Filmes sobre Música: Rejeitados pelo Diabo (2005)


Por Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room

Rejeitados pelo Diabo (The Devil´s Rejects, 2005) não é bem um "filme sobre música" como os demais que já mostramos nessa seção, mas algumas características o credenciam a estar aqui na coluna. A primeira, e principal, é o fato de ele ser dirigido por Rob Zombie, um dos grandes nomes do heavy metal contemporâneo. E o segundo é a trilha-sonora simplesmente animal, repleta de clássicos do rock, que ele tem. Isso sem falar na estética macabra que irá agradar em cheio os headbangers.

Para quem não sabe, Rob Zombie (cujo verdadeiro nome é Robert Cummings) era o líder e vocalista de um dos grupos mais legais dos anos noventa, o White Zombie. Com a banda gravou discos muito bons, como La Sexorcisto: Devil Music, Vol 1 (1992) e Astro-Creep 2000 - Songs of Love, Destruction and Other Synthetic Delusions of the Electric Head (1995), ambos contendo alguns dos momentos mais interessantes e originais da música pesada dos anos noventa. O White Zombie acabou em setembro de 1998, e a partir dali Rob iniciou uma elogiada carreira solo.

Paralelamente, no início dos anos 2000 nosso herói, que já havia tido algumas experiências dirigindo clipes, estreou no cinema com o controverso A Casa dos Mil Corpos (House of 1000 Corpses, 2003), vendido com um dos filmes mais violentos e repugnantes da história do cinema, mas que, por causa de uma montagem confusa, agravada pelas exigências da Lions Gate (distribuidora da obra) para que Rob cortasse algumas cenas mais violentas (o que custou nada menos do que 20 minutos da película, que ficaram de fora da versão final), acabou sendo recebido sob uma chuva de críticas negativas pela crítica especializada.

Rejeitados pelo Diabo, seu segundo filme como diretor, é a sequência de A Casa dos Mil Corpos, mas assisti-lo não torna imperativo ter visto o primeiro (como é o meu caso). Rob pegou os personagens mais populares de sua estreia como diretor - o trio de maníacos Otis, Baby e Captain Spaulding - e montou uma história em torno dos três.


O fato é que estamos diante de um road movie sangrento e doentio, explícito e tenso, uma espécie de Assassinos por Natureza (Natural Born Killers, 1994, de Oliver Stone) dos anos 2000. Assim como no filme de Stone, apesar de os protagonistas serem extremamente sádicos e malucos - e de ambos os diretores fazerem questão de evidenciar essas características -, eles são também muito carismáticos, o que faz com que nos peguemos torcendo por um bando de psicopatas.

Zombie trata Otis (Bill Moseley), Baby (Sheri Moon Zombie, sua esposa) e Spaulding (Sid Haig) com extrema atenção. Otis é mostrado como um rock star do inferno, com sua cabeleira esvoaçante e seu visual idêntico ao do guitarrista Zakk Wylde (Black Label Society, Ozzy Osbourne). Baby tem seus dois lados contrastados no filme: a doçura de sua beleza e a negritude de sua mente. Além disso, Rob abusa da força sexual de Sheri Moon, e isso fica claro nos inúmeros takes, em close, dedicados à bunda de Sheri. E Captain Spaulding é a personificação de todos os nossos temores brutais em relação à figura do palhaço, chegando a lembrar, em vários momentos, o também pertubador Violator de Spawn, de Todd McFarlane.

Outro ponto de destaque em Rejeitados pelo Diabo é a ótima trilha-sonora, composta por clássicos do rock norte-americano setentista. Duas sequências em especial merecem destaque. A primeira é quando, no início do longa, Zombie usa a faixa "Midnight Rider", da Allman Brothers Band, para mostrar os crimes que a família Firefly (de onde vem os personagens principais e que está presente em A Casa dos Mil Corpos) cometeu. E a outra é quando, tendo como pano de fundo a clássica "Free Bird" do Lynyrd Skynyrd, Zombie nos leva em uma belíssima viagem pelas highways norte-americanas, culminando na cena final do longa. Em ambas, o áudio é formado apenas pelas canções, em um casamento de imagem e som que beira o sublime.

Não posso terminar esse texto sem falar de William Forsythe, veterano ator de filmes B - inclusive com participação em várias obras de Steven Seagal -, que faz o papel do atormentado xerife Wydell, que se revela tão lunático quanto aqueles que caça, em uma relação semelhante à mostrada com brilhantismo por Alan Moore na clássica HQ A Piada Mortal, onde Batman e Coringa se percebem muito mais como semelhantes do que como figuras antagônicas. A sequência de Forsythe conversando consigo mesmo em frente a um espelho é desde já antológica!

Rejeitados pelo Diabo é um grande filme, repleto de referências à história do terror nos cinemas. A trama é muito boa, a atuação dos personagens é sensacional (com os atores se entregando de forma pertubadora aos seus papéis), a direção de Rob Zombie é exemplar, e a cereja no bolo é a trilha, com clássicos do rock ianque servindo de trilha-sonora para algumas das cenas mais sangrentas da história recente da sétima arte.

Assista, e depois me diga o que achou.


Confira abaixo as faixas da ótima trilha do filme:

1 Film Dialogue - "You ain't getting me"
2 The Allman Brothers Band - Midnight Rider
3 Film Dialogue - "I call 'em like I see 'em"
4 Three Dog Night - Shambala
5 Film Dialogue - "Find a new angle"
6 Terry Reid - Brave Awakening
7 Film Dialogue - "It's just so depressing"
8 Kitty Wells - It Wasn't God Who Made Honky Tonk Angels
9 Film Dialogue - "Would you say that again"
10 Buck Owens and His Buckaroos - Satan's Got to Get Along Without Me
11 Film Dialogue - "This is insane"
12 Elvin Bishop - Fooled Around and Fell in Love
13 Film Dialogue - "Chinese, Japanese"
14 Otis Rush - I Can't Quit You Baby
15 Film Dialogue - "Top secret clown business"
16 James Gang - Funk #49
17 Film Dialogue - "Have fun scraping them brains"
18 David Essex - Rock On
19 Film Dialogue - "Tootie frutie"
20 Joe Walsh - Rocky Mountain Way
21 Film Dialogue - "What'd you call me?"
22 Terry Reid - To Be Treated
23 Film Dialogue - "You have got it made"
24 Lynyrd Skynyrd - Free Bird
25 Film Dialogue - "We've always been devil slayers"
26 Terry Reid - Seed of Memory
27 "Banjo and Sullivan radio spot #1"
28 Banjo & Sullivan - I'm Home Getting Hammered (While She's Out Getting Nailed)
29 "Banjo and Sullivan radio spot #2"

Comentários

  1. Pô Ricardo este filme é um clássico moderno. eu otenhoetodos os meus amigos que me visitam eu os faço assitir esta maravilha. O clima anos 1970 que o filme emana, a tensão dos 3 personagens. O Sadismo deles em matar... tudo é ben feito neste filme. E assista o 1°,que é bem inferior a este mais é divertido,justamente por seu ruim,entende? Depois deste ele fez a releitura de Haloween, que já bem discútivel.

    ResponderExcluir
  2. "The Devil's Rejects" foi um ótimo conserto da cagada realizada com "House of 1000 Corpses". E não adianta culpar apenas a péssima edição do filme, que faz com que o espectador menos atento perca o fio da meada. A composição dos personagens é completamente diferente e a abordagem é excessivamente histérica, fazendo muito mais rir que tentar assustar. Mesmo os ótimos Bill Moseley e Sid Haig acabam perdidos naquele emaranhado de boas ideias mal executadas e clichês forçados. Ainda bem que Rob fez um filme muito mais sério com "The Devil's Rejects", tomando sua inspiração do cinema setentista, com uma trilha que se encaixa muito bem na história, sem parecer forçada.

    ResponderExcluir
  3. Tiago, assisti ao remake do Halloween feito pelo Zombie e gostei. A maneira como ele constrói o personagem Michael Myers, indo de um menino com cara de anjinho para o psicopata, achei sensacional. Não vi o 2, apenas a primeira parte, mas gostei bastante.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  4. Ricardo.

    É justamente esta mania de explicar tudo, que me irrita. Acho muito mais aterrorizante e assustador um louco que mata pelo prazer de matar e não pq, foi maltratado na infância,ou algo que o valha. Basta uma explicação simples como foi no original, com Jason ou Freddy. Mesmo assim éum bom filme que ainda se sustenta,agora o 2°... BAsta dizer que a 1ª meia-hora do filme é um sonho. Isso já demonstra total falta de roteiro.

    ResponderExcluir
  5. Eu não assisti o segundo, Tiago, e como disse, acho a construção do personagem no primeiro remake sensacional.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.