Rigotto's Room: Rod Stewart e os Faces


Por Maurício Rigotto
Escritor e colecionador
Collector's Room

Curiosidades do rock. Há tempos, houve uma banda que lançava seus álbuns regularmente, um por ano, durante o período de sua existência. Paralelamente as atividades da banda, o vocalista tinha uma carreira solo e também lançava seus discos anualmente. O curioso é que a banda que o acompanhava em sua carreira solo era a mesma que ele fazia parte, ou seja, todo ano o grupo lançava um disco creditado a banda e outro disco como sendo um trabalho solo do vocalista. Estou falando dos Faces, uma das melhores bandas inglesas da primeira metade da década de setenta, e de seu vocalista, o fenomenal Rod Stewart, um dos melhores cantores do mundo.

Em 1967, o guitarrista Jeff Beck saiu dos Yardbirds para formar o seu próprio grupo. Jeff Beck convocou o então desconhecido vocalista Rod Stewart, que havia sido o cantor da banda Steampacket, e Ron Wood, talentoso músico com passagens pelas bandas The Birds (não confundir com os norte-americanos The Byrds) e The Creation, para assumir o contrabaixo. A banda, chamada Jeff Beck Group, lançou dois ótimos álbuns – Truth (1968) e Beck-Ola (1969), chamando a atenção para os impressionantes timbres vocais de Stewart. O Jeff Beck Group se separou logo após o lançamento do segundo disco.

Na mesma época, outra banda inglesa fazia sucesso e emplacava vários sucessos nas paradas. Falo dos Small Faces, que tinham em sua formação Steve Marriott (vocal e guitarra), Ronnie Lane (baixo), Ian McLagan (piano) e Kenney Jones (bateria). Após quatro anos de atividades, o líder Steve Marriott anuncia em 1969 que estava deixando a banda para formar o Humble Pie, ao lado do guitarrista do The Herd, Peter Frampton. Para o lugar de Marriott, a banda convida Ron Wood para a guitarra e Rod Stewart para ser o vocalista, mudando o nome do grupo para apenas The Faces. Rod, que havia recusado um convite para ser o vocalista do Cactus, havia acabado de lançar o seu primeiro álbum solo An Old Raincoat Won’t Ever Let You Down, que incluía a cover dos Rollig Stones “Street Fighting Man”.


No inicio de 1970 é lançado First Step, o primeiro álbum dos Faces. A banda se afasta do rock psicodélico que era feito pelos Small Faces e apresenta um rock vigoroso, com uma sonoridade que lembra os Rolling Stones. O single “Flying” não faz sucesso, mas o lado B “Three Button Hand me Down” toca massivamente nas rádios. O disco ainda inclui uma releitura para “The Wicked Messenger” de Bob Dylan. No mesmo ano Rod Stewart lança o seu segundo álbum solo, Gasoline Alley, tendo como banda de apoio os seus colegas dos Faces. Rod entra nas paradas com a cover de “It’s All Over Now”, música de Bobby Womack e de seu grupo The Valentines, que já havia sido gravada pelos Rolling Stones em 1964. Gasoline Alley ainda traz o sucesso “Cut Across Shorty”.

Em 1971 Rod Stewart lança o seu terceiro disco solo, Every Picture Tells a Story, que inclui o mega-sucesso “Maggie Mae”, que atinge o primeiro lugar nas paradas nos dois lados do Atlântico. As canções “(I Know) I’m Losing You”, cover dos Temptations, e “Reason to Believe”, de Tim Hardin, também ficam bem posicionadas nas paradas de sucesso, lançadas em single creditado a Rod Stewart and The Faces. Ainda no mesmo ano, os Faces lançam o seu segundo álbum, Long Player, que inclui “I Feel So Good” de Big Bill Broonzy e “Maybe I’m Amazed” de Paul McCartney.

No ano seguinte, os Faces lançam o seu terceiro álbum, com o bizarro título A Nod is as Good as a Wick...to a Blind Horse, que traz o maior hit da banda, “Stay with me”, e também sucessos como “Miss Judy’s Farm”, “That’s All You Need” e “Memphis”, de Chuck Berry. Alguns meses depois, Rod Stewart lança o seu quarto álbum solo, Never a Dull Moment, chegando as paradas com “Angel”, uma cover de Jimi Hendrix. O disco ainda traz “I’d Rather Go Blind” de Etta James, “True Blue”, “You Wear It Well” e “Twisting the Night Away” de Sam Cooke, o cantor predileto de Stewart.

O quarto album dos Faces, o ótimo Ooh La La, é lançado em 1973, fazendo sucesso com a faixa título e com “Cindy Incidentally”. O baixista Ronnie Lane resolve deixar a banda para tentar carreira solo ao lado da banda Slin Chance. Para o seu lugar é convocado o japonês Tetsu Yamauchi, que já havia tocado no Free de Paul Rodgers. A estréia de Tetsu se faz na gravação do single “Pool Hall Richard”.


O ano de 1974 começa com Rod Stewart lançando o seu quinto álbum solo, Smiler, sempre acompanhado dos Faces, fazendo sucesso com “Sweet Little Rock’n’Roller” de Chuck Berry. O disco ainda traz covers de Sam Cooke, Elton John, Bob Dylan e Paul McCartney. Creditado a Rod Stewart and the Faces, é lançado o álbum ao vivo Coast to Coast – Overture and Beginners, um registro da turnê mais rentável de 1974, que faturou cerca de 100.000 libras em apenas 24 shows. Ainda nesse ano, Ron Wood lança o seu primeiro álbum solo, I’ve Got my Own Album to Do, incluindo o guitarrista dos Rolling Stones Keith Richards em sua banda de apoio.

Em 1975, Ron Wood é convidado a substituir Mick Taylor nos Rolling Stones, mesmo que temporariamente até os Stones acharem alguém para a vaga em definitivo. Rod Stewart, que sempre vendeu mais discos solo do que com a banda, declarou que gostaria de focar em sua carreira solo, sendo decidido em comum e amigável acordo encerrar as atividades dos Faces. Com o fim dos Faces, Ron Wood é efetivado como guitarrista dos Rolling Stones. Os Faces ainda entrariam em estúdio para gravar o single “You Can Make me Dance, Sing or Anything”, considerado por muitos como o melhor single da banda. O grupo ainda faz um show de despedida tendo Keith Richards como convidado.

Rod Stewart muda-se para os Estados Unidos e lança Atlantic Crossing, seu primeiro álbum solo sem o apoio dos Faces, e Ron Wood lança o seu segundo solo, Now Look.


Com o fim dos Faces, os Small Faces se reúnem para uma turnê na Inglaterra em 1976. Ron Wood grava Black and Blue, seu primeiro álbum como guitarrista dos Rolling Stones. Rod Stewart lança A Night on the Town, fazendo grande sucesso com a faixa “Tonight’s the Night”, recebendo seu primeiro disco de platina. Ronnie Lane lança um disco em parceria com o guitarrista do The Who, Pete Townshend, chamado Rough Mix, e outro em parceria com Ron Wood, Mahoney’s Last Stand. O baixista Tetsu Yamauchi não consegue renovar o seu visto para trabalho e é deportado para o Japão. O baterista Kenney Jones substituiu Keith Moon no The Who quando esse morreu em 1978.

Rod Stewart lança Foot Loose & Fancy Free em 1978, com sucessos como “Hot Legs” e “You’re in my Heart”. No ano seguinte lança Blondes Have More Fun, que traz “Da Ya Think I’m Sexy”. Rod Stewart é então processado pelo brasileiro Jorge Ben Jor, que alega que “Da Ya Think I’m Sexy” é um plágio de sua canção “Taj Mahal”. Com a perda do processo, Rod é condenado a ceder os royalties da canção a causas humanitárias da UNICEF. Rod passa a lançar discos influenciados pela sonoridade New Wave, não sendo bem recebidos pelo público e emplacando vários fracassos consecutivos, com exceção do álbum ao vivo Absolutely Live (1982), que conta com Tina Turner como convidada.

No final dos anos setenta, o baixista Ronnie Lane apresentou os primeiros sintomas da esclerose múltipla, doença neurológica degenerativa e hereditária, que provoca fraqueza muscular, rigidez articular, dores articulares, descoordenação motora, perda de equilíbrio e dificuldades em movimentar os membros. Em 1983, com Ronnie Lane já utilizando uma cadeira de rodas, é organizado o show Ronnie Lane’s Arms Concert no Royal Albert Hall em Londres, para arrecadar fundos para custear o tratamento. No show se apresentam astros como Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, Bill Wyman, Charlie Watts, Steve Winwood e Kenney Jones. Rod Stewart continuou fazendo doações para o tratamento de Ronnie, já que esse passou a ter sérias dificuldades financeiras com a doença. Ronnie Lane subiu em um palco pela última vez em um show de Ron Wood em 1992. Morreu de pneumonia em 1997.

Rod Stewart passou a década de oitenta lançando álbuns medianos e com baixas vendas, embora encontrasse algum sucesso com baladas açucaradas e músicas pop radiofônicas. Rod reencontrou o prestigio em 1993 quando gravou o seu acústico para a MTV, Unplugged...and Seatted, ao lado do antigo parceiro Ron Wood. Ainda em 1993, os Faces se reúnem para um único show, com o ex-rolling stone Bill Wyman no lugar de Ronnie Lane. Em 1998, Rod Stewart homenageia o falecido amigo Ronnie Lane regravando “Ooh La La” no disco When We Were the New Boys. O disco ainda traz covers de novas bandas, como “Cigarettes & Alcohol” do Oasis e “Rocks” do Primal Scream.

The Faces com Bill Wyman em 1993


Nos anos 2000, Rod Stewart diz que está velho para ser um vocalista de rock e passa a gravar standards do cancioneiro norte-americano dos anos trinta e quarenta, incluindo várias músicas de Cole Porter e George Gershwin. Entre 2002 e 2006, lança quatro volumes da série The Great American Songbook. Em 2007 lança Still the Same...Great Rock Classics of Our Time, com covers de Creedence Clearwater Revival, Pretenders, Badfinger, Eagles, Bob Dylan, Van Morrison e Eric Clapton. Em 2009 Rod Stewart e Ron Wood voltam a se reunir para planejar uma volta dos Faces. A banda marca um show de retorno para outubro, mas Rod Stewart desiste de participar da reunião por incompatibilidade de agenda com a sua carreira solo. Os Faces não desistem e se apresentam em Londres com Bill Wyman novamente no baixo e com Mick Hucknall, ex-vocalista do Simply Red, nos vocais.

Em maio de 2010, enquanto os Rolling Stones continuam em férias e Ron Wood lança mais um disco solo, os Faces anunciam em seu site oficial que estão voltando a ativa, com Ron Wood, Ian McLagan e Kenney Jones da formação original, mais Mick Hucknall nos vocais e o ex-Sex Pistols Glen Matlock no baixo. O primeiro show está marcado para 13 de agosto no festival inglês Vintage at Goodwood.

The Faces com Bill Wyman em 2009


Comentários

  1. Excelent, Mauricio. Como te disse, o Faces pra mim são a segunda melhor banda do mundo.

    abração

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  2. É interessante a árvore genealógica entre essas bandas - Jeff Beck Group, Cactus, Small Faces, Faces etc. Difícil de guardar isso na cabeça, me esforço e não consigo. Muito boa a matéria. Eu gosto muito dessas bandas todas, mas também percebo um certo oportunismo, (ou quem sabe falta de criatividade) por Rod e Faces ao gravar esse monte de covers, mas cantados por ele não tinha como não serem ótimos. Agora, no retorno dos Faces não dava para escolher outro baixista!? Má escolha foi essa...Abraço --Luciano

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  3. Sou iniciante em Rod Stewart e Faces e a matéria me serviu de dica!

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  4. Grande matéria! Confesso que fiquei curioso para ouvir os Faces com o Mick Hucknall nos vocais. Alguém já escutou?

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  5. Ainda não escutei e também estou bem curioso. Nunca gostei de Simply Red, mas que Hucknall é um grande cantor, não há dúvidas. Levo fé que vai ser legal.

    Lamentável o Rod desistir na última hora. Outra grande opção, ao meu ver, seria convidar o Chris Robinson, vocalista dos Black Crowes. O cara canta muito e sempre declarou que Faces é a sua maior influência.

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  6. Keith Richards pode se juntar aos Faces

    De acordo com o Express britânico, Keith Richards pode se juntar ao novo The Faces para algumas apresentações. A banda tem show marcado para 13 de agosto no festival Vintage at Goodwood, em Sussex, e Keith poderia estar com Ronnie e amigos sobre o palco como convidado especial. Depois disso, poderia haver a participação do guitarrista em outros shows. Por enquanto, não há nada confirmado, mas Keith estaria impaciente, já que Mick não está disposto a ir para estrada ou estúdio ainda em 2010. Na verdade, isso soa como um The New Barbarians do Século XXI.

    Informação postada por André Ribeiro no Stones Planet Brazil.

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  7. Interessante essa notícia a respeito de Keith com os Faces. Parece que vai valer a pena ver os caras ao vivo, hein?

    Abraço.

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