Rigotto´s Room: A Sensational Alex Harvey Band


Por Maurício Rigotto
Escritor e Colecionador

Hoje dei uma olhada em minhas mais recentes colunas aqui publicadas. Nas últimas semanas, escrevi textos sobre o Led Zeppelin, os Rolling Stones, Paul e Ringo, David Bowie, Jimi Hendrix e outros nomes consagrados do rock, artistas que até quem não é ligado em rock sabe quem são e conhece suas músicas. Não que eu esteja sendo previsível e, como diz o adágio, esteja “chovendo no molhado”, mas me dei conta de que aprecio em demasia a obra de alguns artistas e/ou bandas que, sabe-se lá o porquê, são ilustríssimos desconhecidos da grande maioria das pessoas, incluindo até muitos dos aficionados em rock. Poderia citar dezenas de exemplos de artistas que considero geniais, que lançaram discos esplêndidos, e que, por alguma inexplicável injustiça, jamais saíram do ostracismo. Não o farei, focarei em um único exemplo, assim, estarei dando a minha humilde contribuição para que mais pessoas possam vir a conhecer o nosso ilustre anônimo. Agora, chega de parágrafo introdutório e vamos falar da Sensational Alex Harvey Band.

A primeira vez que ouvi falar em Alex Harvey foi em minha adolescência, em 1987, quando comprei o novo disco da banda baiana Camisa de Vênus, um álbum duplo chamado Duplo Sentido, e nele havia uma música chamada "A Canção do Martelo", e no encarte dizia que era uma versão de "Hammer Song", de um tal Alex Harvey. Perguntei a Marcelo Nova de quem se tratava e ele me respondeu que Alex era o líder da Sensational Alex Harvey Band, uma ótima banda de rock dos anos setenta. Fiquei deveras curioso em conhecer o som da banda, mas ainda ficaria um bom tempo sem saciar essa curiosidade. Quem tem menos de trinta anos não imagina o quanto vivíamos na Idade da Pedra nos anos oitenta. Não havia internet – nem Google ou YouTube, evidentemente – e, a menos que, por uma grande casualidade, se encontrasse uma matéria em alguma revista importada, não havia nem sequer aonde pesquisar por informações mais precisas sobre bandas obscuras. Conseguir discos importados era quase impossível, pois além de ser dificílimo o acesso, eram extremamente caros. Até que chegou o dia em que encontrei o disco Framed (1972), e imediatamente me tornei um grande apreciador desse genial artista.


Alex Harvey nasceu em Glasgow, na Escócia, em 1935, e passou a adolescência toda ouvindo música, tornando-se um profundo conhecedor de skiffle, dixieland jazz, country, blues, vaudeville, e também de novos gêneros como o rock and roll de Chuck Berry e Little Richard e o rockabilly de Gene Vincent e Eddie Cochran. Em 1958 formou a sua primeira banda, a Alex Harvey Band, logo rebatizada como Alex Harvey and The New Saints. Somente em 1964 lançou o seu primeiro disco, já como Alex Harvey and His Soul Band, que passou totalmente despercebido. No ano seguinte lançou o álbum solo The Blues, e levaria mais quatro anos para conseguir gravar o seu terceiro disco, Roman Wall Blues. Apesar de tocar muito em bares e clubes, a primeira década de sua carreira musical não encontrou nenhum resquício de sucesso, servindo apenas para Alex adquirir uma grande cancha de palco. No final de 1969, estava tocando guitarra em uma banda que acompanhava a primeira encenação da peça Hair em Londres, quando uma perspectiva para a década seguinte veio a se esboçar.

O irmão mais novo de Alex, Leslie Harvey, era guitarrista do Stone The Crows – uma boa banda que revelaria a ótima vocalista Maggie Bell – quando Peter Grant contratou o grupo. Com o Stone The Crows tendo o mesmo empresário que o Led Zeppelin, parecia que portas se abririam e oportunidades viriam a surgir. Leslie sugeriu que Peter fosse ouvir o seu irmão Alex. O empresário redarguiu que já conhecia o trabalho e o potencial de Alex, tendo inclusive planos de vir a trabalhar com ele. Porém, Alex estava sem banda e não conseguia encontrar os caras certos para acompanhá-lo.


Em 1972, durante um ensaio do Stone The Crows, Leslie Harvey toca com as mãos molhadas em um fio desencapado do microfone e morre eletrocutado aos 27 anos. Alex, abalado com a morte do irmão e desiludido com a sucessão de fracassos em sua carreira, resolve voltar à Escócia, onde passa a afogar as mágoas enchendo a cara em pubs. Foi em um desses bares de sua cidade natal que Alex encontrou um amigo que o chamou para irem assistir ao Tear Gas, uma banda local que fazia um som muito doido e anárquico, misturando Frank Zappa, Jeff Beck, Captain Beefheart e Jimi Hendrix a performances absolutamente teatrais. Quando Alex Harvey viu e ouviu a Tear Gas, imediatamente exclamou fascinado: “São eles! É a banda que eu sempre procurei para me acompanhar.” Em poucos dias Alex se uniu a Tear Gas e juntos formaram a Sensational Alex Harvey Band, gravando em seguida o álbum Framed.

O primeiro disco da Sensational Alex Harvey Band é fenomenal, onde se destacam canções poderosas como "Midnight Moses", "Isobel Goudie", "Framed", "Hammer Song", "There’s No Lights on the Christmas Tree Mother", "They’re Burning Big Louie Tonight" e "St Anthony", além de uma surprendente cover de "I Just Want to Make Love to You", de Muddy Waters. Alex Harvey se reinventou e o som da Sensational Alex Harvey Band é uma mistura de hard blues com glam rock. Sua voz forte e marcante se encaixa perfeitamente nos arranjos bem elaborados da banda, e finalmente, aos 37 anos, Alex Harvey experimenta um pouco de sucesso.

A banda, formada por Alex Harvey (guitarra e vocal), Zal Cleminson (guitarra e vocal), Chris Glen (baixo), Ted McKenna (bateria) e Hugh McKenna (teclados), entra em um ritmo frenético de turnês, onde se consolidam como uma grande banda de palco, com Alex chamando a atenção como um dos mais performáticos e provocadores frontman do rock. Lançam os discos Next (1973), The Impossible Dream (1974), Live (1975) e Penthouse Tapes (1975). No ano seguinte, aos 40 anos, Alex lança o seu maior sucesso, a faixa "Delilah". Seguem lançando bons álbuns como Tomorrow Belongs to Me (1976) e SAHB Stories (1976). Em 1977, Alex lança um disco solo e a banda lança um disco sem ele, creditado a Sensational Alex Harvey Band (Without Alex). No ano seguinte voltam a se reunir para gravar o seu último álbum de estúdio, Rock Drill.


Em 1979, Alex Harvey and The New Band lançam o excelente álbum The Mafia Stole My Guitar, incluindo ótimas covers de "Shakin’ All Over" (Johnny Kidd and The Pirates, também gravada pelo The Who) e a antiga canção de cabaret "Just a Gigolo".

Em 04 de fevereiro de 1982, um dia antes de seu 47° aniversário, Alex Harvey tocou na Bélgica com a sua nova banda, The Electric Cowboys, e ao sair do palco sofreu um ataque cardíaco. Na ambulância, no caminho do hospital, sofreu um segundo ataque do coração, desta vez fulminante. Ainda em 1982 é lançado o seu álbum póstumo Soldier on the Wall.

Depois de sua morte, vários lançamentos da Sensational Alex Harvey Band foram aparecendo com o tempo. Destaque para os imperdíveis BBC Radio 1 Live in Concert (1995), Live on the Test (1995) e British Tour '76 (2004). Os remanescentes da SAHB voltaram a se reunir em 2004 e seguem se apresentando pelo Reino Unido.

Encerro por aqui o meu modesto tributo a esse genial contestador. Espero ter contribuído para manter a sua memória viva entre os amantes dos bons sons.

Comentários

  1. Uma das maiores influências do também genial Bon Scott. Framed e Next são espetaculares, e recomendados pelo eterno vocalista do AC/DC ;)

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