Jimi Hendrix - Valleys of Neptune (2010)


Por Luiz Felipe Carneiro
Jornalista
Esquina da Música

Cotação: ****

Até que estava demorando um pouquinho para Janie Hendrix lançar mais algum CD póstumo com gravações de seu irmão. Quando colocou nas lojas o luxuoso box The Jimi Hendrix Experience, os fãs pensaram que o tacho já havia sido todo raspado. Não. Janie falou que ainda tem material inédito para lançar pelos próximos dez anos.

A julgar por
Valleys of Neptune, álbum de sobras de Jimi Hendrix que chegou às lojas na semana passada, muita coisa boa ainda pode aparecer por aí. Sob a batuta do engenheiro de som Eddie Kramer (que trabalhou nos álbuns originais de Jimi Hendrix), o álbum, embora não seja absolutamente inédito - diversas canções já são bem conhecidas e foram lançadas em coletâneas póstumas anteriores do artista -, certamente fará a festa dos órfãos daquele que é considerado o maior guitarrista de todos os tempos.

Mesmo não sendo tão surpreendente como tem sido alardeado,
Valleys of Neptune possui em suas faixas uma qualidade que faz jus à aura de Hendrix. As canções foram bem selecionadas, e nada está abaixo do selo de qualidade do guitarrista - o que é comum em trabalhos póstumos que são lançados diariamente por aí. Como exemplo, a faixa-título, um jazz psicodélico que poderia estar presente em qualquer álbum lançado em vida por Jimi Hendrix. Aliás, um trecho da mesma gravação já havia sido lançado em 1990 no box Lifelines, que foi retirado das lojas dois anos após o seu lançamento.

A canção que dá título ao álbum possui um acento pop, que é notado em várias das canções de
Valleys of Neptune, a começar pela sua primeira faixa, uma versão de "Stone Free" gravada entre abril e maio de 1969, no Record Plant, com a presença de Billy Cox (baixo) e Mitch Mitchell (bateria). Aliás, 11 das 12 faixas do disco foram gravadas em 1969, após o lançamento de Electric Ladyland e antes de Band of Gypsys (1970). Ou seja, essas gravações de 1969 representam um período interessante da carreira de Hendrix, o da transição da Experience para a Band of Gypsys. Inclusive, "Ships Passing Through the Night" foi gravada na última sessão de estúdio do guitarrista com a Experience. Essa faixa, assim como as instrumentais "Lullaby for the Summer" e "Crying Blue Rain", são inéditas em disco. Esta última - que conta com a adesão de Rocki Dzidzornu (o mesmo que tocou percussão na gravação de "Sympathy for the Devil" dos Rolling Stones) -, ganhou novo baixo e nova bateria, gravados por Cox e Mitchell, em 1987. O mesmo processo de "revigoração" aconteceu com "Lover Man" (em versão raivosa) e "Mr Bad Luck", sendo que a última é a única faixa do álbum não gravada em 1969 - ela é de 1967, e chegou a ser testada por Hendrix nas sessões de gravação do álbum Axis Bold as Love, lançado no mesmo ano.

Canções já bastante conhecidas dos fãs de Jimi, como "Fire", "Red House" (com mais de oito minutos de duração e um solo fantástico de Hendrix) e "Hear My Train a Comin'", ganharam novas versões nesse
Valleys of Neptune, diferentes das originais: as duas primeiras foram gravadas durante um ensaio para um show de Hendrix em Londres, enquanto que a segunda se destaca pelo solo arrasador do guitarrista e pela bateria animal de Mitchell. "Sunshine of Your Love" ganhou uma versão mais pesada (e instrumental) do que a original do Cream, banda de seu "concorrente" Eric Clapton. Hendrix descontrói a canção, em solos rápidos e alucinantes.

Valleys of Neptune não deixa de ser mais uma forma de Janie Hendrix engordar as suas contas bancárias. Nada mal para quem viu o irmão uma vez ou outra. Mas o trabalho foi bem feito. Os fãs ficarão felizes. Tomara que os próximos lançamentos póstumos mantenham a mesma integridade de Valleys of Neptune. Aliás, com o nome de Jimi Hendrix no meio, é o mínimo que se pode esperar.


Faixas:
1. Stone Free
2. Valleys Of Neptune
3. Bleeding Heart
4. Hear My Train A Comin´
5. Mr. Bad Luck
6. Sunshine Of Your Love
7. Lover Man
8. Ships Passing In The Night
9. Fire
10. Red House
11. Lullaby For The Summer
12. Crying Blue Rain

Comentários

  1. Ainda não ouvi este disco, mas pretendo fazê-lo em breve.

    Devido ao enorme talento de Hendrix, acredito que muita coisa boa ainda possa estar guardada nesse imenso "baú" de raridades.

    Que vejam logo a luz do dia, pois hoje em dia nenhuma das bandas "novas" consegue superar o que o mestre fez há quarenta anos...

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  2. Belíssima resenha, parabéns! Eu também fiz um texto sobre o disco, que pode ser visto no link abaixo:

    http://whiplash.net/materias/cds/104359-jimihendrix.html

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