Bad Company - Hard Rock Live (2010)


Por Vitor Bemvindo
Historiador e Colecionador
Mofodeu

Cotação: ****

Nunca me esqueço da primeira vez que escutei “Rock Steady” do Bad Company. Estava no bar Heavy Duty Beer Club, um dos únicos redutos rock and roll do Rio de Janeiro, e uma banda cover a tocou. Eu era então um jovem mancebo que pouco conhecia do rock setentista, e quando ouvi aquilo perguntei ao meu amigo Luiz Felipe Freitas, a Enciclopédia do Rock: “Que banda é essa?”. Ele respondeu com a sutileza que lhe é peculiar: “É Bad Company, porra!”. Minha vida nunca mais foi a mesma depois daquele dia.

Na mesma semana, a Enciclopédia teve a nobreza de me emprestar alguns dos seus “verbetes”. Foi então que ouvi pela primeira vez o disco
Bad Company (1974), uma das maiores obras-primas da história do rock na minha humilde opinião. Ele me emprestou também os bons Straight Shooter (1975), Burnin’ Sky (1977) e Desolation Angels (1979). Eu ouvi todos aqueles discos à exaustão e fiz uma coletânea das músicas que mais gostei. Eu levava aquele disquinho pra todo lugar que eu ia. Foi assim que o Bad Company passou a ser parte da trilha sonora da minha vida.

Paul Rodgers mudou meus conceitos sobre o que é ser um vocalista de rock and roll. Agudos e estripulias vocais são legais, mas não são fundamentais. A maneira sutil, suave e apaixonada com que Rodgers canta me cativou desde o primeiro momento que eu ouvi. Ele não é metido a exageros, sabe encaixar sua voz exatamente ao que cada canção pede, o que o fez se tornar um dos grandes.

O Bad Company nasceu de uma reunião estrelar de ex-membros do Free (Paul Rodgers e o baterista Simon Kirke), do Mott the Hoople (o guitarrista Mick Ralphs) e King Crimson (o baixista Boz Burrell), em 1973. O supergrupo imediatamente assinou um contrato com o selo Swam Song (de propriedade do Led Zeppelin) e, entre 1974 e 1982, com a mesma formação, lançou seis discos de estúdio.

Após esse período, Paul Rodgers partiu para carreira solo e a banda passou ter uma rotatividade maior em sua formação. Em 2002 a banda voltou às origens da sua formação, mas sem o baixista original, Boz Burrell. Lançaram o ótimo disco ao vivo
Merchants of Cool, que contava com duas músicas inéditas bem legais: “Saving Grace” e “Joe Fabulous”. Mas a reunião durou pouco. Em 2006 Burrell faleceu e frustrou de vez uma possível reunião da formação original.

Mas em 2008, Rodgers, Kirke e Ralphs resolveram se reunir novamente para apresentações por algumas partes do mundo. A apresentação no Hard Rock Hotel & Casino, na Flórida, foi registrada e finalmente lançada agora em 2010. O concerto foi disponibilizado em um pacote que vem com um CD e um DVD.

O disco é um apanhado muito bem feito da carreira da banda. Eles selecionaram 16 canções do período de 1974 a 1982, quando Rodgers comandava os vocais do grupo. A diferença evidente é a nova roupagem dada às faixas. Se há uma coisa que pode se criticar no Bad Company era a produção dos discos de estúdio. As faixas nunca ficaram com o peso e a significância que mereciam. A banda costumava então consertar isso no palco, tornando-se um caso clássico de grupo que se saía melhor nos palcos do que no estúdio.

O registro de
Hard Rock Live (2010) é uma prova de aquelas canções tem mais para oferecer do que está registrado nos álbuns originais. Ao vivo, o Bad Company mais uma vez mostrou sua força. Um exemplo claro disso é “Gone, Gone, Gone”, que entrou nesse álbum como uma espécie de tributo a Boz Burrell, seu compositor. A versão original, que saiu em Desolation Angels, tem uma produção que chega a ser constrangedora: uma guitarra sem peso e uma percussão intercalada por palmas fazem com que você não consiga se deter na faixa até o fim. No disco ao vivo recém-lançado, “Gone, Gone, Gone” recebeu o peso que merecia, ganhando mais distorção na guitarra e se desfazendo das palminhas, que remetiam a um programa de auditório de quinta categoria. Isso acontece durante todo o disco. A energia do Bad Company está muito bem captada em Hard Rock Live, assim como já havia acontecido em Merchants of Cool (2002) e Live in Albuquerque (lançado em 2006, mas que traz um registro feito em 1976).

O disco tem vários destaques. Claro que os clássicos saltam aos ouvidos. Canções como “Bad Company”, “Rock Steady”, “Can’t Get Enough” e “Good Lovin’ Gone Bad” fazem qualquer um se empolgar. As baladas também estão de emocionar: “Shooting Star” e “Ready for Love” ganharam suas versões definitivas.

Mas talvez o destaque seja a versão de “Rock ‘n’ Roll Fantasy”, de
Desolation Angels. O Bad Company teve a feliz ideia de convidar o bom guitarrista Howard Leese (que costuma estar com Paul Rodgers em seus projetos solo) para acompanhar a banda. Isso trouxe para o grupo uma característica antes quase não existente: a utilização de duas guitarras. O trabalho de guitarras gêmeas de Leese e Ralphs em “Rock ‘n’ Roll Fantasy” fez com que a música ficasse ainda melhor.

As versões das faixas de
Desolation Angels em Hard Rock Live mostram como aquele disco foi mal aproveitado. Existem várias músicas fantásticas naquele disco, mas a produção deixa bastante a desejar. Talvez por isso, aquele seja o álbum mais injustiçado da carreira do Bad Company.

Portanto,
Hard Rock Live é uma excelente opção para os fanáticos pela banda, mas também para aqueles que querem ter o primeiro contato com o grupo. Os maiores sucessos do conjunto estão ali registrados de maneira magistral, fazendo jus à fama do Bad Company de ser um grande grupo em cima dos palcos. Vale o investimento, vocês não se arrepender.


Faixas:
1. Bad Company
2. Honey Child
3. Sweet Lil' Sister
4. Burnin' Sky
5. Gone Gone Gone
6. Run with the Pack
7. Seagull
8. Feel Like Makin' Love
9. Movin' On
10. Simple Man
11. Rock Steady
12. Shooting Star
13. Can't Get Enough
14. Rock N'Roll Fantasy
15. Ready for Love
16. Good Lovin' Gone Bad

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