Dream Theater - Systematic Chaos (2007)


Por Ricardo Seelig
Colecionador

Cotação: ****

Analisar um álbum do Dream Theater é sempre complicado. Seus discos são complexos, repletos de nuances, e Systematic Chaos, nono trabalho do grupo, não foge à regra. Primeiro lançamento pela Roadrunner, a nova gravadora do quinteto, o álbum prova que o maior nome do prog metal ainda tem muita lenha para queimar.

Novamente produzido por Mike Portnoy e John Petrucci, o disco traz novos ares à carreira da banda, e com certeza irá motivar discussões acaloradas entre os fãs. O que se percebe de imediato, assim como ocorreu no trabalho anterior, Octavarium (2005), é uma maior presença de características progressivas. A boa notícia para quem curte o grupo é que a banda demonstra muito mais inspiração neste novo trabalho do que no seu último lançamento.

Prova disso é a bela abertura com “In the Presence of Enemies Pt 1”, que soa como se tivesse sido gravada na época do clássico Images And Words, de 1992. Com a guitarra de Petrucci em primeiro plano, a banda evolui sobre uma elaborada estrutura melódica, digna de seus melhores momentos. Em algumas passagens, essa música me levou de volta aos tempos de “A Change of Seasons”, uma das mais emblemáticas composições do Dream Theater.

Com nove minutos de duração, “In the Presence of Enemies Pt 1” tem uma longa e inspirada introdução instrumental, que dura mais da metade da faixa. James LaBrie só aparece lá pelos cinco minutos, e seus vocais seguem a mesma linha do que havia feito no último disco. Ou seja: muito mais ênfase na interpretação das composições do que naquela gritaria repleta de agudos de quando entrou na banda. “In the Presence of Enemies Pt 1” abre Systematic Chaos de maneira bem progressiva, com muita classe e estilo, e deixa água na boca.

Ainda bem que o restante do trabalho não decepciona. “The Forsaken” é introduzida por uma bela frase de piano de Jordan Rudess, e, assim como “I Walk Beside You” de Octavarium, possui um imenso potencial comercial. Seu refrão não sai da cabeça tão cedo. É daquelas músicas que o grupo volta e meia compõe, e que fazem quem nunca ouviu falar da banda parar para ouvir.

O peso volta com “Constant Motion”. Essa canção traz linhas vocais influenciadas claramente pelo Metallica da fase … And Justice For All, lembrando de imediato a clássica “Blackened”. Além disso, James canta de forma mais agressiva, alcançando um ótimo resultado. Aqui faço um parênteses: é extremamente agradável perceber que LaBrie está, como já ocorreu em Octavarium, explorando todas as nuances de sua voz, indo muito além dos já manjados tons agudos. Isso gera uma maior qualidade para a música do Dream Theater, e mostra que o patinho feio do grupo está, sim, no mesmo nível de Portnoy, Petrucci, Rudess e John Myung, ao contrário do que (ainda) pensam muitos fãs da banda.

Não sei o que o grupo pensou ao compor “The Dark Eternal Night”, mas o fato é que essa é, provavelmente, a canção mais pesada de sua carreira. Um riff de guitarra com um que de new metal dá início à faixa, que é seguida por uma levada rápida de Portnoy e vocais repletos de efeito. Pode soar meio diferente no início, mas é muito legal. “The Dark Eternal Night” possui diversas e surpreendentes mudanças de andamento, com destaque para o teclado de Rudess. Muito peso (mesmo), indo além do mostrado em Train of Thought. Destaque imediato!

A balada “Repentance” vem a seguir, e é a quarta canção gravada pela banda a respeito do alcoolismo do baterista Mike Portnoy (aos curiosos, as outras são “The Glass Prison”, “This Dying Soul” e “The Root of All Evil”). LaBrie canta a letra de forma bem calma, realçando a bela melodia. O lindo solo de Petrucci é o ponto alto da canção.

E aí chegou a hora da discussão. “Prophets of War” é uma prova cabal da ousadia e da criatividade do Dream Theater. Sobre um excelente riff de Petrucci, o grupo coloca uma batida pop, influenciada pela disco music dos anos setenta. E, acreditem, não ficou estranho, pelo contrário: a música soa enérgica, possui uma melodia contagiante, e dá vontade de ouvir de novo quando acaba. Aos fãs mais ortodoxos, que provavelmente irão chiar, apenas um lembrete: a principal característica do rock progressivo é a ausência de regras, permitindo ao músico desenvolver a sua criatividade livre de quaisquer rótulos. “Prophets of War” é uma prova disso.

Systematic Chaos encerra com duas longas faixas progressivas. A primeira, “The Ministry of Souls”, possui uma abertura grandiosa e passagens instrumentais absolutamente brilhantes. Não consigo colocar em palavras, mas indico uma audição atenciosa. A segunda, “In the Presence of Enemies Pt 2”, funciona com perfeição com a composição que abre o disco, e as duas juntas formam uma suíte com mais de 25 minutos. Novamente a inspiração fala mais alto, e complexas camadas sonoras vão unindo-se umas às outras, sem cansar o ouvinte.

É fácil concluir que Systematic Chaos apresenta um Dream Theater olhando com carinho para o seu passado, e resgatando elementos que marcaram a sua carreira. É um trabalho mais consistente que Octavarium, sem dúvida alguma. A quantidade de faixas que chamam a atenção e possuem potencial para agradar em cheio os fãs é grande. Mas, muito mais importante que isso, é a inspiração que transborda em cada detalhe, mostrando que o grupo ainda tem muito tesão pela música que faz.

Um grande álbum, que não deve nada aos melhores momentos dessa banda sensacional.


Faixas:
1 In the Presence of Enemies, Pt. 1 9:00
2 Forsaken 5:36
3 Constant Motion 6:55
4 The Dark Eternal Night 8:51
5 Repentance 10:43
6 Prophets of War 6:01
7 The Ministry of Lost Souls 14:57
8 In the Presence of Enemies, Pt. 2 16:38


Comentários

  1. Bom disco....mas o meu preferido ainda é o Train of Thouthgs (acho q escrevi errado)

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  2. Bem, meu disco favorito do DT, e que tem a minha música favorita (In The presence Of The Enemies pts 1 & 2). Só não curto muito a balada "Repentance", por fugir um pouco da linha das outras partes da "12 Steps Suite" (embora se encaixe no contexto desta), e por causa daquele final repetitivo com os vocalistas convidados, que acho chato pra caramba...
    Agora, as 4 primeiras faixas são absolutamente perfeitas, e a segunda parte de "...Enemies" consegue ser melhor ainda que a primeira.
    Mas um disco obrigatório para quem quer ter noção de o que é o Dream Theater.

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  3. Como vocês devem ter percebido, gosto muito do Dream Theater. O meu disco preferido da banda ainda é o Scenes From a Memory, de 1999, que acho uma obra-prima.

    Abraço.

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  4. Realmente o Scenes from amemory é demais!!! Faz uma resenha dele Cadão...
    E o LaBrie realmente foi se desenvolvendo com o tempo. Lembro do show de 1996 que achei a voz dele horrível. Dez anos depois em outro show a voz ficou ótima.

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  5. Concordo que ao vivo o LaBrie não manda tão bem quanto em estúdio, e que mesmo em estúdio a partir de "FII" o cara privilegiou registros mais contidos, mas são bem conhecidos os fatos que levaram LaBrie a cantar "mal" por quase 10 anos (fonte: wikipedia em inglês).

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  6. Guilherme, não conheço esses fatos. Se importa em postar aqui pra gente, para discutirmos?

    Abraço.

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  7. Putz, não sabia disso:

    "On December 29, 1994, while vacationing in Cuba, LaBrie was stricken with a severe case of food poisoning from contaminated shrimp and while vomiting, he ruptured his vocal cords. He saw three throat specialists who all said there was nothing they could do except have him rest his voice as much as possible. However, on January 12, 1995, and against doctor's orders, he was on the "Awake" tour in Japan with his voice far from normal.

    LaBrie has said he did not feel vocally "normal" until at least 1997. LaBrie has said that this was a very hard time for him as a singer, and depression as a result caused him to consider departing from the band, although his bandmates supported him and told him to stay. After the "Six Degrees of Inner Turbulence" tour he discovered that his voice was back. He has said that his voice was fully healed by time and training."

    Alguém aqui tinha conhecimento desses fatos?

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  8. Eu já tinha ouvido falar algo sobre esse problema do LaBrie, embora não soubesse destes detalhes, mas sempre achei que fosse desculpa para o fato do cara ter um nível muito abaixo dos outros...

    E concordo que ele melhorou muito ao longo dos anos, mas continua em um nível abaixo dos outros...

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  9. Eu gosto do LaBrie, mas acho seu timbre meio irritante às vezes. Para mim, o fato é que a exuberância técnica dos músicos é tamanha que qualquer vocalista que entrasse ali ficaria em segundo plano.

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  10. Particularmente, não sou fanático pelo cara mas acredito que LaBrie é a voz do DT, e que eventual substituto teria uma tarefa quase insuperável. Além de ser vocalista, LaBrie é intérprete das letras, sobretudo nas versões de estúdio. Então, pensando exclusivamente no DT, não conheço quem faria trabalho melhor.
    Sobre "Systematic Chaos", foi o primeiro com a nova gravadora, e na época Portnoy enfatizou isso bastante, expondo todas as dificuldades com a antiga gravadora (inclusive iminência de dissolução da banda na época do "FII").

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  11. O grupo quase acabou após o Falling Into Infinity. Já li entrevistas do Portnoy dizendo que, caso o disco seguinte, o excepcional Scenes From a Memory - o melhor da banda, para mim -, não tivesse sido bem recebido, o Dream Theater teria acabado.

    Ainda bem que isso não ocorreu.

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  12. Micael, você vai no show do Dream Theater em PoA, ao invés do Guns, certo?

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  13. Só eu acho que Prophets of War tem uma influência absurda de Muse? O Portnoy é fã confesso do Muse.

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