Rigotto's Room: Um ex-Rolling Stone em Porto Alegre


Por Maurício Rigotto
Escritor e Colecionador
Collector's Room


Algo banal na história de bandas com mais de quatro décadas de estrada é a troca de integrantes com o passar do tempo. Raras exceções conseguem se manter com suas formações originais, ou por falecimento de algum integrante, ou por desavenças musicais e/ou pessoais, ou ainda pelo simples desejo de integrar outro projeto ou tentar aventurar-se em carreira solo. Bandas como Deep Purple, Jethro Tull, Uriap Heep e tantas outras chegam a ter, cada uma, dezenas de ex-integrantes. Já a mais longeva e bem sucedida das bandas de rock, com quase cinqüenta anos de atividade (iniciaram em 1962), possui apenas três ex-integrantes, sendo que apenas dois sobreviveram para contar a história. Estou falando dos Rolling Stones.

A primeira substituição ocorrida nos Rolling Stones foi em 1969, quando a banda se viu sem alternativa a não ser demitir seu membro fundador, o guitarrista Brian Jones, devido a seu estado lastimável decorrente do uso excessivo de drogas lisérgicas. Para o seu posto foi recrutado o jovem guitarrista Mick Taylor. Brian Jones morreria três semanas depois, afogado em sua piscina, em circunstâncias emblemáticas e suspeitas. Mick Taylor ficaria no grupo até 1974, quando pediu as contas e foi substituído por Ronnie Wood. A última baixa sofrida pelos Stones foi em 1993, quando o baixista Bill Wyman comunicou o seu desligamento voluntário do grupo.

Apesar de seus membros terem vindo ao Brasil diversas vezes a passeio, somente em 1995 os Rolling Stones fizeram seus primeiros shows no país, com apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro. Repetiram a dose em 1998 e tocaram no país pela terceira vez em 2006, em um concerto gratuito na praia de Copacabana. Contudo, nem a banda, nem nenhum músico que tenha passado por ela, jamais pisou o solo gaúcho. Em 1992, o baterista dos Stones, Charlie Watts, veio ao Brasil com sua banda de jazz, a Charlie Watts Quintet, com uma turnê que homenageava o repertório do saxofonista Charlie Parker. Apesar de ser a primeira vez em que um stone se apresentaria no país, um show de uma banda de jazz, aliado a preços exorbitantes cobrados pelos ingressos, não seduziu os fãs brasileiros. Os shows em São Paulo, Curitiba, Rio e Belo Horizonte tiveram público reduzidíssimo, e a falta de interessados acabou por cancelar o show que estava agendado para Porto Alegre. Talvez nunca tenhamos um rolling stone tocando na capital do nosso estado, mas um ex-integrante, o guitarrista Mick Taylor, está com show marcado para o dia primeiro de junho na capital gaúcha, no Teatro Bourbon Country.


Em 1966, quando Eric Clapton deixou o seu posto no John Mayall & The Bluesbreakers para formar o Cream, um jovem tímido e franzino de apenas dezessete anos se apresentou a John Mayall, se candidatando a vaga aberta de guitarrista. Era Mick Taylor. Após uma audição, Taylor impressionou Mayall com seus inspirados solos melódicos, mas a vaga acabou ficando com o guitarrista Peter Green. Um ano mais tarde, quando Green deixou a banda para formar o Fleetwood Mac, John Mayall convocou Mick Taylor para ser seu guitarrista. Taylor logo se destacou como um dos maiores guitarristas de blues rock do Reino Unido, gravando com os Bluesbreakers os álbuns Diary of a Band, Crusade, Bare Wires e Blues for Laurel Canyon.

Mick Taylor saiu dos Bluesbreakers em 1969, coincidentemente nos mesmos dias em que Brian Jones fora demitido dos Rolling Stones. Como os Stones estavam saindo da sua fase psicodélica, com intenção de retomar as suas raízes calcadas no blues, Mick Jagger e Keith Richards optaram em convidar Mick Taylor, então com vinte e um anos, para assumir a segunda guitarra da banda.

Taylor estreou nos Stones em um concerto no Hyde Park em Londres, apenas dois dias após o falecimento de seu antecessor Brian Jones. Ainda em 1969, viaja com a banda para uma excursão pela América do Norte e grava sua primeira música com o grupo, a faixa Honky Tonk Women. No álbum Let It Bleed, que ainda continha faixas gravadas com Jones, participa das gravações das músicas Country Honk e Live with me. Grava no Madison Square Garden em New York o álbum Get Yer Ya-Ya’s Out!, um dos melhores discos ao vivo da história do rock, e participa do documentário Gimme Shelter.

Em 1971, os Stones lançam o seu próprio selo e um de seus melhores álbuns, Sticky Fingers. Taylor colabora com a co-autoria das faixas Sway e Moonlight Mile, mas estranhamente seu nome é limado dos créditos. No próximo ano, a banda lança o seu primeiro álbum duplo, Exile On Main St., considerado por muitos como a grande obra prima do conjunto. Taylor, além de brilhar com seus solos, alega que foi co-autor de várias canções, mas somente recebeu créditos na faixa Ventilator Blues. Mick Taylor começa a mostrar certo descontentamento com a forma como é tratado por Jagger e Richards, que o consideravam mais como um funcionário do que um colega de banda. Além do mais, não havia espaço para suas próprias criações e o ritmo de bebedeiras e drogadição dos Stones não condiziam com o seu estilo de vida. Ainda gravou com a banda os álbuns Goat’s Head Soup (1973) e It’s Only Rock’n’Roll (1974), quando novamente teve seu nome excluído dos créditos da música Time Waits For No One, que teria tido a sua participação na composição.

Em dezembro de 1974, Mick Taylor choca os colegas e toda a cena musical mundial ao entregar a Jagger e Richards a sua carta de demissão. Imediatamente, Taylor entra na banda de Jack Bruce e parte em uma excursão com o ex-baixista do Cream. Ronnie Wood, guitarrista dos Faces, é escolhido como seu substituto nos Stones.


Mick e Keith dizem nunca terem entendido o que levou Taylor a se desligar da banda. Na verdade, Mick Taylor não era um roqueiro como Keith Richards e Ronnie Wood, era um guitarrista de jazz e blues que repentinamente se viu sob os holofotes na maior banda de rock do mundo. Apesar de muito bem remunerado e com grande visibilidade, Taylor estava desconfortável, vivendo em um mundo que não era o seu. Keith alega que sua entrada na banda acabou com a essência dos Stones, que era Keith e Brian tocando duas guitarras tentando soar como uma só. Já Mick Taylor é um guitarrista solo e Keith se viu tocando guitarra rítmica enquanto seu colega solava. Com a sua saída, os Stones voltaram a não ter um guitarrista base e um solo, pois Keith e Ronnie também tocavam tentando soar como apenas um, cada um complementando as frases do outro. Mick Taylor não concorda com essa visão e alega que sempre esteve pronto para executar as partes que lhe eram determinadas.


Incontestável é que Ronnie Wood é um guitarrista com muito mais carisma ao vivo, mas é inegável para os fãs da banda que os melhores discos do grupo foram gravados durante a fase Mick Taylor.

Mick Taylor passou o restante da década tocando com Jack Bruce e participando de muitos álbuns de outros artistas, incluindo os dois primeiros solos de Ronnie Wood, Billy Preston, Nicky Hopkins e Mike Oldfield. Somente em 1979 lança o seu primeiro álbum solo, que passa despercebido do grande público. No começo dos anos oitenta, excursiona com o guitarrista do Ten Years After, Alvin Lee, e retorna por um período ao John Mayall & The Bluesbreakers, entrando em seguida para a banda de Bob Dylan, com quem grava os álbuns Infidels e o ao vivo Real Live. Passa a colaborar com a roqueira Carla Olson e em 1988 toca em uma música no primeiro disco solo de seu ex-parceiro Keith Richards. Em 1990 lança o seu segundo solo, Stranger in this Town, também sem repercussão. Desde então, lança seus álbuns ocasionalmente e participa sem parar como “session man” de incontáveis álbuns dos mais diversos artistas, inclusive tocando ao lado de seu ex-colega de Stones Bill Wyman na banda Rhythm Kings. Em 2003, participou ao lado de Eric Clapton do show em comemoração ao aniversário de 70 anos de John Mayall, onde pode ser visto em brilhante forma no DVD lançado com a íntegra do concerto.


No ano passado, foi divulgado no jornal Daily Mail que o guitarrista estava com graves problemas financeiros e que tencionava processar os Rolling Stones por royalties atrasados. Horrorizado pelas declarações surgidas na imprensa, Mick Taylor veio a público para desmentir as publicações, dizendo que nunca se arrependeu de ter saído da banda e que mantinha até hoje fortes laços de amizade com os demais integrantes. Encerrou dizendo que nunca achou que os Stones lhe devessem dinheiro e que jamais passou por sua cabeça processar a banda.


No mês passado, Mick Taylor voltou a se reunir com Mick Jagger em um estúdio, para acrescentar overdubs em uma faixa inédita que será incluída como bônus em uma edição comemorativa do álbum Exile On Main St.

Mick Taylor segue se apresentando em bares e clubes pelo mundo. Dia primeiro de junho será a vez dos gaúchos terem a oportunidade de presenciar a performance deste gênio das seis cordas. Eu estarei lá.

Comentários

  1. Adoraria ir, mas vai ser complicado.

    Rigotto, temos que marcar uma churrascada com cerveja e som dos 70 aqui em Porto.

    Bela matéria!

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  2. Opa...
    Porto? Porto Velho?
    To dentro!!!

    Hahaha

    Abraços

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  3. Poxa! Quase tudo q aparece de bom rola em Sampa.
    E oq não acontece em Sampa, acontece abaixo de Sampa. =(
    Pobres de nós, cearenses...

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  4. Gostei muito da matéria. Mick é um grande virtuoso, merece todas as atenções!

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  5. Mairon!

    Temos mesmo que combinar essa churrascada com cerveja. Garanto que teremos uma bela trilha sonora para acompanhar a carne.

    Obrigado a todos pelas palavras elogiosas.

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  6. Mick Taylor não vem mais!

    Informações extraidas do Blogger Lerina:

    Bad news: a Branco Produções comunica o cancelamento da apresentação do guitarrista MICK TAYLOR (acima), prevista para o dia 1º de junho, no Teatro do Bourbon Country. Segundo a produtora, o cancelamento se deve a problemas de saúde do músico inglês, que esteve internado recentemente em um hospital nos Estados Unidos e precisará ficar em repouso em sua casa na Inglaterra por um período, por recomendação médica.

    A devolução dos valores pagos pelos ingressos será feita no ponto de venda, na Loja Bellenzier Pneus (Av. Dom Pedro II, 1.168), de segunda a sexta, das 12h às 18h, e sábados, das 9h às 12h, a partir da próxima terça-feira, dia 18 de maio.
    Quem adquiriu pela telentrega será comunicado e terá seu dinheiro devolvido em casa.

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  7. Que pena que ele nao vem, espero que se recupere e apareça em breve

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