Mallu Magalhães - Mallu Magalhães (2009)


Por Luiz Felipe Carneiro
Jornalista
Esquina da Música

Cotação: ***1/2

Basta ouvir os primeiros acordes do piano de "My Home is My Man", faixa de abertura do novo CD de Mallu Magalhães (que, assim como o primeiro, leva o nome da cantora), para ver que há algo de diferente no reino da Dinamarca. Da estreia na internet com o hit "Tchubaruba", muita coisa mudou em Mallu Magalhães. Se em seu primeiro álbum 12 das 14 faixas tinha letra em inglês, nesse novo trabalho 6 das 13 músicas são cantadas em português, o que revela um acerto na condução de sua carreira. E mesmo as canções em inglês são mais encorpadas e originais do que no disco de estreia. As em português, então, nem se fala. Mallu Magalhães deu um upgrade de respeito.

Se Bob Dylan e Johnny Cash continuam a ser grandes (e respeitadas) influências, como pode ser verificado em faixas como a delicada "Make it Easy", as country "Ricardo" e "You Ain't Gonna Loose Me" e a cool "Soul Mate", Mallu abre o seu leque, inclusive mostrando que aprendeu um pouco da nossa música popular, como na experimental e tropicalista - até no título - "O Herói, O Marginal", e no "samba indie" "Versinho de Número Um", que conta com uma letra, no mínimo, fofa: "Fiz esse versinho pra dizer / Por mais que vasta a rima for / Não cabe ao verso o meu amor".

Ecos tropicalistas também estão bem nítidos em "Compromisso" ("É tanto compromisso / Obrigação e sacrifício / Qu'eu vivo aqui no vício / De pensar em ti"), com a sua batida no estilo "banda militar" e uma guitarrinha de Kadu Abecassis a la Lanny Gordin. Mais experimental ainda é "Bee on the Grass" - será que Mallu andou descobrindo Tom Zé? - que ganhou a adesão de Kassin na guitarra cítara.

A importância da (sempre) ótima produção de Kassin também pode ser conferida na valsinha "Te Acho Tão Bonito". Uma forma de soar tatibitate e original ao mesmo tempo - se é que isso é possível. Já "É Você Quem Tem" segue o mesmo estilo da anterior, mas escorrega no excesso de cordas do arranjo criado por Felipe Pinaud. O contrário ocorre no ótimo reggae "Shine Yellow", com um bom arranjo de sopros do mesmo Pinaud, no melhor estilo Los Hermanos. Vale citar que tal faixa conta com a participação especial de Marcelo Camelo, que, aliás, aparece em outras canções do disco, como "Bee on the Grass", "Make it Easy" e "Compromisso". Mesmo não participando de "Nem Fé Nem Santo", é possível ouvir uma Mallu Magalhães fortemente inspirada no modo de cantar de seu namorado.

Encerrei a resenha do disco de estreia de Mallu Magalhães da seguinte forma: "Se a cantora é realmente o gênio que muita gente insiste em dizer (ou se vai durar apenas um verão), só o tempo vai dizer". Talvez Mallu ainda não tenha provado - e nem teve tempo, é verdade - que é um gênio (e isso também é o que menos importa). Mas já fica a certeza de que ela está presente em mais um verão. E, pelo jeito, vai durar muitos outros. A julgar por esse seu segundo trabalho, com todo o merecimento.


Faixas:
Faixas:
1 My Home Is My Man
2 Nem Fé Nem Santo
3 Shine Yellow
4 Versinho de Número Um
5 Make It Easy
6 Compromisso
7 Te Acho Tão Bonito
8 Ricardo
9 Bee On the Grass
10 Soul Mate
11 You Ain’t Gonna Loose
12 É Você que Tem
13 O Herói e o Marginal

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