Brian Setzer, o embaixador do rockabilly


Por Cezar "Dudy" Duarte
Professor de Inglês, Rocker e Colecionador
Collector´s Room

Rockabilly: termo que nasceu do encontro das palavras
rock e hillbilly (vocábulo que define a música caipira americana). Assim pode-se conceituar um gênero do rock que se confunde com o próprio (rock), procedente da metade da década de cinquenta. Muitos relacionam as raízes deste estilo a nomes como Elvis Presley, Carl Perkins, Buddy Holly, Little Richard, Chuck Berry, Bill Haley, Johnny Cash e Jerry Lee Lewis. Com certeza a lista não está completa. Dois nomes fundamentais deram “as tintas” para formá-lo: Eddie Cochran e Gene Vincent. São desta dupla clássicos eternos como "Be-Bop-a Lu-La", "Bluejean Bop", "Twenty Flight Rock", "C’mon Everybody", "Something Else" e "Summertime Blues". Também vale menção aos Johnnies, Johnny Kidd and the Pirates e Johnny Burnette. Este último foi o primeiro responsável pela popularização de "The Train Kept-a-Rolling" e "Honey Hush", compacto de 1956.

Nos anos 60 e 70 o rockabilly perdeu um pouco sua força e atenção. Eddie Cochran morrera em 1960 devido a um acidente de carro. Os outros artistas citados acima já não se preocupavam tanto em gravar músicas tipicamente rockabilly. O próprio Gene Vincent fez discos irregulares nos anos sessenta e acabou morrendo em 1971, vítima de complicações causadas pelo alcoolismo. Gene nunca se recuperou do trauma de ter perdido o seu grande amigo Eddie, o que o levou ao vício da bebida. Portanto, neste hiato das décadas de 60 e 70, era raro encontrar um álbum de rockabilly que se destacasse.

Só no final dos anos setenta apareceria um nome que daria um sopro de renovação ao gênero: Brian Setzer. Brian nasceu em 10 de abril de 1959 em Massapequa, Nova York. Seu primeiro instrumento foi uma tuba, ganho aos oito anos de idade. Tocou-a durante dez anos, até se encantar definitivamente pela guitarra, sempre sonhando em liderar sua própria banda.

As antigas big bands, swing, a audição de discos de mestres como Gene Krupa, Benny Goodman, e do seu interesse pelo punk rock que aflorará por volta de 1978, tudo isso contribuiu para a direção musical que, em um futuro próximo, Brian construiria sua carreira. Sua primeira experiência com uma banda foi com Bloodless Pharaohs. Das apresentações, tocando sua guitarra, resultou o disco Bloodless Pharaos, Marty Thau 2 x 5, lançado originalmente em 1980, e, no ano de 2005, em CD. A qualidade de som é ruim, vale mais como item de colecionador.

Após ter assistido ao show de Mel Lewis Orchestra, Brian já não tinha a menor dúvida: iria formar sua própria banda rockabilly. Conhece Lee Rocker (Leon Drucker), contrabaixista, e Slim Phanton (James McDonnell), baterista. Juntos montam o Stray Cats, que tomaria de assalto o cenário musical através de rocks vibrantes e rápidos, tendo como ponto alto a virtuosidade de Setzer, que também se revelaria um ótimo compositor e vocalista.


Para assegurar uma carreira de êxito, decidem apostar as fichas no mercado inglês. Lá, conhecem o já experiente Dave Edmunds, líder do Rockpile, que produz o primeiro álbum homônimo de 1981. A reação positiva foi instantânea. Aparecem os primeiros hits, “Stray Cat Strut”, Rock this Town” e “Runaway Boys”. O disco seguinte,
Gonna Ball, teve menor repercussão. O grupo retorna aos Estados Unidos para divulgar seu trabalho na terra do Tio Sam. O terceiro disco, Built to Speed, sai em 1982 - trata-se de uma compilação dos dois primeiros. A recém-lançada MTV ajuda a promover a banda ao mostrar com frequência video clips de “Rock this Town” e “Stray Cat Strut”.

O quarto álbum é
Rant n’ Rave with the Stray Cats, lançado em 1983 gerando mais dois sucessos: (“She’s”) Sexy and 17” e a belíssima balada “I Won’t Stand in your Way”. Devido a alguns desentendimentos entre os integrantes, o grupo resolve dar uma parada nas atividades. Em 1984, Brian se junta a Robert Plant para formar The Honeydrippers, de curtíssima duração - é deles a regravação do sucesso “Sea of Love”. A volta do Stray Cats ocorre em 1986, e gravam em Los Angeles o disco de covers chamado Rock Therapy.


Mais uma pausa, e no mesmo ano (1986) Brian lança seu primeiro disco solo,
The Knife Feels Like Justice, que traz um rockabilly mais pop. Em 1987 participa da cinebiografia de Ritchie Valens, La Bamba, fazendo o papel de um dos seus maiores ídolos, Eddie Cochran. Live Nude Guitars é o segundo solo, de 1988, que apresenta uma pegada roqueira mais forte que o anterior.

No ano seguinte (1989), acontece mais uma reunião dos Stray Cats, e lançam Blast Off, que foi acompanhado por uma tour com Stevie Ray Vaugham. Trocam de gravadora e passam da EMI para a Liberation, e, com Nile Rogers como produtor, lançam Let’s Go Faster (1990), Choo Choo Hot Fish (1992) - produzido por Dave Edmunds - e Original Cool (1993), que marca mais uma separação dos gatos extraviados. Setzer, como de costume, não perde tempo e lança seu terceiro solo, Rockin’ by Myself (1993), registro ao vivo trazendo apenas Brian cantando e tocando guitarra.


O projeto de unir o rockabilly com o som de uma orquestra se concretiza em 1994 com o lançamento de
The Brian Setzer Orchestra. Um registro ao vivo do Stray Cats é colocado à venda em 1995 com o título de Something Else. Em 1996 o mercado fonográfico é agraciado com Guitar Slinger e, em 1998, The Dirty Boogie chega às lojas, constituindo-se como um dos melhores discos de Brian e sua orquestra, alcançando o 9º posto das paradas americanas.

O primeiro reconhecimento oficial por sua obra se dá em 1999, com o recebimento do prêmio Orville H. Gibson Lifetime Achievement, no Gibson Awards. Entre apresentações e gravações, ele e sua orquestra lançam Vavoom em 2000.


O início do século XXI é marcado por um disco solo chamado
Ignition, tendo como acompanhantes a banda ’68 Comeback Special (referência à volta de Elvis Presley aos palcos naquele ano). Antes que 2001 chegasse ao fim era lançado o primeiro DVD da Brian Setzer Orchestra - Live in Japan é o nome.

Boogie Woogie Christmas (2002) é o primeiro álbum da Orquestra trazendo temas natalinos. Seu quinto trabalho solo chega em 2003, Nitro Burning Funny Daddy, bem como a primeira coletânea da Brian Setzer Orchestra, Jump Jive an’ Wail-The Very Best Of, e outra em 2004 com o título de The Ultimate Collection Live. Ainda nesse mesmo ano os fãs seriam brindados com o lançamento, em formato CD e DVD, de mais uma volta do Stray Cats aos palcos - Rumble in Brixton batiza o material.


Seguindo a tendência dos últimos anos, Brian repete a dose em 2005, com a gravação de mais um disco com músicas de Natal executadas por ele e sua orquestra,
Dig That Crazy Christmas, e mais um solo, o maravilhoso Rockabilly Riot Vol.1: A Tribute to Sun Records, contendo releituras de vários clássicos imortais que marcaram a história da lendária gravadora. O pacote de 2005 fecharia com o segundo DVD ao vivo da Brian Setzer Orchestra, Live: Christmas Extravaganza.

Em 2006 o guitarrista volta a gravar mais um solo com inéditas, o ótimo 13. Das apresentações com os Nashvillains temos Red Hot and Live, de 2007. Com a orquestra, Brian se apropria da música de Beethoven e faz a sua versão no disco Wolfgang’s Big Night Out. Também é disponibilizado no mercado o DVD One Rockin’ Night (’95). No ano passado, para não ficar em branco, Brian e sua orquestra lançam Songs From Lonely Avenue, que, com certeza, mantém o alto nível da maioria dos trabalhos anteriores. Para o próximo dia 13 de julho, Don’t Mess with a Big Band deverá ser lançado reunindo faixas ao vivo acompanhado de sua orquestra.

O reconhecimento, em forma de homenagens e premiações, não se restringiu apenas com Orville H. Gibson Lifetime Achievement, em 1999. Desde 2000 Brian Setzer já conquistou três Grammies: Melhor Performance de Grupo Pop para "Jump, Jive Na’ Wail", e dois de Melhor Performance Instrumental por"Sleepwalk" e "Caravan". Em dezembro de 2006 ele recebeu sua sétima nomeação ao Grammy pela versão de "My Favorite Things", mais uma vez na categoria Melhor Performance Pop Instrumental.

Brian segue como um dos melhores músicos em sua prolífica carreira. Sua singular criatividade é sentida nas composições, arranjos, vocal e, sobretudo, como um excepcional guitarrista que soube fundir com maestria ímpar o jump blues, swing, jazz e o chamado texas blues, tendo como principal ingrediente, claro, o rockabilly. O legado de Eddie Cochran, Gene Vincent e tantos outros importantes nomes continua em boas mãos.



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