Lynyrd Skynyrd - God & Guns (2009)


Por Regis Tadeu
Jornalista e Colunista do Yahoo! Brasil
Yahoo! Brasil

Cotação: ****

A grande maioria dos estilos englobados pelo rótulo rock gera enormes controvérsias por conta da polarização entre seus entusiasmados fãs e seus detratores, como é o caso da linhagem progressiva, só para citar um exemplo. Por isso, não deixa de causar espanto que haja uma quase unanimidade dentro do caldeirão fumegante do gênero, que é o chamado southern rock (ou rock sulista, se preferir), uma vertente estritamente americana, derivada da união do blues, do hard rock setentista e do country, cujos grandes expoentes são duas bandas espetaculares: os Allman Brothers e o
Lynyrd Skynyrd.

É a respeito deste último que quero escrever. Nesta altura do campeonato, você já deve conhecer a história da banda - a menos que tenha morado em Saturno nos últimos 50 anos. Junto com uma carreira brilhante, com uma discografia sem um único disco ruim, a banda convive com as lembranças da tragédia ocorrida em 1977, quando um acidente de avião matou o vocalista Ronnie Van Zant, o guitarrista Steve Gaines, sua irmã, a backing vocal Cassie Gaines, um roadie e os dois pilotos. Mesmo assim, o grupo continuou a existir e a lançar excelentes álbuns.

Pois os novos tempos não são tão diferentes, já que durante as gravações do novo disco,
God & Guns, a banda vivenciou a morte de mais dois de seus integrantes - o baixista Ean Evans e o ótimo tecladista Billy Powell, um dos integrantes da clássica formação e figura importantíssima dentro da fórmula sonora dos caras, eternizada por duas das canções mais sensacionais de todos os tempos, "Free Bird" e, claro, "Sweet Home Alabama". Só que, da mesma forma como aconteceu no passado, o guitarrista Gary Rossington - o único remanescente da formação original - e seus companheiros não se deixam abater.

E é exatamente esse o sentimento que reina em
God & Guns. Isso fica absolutamente explícito logo na primeira faixa do disco, "Still Unbroken", com sua letra em forma de manifesto contra as adversidades que a banda enfrentou ao longo dos anos. "Little Thing Called You" é daquelas típicas canções pesadas e suingadas que fizeram a fama dos caras, o mesmo acontecendo com as ótimas "Skynyrd Nation" e "Storm", ambas com a indefectível marca do extraordinário guitarrista Ricky Medlocke, ex-Blackfoot, e com a voz sacana e embebida em bourbon do vocalista Johnny Van Zant. Isso sem contar a sacolejante "Comin' Back For More", boas canção para se ouvir no carro.

Para os saudosistas, a banda reservou em "Southern Ways" citações implícitas a "Sweet Home Alabama" e voltou a exercitar sua excelente performance acústica na primeira parte da faixa-título, cheia de violões e slides, para depois descambar naquele peso típico do southern rock. Nas baladas, há uma nítida influência de Bruce Springsteen nos arranjos de "Unwrite that Song" e "Gifted Hands".

Mas é em "Floyd" que está o momento mais surpreendente do disco. Com a participação de Rob Zombie nos vocais de apoio, é uma canção densa, soturna, quase angustiante, com riffs pesadíssimos e uma atmosfera meio claustrofóbica, algo até então inédito na discografia da banda.

As única escorregadas do Lynyrd Skynyrd no novo disco estão em "Simple Life" e em "That Ain't My America", duas canções semelhantes àquelas porcarias que o Bon Jovi vem apresentando há anos, repletas dos mais manjados clichês do country rock açucarado e de letras excessivamente nacionalistas.

Talvez o fato de ter gravado este disco em Nashville - a capital mundial da country music - tenha exercido uma forte influência nos arranjos, mas a qualidade de
God & Guns deixa claro que o Lynyrd Skynyrd não tem o menor receio de se revitalizar, mesmo cercado de tantas perdas.


Faixas:
1 Still Unbroken 5:06
2 Simple Life 3:17
3 Little Thing Called You 3:58
4 Southern Ways 3:48
5 Skynyrd Nation 3:52
6 Unwrite that Song 3:50
7 Floyd 4:03
8 That Ain't My America 3:44
9 Comin' Back for More 3:28
10 Gods & Guns 5:44
11 Storm 3:15
12 Gifted Hands 5:22

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