Xica da Silva" e "Camisa 10 da Gávea".

Mas as pérolas mesmo - pelo menos para os colecionadores - estão em Inéditas e Raridades, CD duplo que traz 28 fonogramas que estavam soltos por aí, fora dos álbuns oficiais de Jorge Ben. Embora não sejam muito difíceis de serem encontradas pela internet, as faixas aparecem no CD com uma qualidade de áudio excepcional. Difícil enumerar os destaques de uma coletânea tão azeitada quanto essa, mas vale citar a versão de Ben para o "Hino do Flamengo" (lançada apenas em um compacto em 1973), "Cosa Nostra" (que só havia saído oficialmente no compacto "O Som do Pasquim", de 1970) e uma versão ao vivo sensacional de "Bicho do Mato", raridade do álbum É Tempo de Música Popular Moderna, lançado em 1964. Vale destacar também as versões inéditas (takes alternativos de estúdio) para faixas como "Mas Que Nada" e "Jesualda".

Salve Jorge! á daquelas peças que todo apreciador da boa MPB deve ter em sua estante. Entretanto, dois poréns devem ser ressaltados. Em primeiro lugar, o fato muita coisa da caixa já ter sido reeditada em CD anteriormente e aparecer repetido no box. Tudo bem, seria difícil tirar coisas essenciais como Samba Esquema Novo e A Tábua de Esmeralda da caixa, mas a verdade é que um fã de Jorge Ben (ou seja, quem vai desembolsar a grana no box) certamente já tem tais álbuns em CD. A outra falha fica por conta da não adição dos álbuns À L'Olympia (1975) e Tropical (1977), à época produzidos para o mercado estrangeiro pela mesma gravadora Universal. Seria bacana ter mais essas raridades em Salve Jorge!.


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