Rigotto's Room: The Redwalls – Universal Blues – Quebrando as paredes vermelhas


Por Maurício Rigotto
Escritor e colecionador
Collector's Room

Há cerca de alguns dias, me foi pedido que fizesse uma espécie de retrospectiva entre os textos sobre música que publiquei no último ano. Revirei o baú e revi vários textos, entre eles alguns que já nem me recordava da existência. No arquivo havia escritos apenas medianos, alguns chegando a ser anódinos, e outros que, ao relê-los, sem falsa modéstia, me encheram de orgulho por serem de minha autoria. Porém, o que me chamou a atenção foi o fato de que a esmagadora maioria dos textos, mais de noventa por cento, eram acerca de artistas das décadas de cinqüenta, sessenta e setenta. Pouca coisa escrevi sobre bandas surgidas nas últimas três décadas. Há pessoas que estão estagnadas no tempo, pois defendem que “naquela época que se fazia música boa” e que tudo que foi produzido a partir de 1980 é lixo irrelevante. São pessoas mumificadas, empalhadas por algum taxidermista, que se alimentam de saudosismo e nostalgia por uma época em que muitas dessas próprias pessoas nem ao menos havia nascido. Embora reconheça que o rock teve seu ápice criativo nos anos sessenta, não sou uma dessas pessoas datadas. A música boa é atemporal e sempre busquei o novo, não me privando de ouvir os incontáveis novos artistas que surgem dia a dia. Poderia citar uma enorme lista de bandas maravilhosas que surgiram nos últimos dez anos – não o farei, mas poderia sem nenhuma dificuldade. Muitos novos tesouros musicais estão ao nosso dispor para serem descobertos e apreciados e contamos com a internet para nos auxiliar na garimpagem. Se formos esperar simplesmente pelo que toca nas rádios e televisões, realmente passaremos o resto da vida ouvindo os mesmos velhos discos, porém, os menos comodistas sabem que, embora o mundo esteja cada vez menor em vários aspectos, o universo é bem maior do que ele se mostra superficialmente. Então ao invés de citar e recomendar uma infinidade de bons artistas que ainda são desconhecidos da grande maioria, vou me corrigir e não ficar escrevendo apenas sobre os velhos, dissertando também sobre novos talentos que volta e meia lançam discos fantásticos e que ninguém ouve. Falando nisso, vocês já ouviram os Redwalls?

The Redwalls é uma banda de rock’n’roll formada em 2001 em Deerfield, um povoado de Illinois no subúrbio de Chicago, liderada pelos irmãos Logan e Justin Baren. Em 2003 os Redwalls lançaram o seu primeiro álbum, Universal Blues, que eu considero um dos melhores álbuns de rock do novo milênio. Ao colocar o disco para rodar, os primeiros acordes de “Colorful Revolution” já nos remete a sonoridade de bandas sessentistas como Beatles, Kinks, Byrds e Creedence Clearwater Revival – não que se pareça exatamente como essas bandas, mas percebe-se imediatamente que os garotos as ouviram exaustivamente para compor o seu estilo – mas o que mais surpreende é o vocal de Logan Baren, que nos lembra de imediato dois dos maiores ícones do rock mundial: John Lennon e Bob Dylan. É como se John Lennon tivesse reencarnado e montado uma nova banda, tentando soar como os Beatles na época do Cavern Club, embora “Colorful Revolution” nos remeta mais aos últimos tempos de Lennon na banda, como em “The Ballad of John and Yoko”, “Don’t Let me Down” e “One After 909” (essa última executada pelos Redwalls em seus shows). Os rocks “You’ll Never Know” e “It’s Alright” revelam os grandes méritos dos Redwalls: ótimos timbres adquiridos em combinações de guitarras Rickenbacker e Fender Telecaster, bons solos e backing vocals e principalmente, grandes e grudentas harmonias e melodias. Talvez a melhor faixa do disco seja “Speed Racer”, uma releitura da trilha sonora do famoso desenho animado dos anos sessenta, um rock básico empolgante capaz de levantar qualquer festa. A lenta “How the Story Goes” lembra um pouco o trabalho acústico de Neil Young (o que por si só já é um grande elogio). A primeira referência mais explícita a Bob Dylan surge em “What Shame”, onde além do vocal nos remeter ao estilo do cantor, há um órgão com timbre muito semelhante ao que ouvimos nos álbuns Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde. Após “Home”, outra bela balada, temos “Baliness”, cover do ZZ Top, onde temos a impressão que John Lennon regravou a sua maneira a música dos barbudos. A décima faixa, “I Just Want To Be The One” é totalmente Dylan safra 1965, sendo que qualquer desavisado acreditaria se tratar de algum outtake dos discos Bringing It All Back Home ou Highway 61 Revisited. Acho que até o próprio Bob Dylan teria dúvidas se era ele mesmo ou não na canção. Universal Blues termina com a faixa título. São onze canções brilhantes que formam um álbum coeso e magnífico, uma verdadeira aula de como quatro garotos podem fazer um grande disco de rock’n’roll básico, simples e direto. Em 2007 o relançamento de Universal Blues veio acrescido de seis faixas bônus, oriundas das primeiras demos gravadas pela banda.

No final de 2003, o baterista Jordan Kozer deixa a banda e é substituído por Ben Greeno. No inicio de 2005 lançam seu segundo disco, Da Nova, primeiro pela gravadora Capitol e produzido por Rob Schnapf (Elliot Smith, The Vines), e são convidados pelo Oasis a abrir a sua turnê de verão pela Inglaterra, onde participam de vários festivais, como o Lollapalooza. Em Da Nova os Redwalls mantém o seu rock básico, com acréscimos de saxofones e outros sopros ocasionais e órgãos e mellotrons que as vezes nos lembram Rolling Stones e The Band. O álbum alterna baladas, rocks com influências do som do Television - “Falling Down” - e até de bandas new wave, além de seguir influenciado por Bob Dylan – na acústica canção de protesto “Glory of War” – e pelos Beatles, como na alegre “Rock’n’Roll”. A faixa “Build a Bridge” foi incluída em um comercial da AT&T, tornando a banda relativamente conhecida na Inglaterra e nos Estados Unidos.



Em 2007 a banda lança um EP com quatro músicas, intitulado The Wall to Wall Sessions e em outubro lança o seu terceiro álbum, chamado apenas The Redwalls, produzido por Tore Johansson (Franz Ferdinand, Ok Go, The Cardigans). A banda segue fiel ao seu rock cru, incorporando referências a outras bandas que os influenciaram, como os Faces em “Put Us Down”, o Buffalo Springfield de Neil Young e Stephen Stills em “Little Sister” e The Creation em “Into the Maelstron”, além de acrescentar alguns elementos de rock psicodélico. O moderado sucesso de algumas canções do álbum rendeu ao grupo apresentações nos populares programas televisivos The Late Show with David Letterman e The Tonight Show with Jay Leno. A seguir, os Redwalls voltam à Inglaterra para abrir a turnê do grupo The Zutons. Ainda em 2008, o guitarrista Andrew Langer e o baterista Rob Jensen deixam o grupo para se dedicarem a outros projetos musicais, encerrando ao menos temporariamente a trajetória dos Redwalls.



Comentários

  1. Nunca ouvi essa banda, mas fiquei interessado no som.

    Abraço.

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  2. Comece pelo disco Universal Blues. Acredito que irás gostar!

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  3. Opa, também não conhecia a banda, mas pelas referências está na cara que os caras seguem a trilha dos bons sons. Vou correr atrás!
    Abraço.

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  4. Normalmente eu não comento,só leio os artigos da collector's room.Mas essa banda merece um comentário!
    Assim que terminei de ler fiu atrás de algumas musicas deles pra baixar.Sensacional!
    Normalmente eu tenho medo de ouvir essas bandas modernas,mesmo que tenham influencia dos clássicos,porque eu detesto rock moderno,tem algo nele que entra,mas não fica na cabeça.
    MAs essa banda!Eu ainda não acredito que ela seja do século XXI.

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  5. Eu fiz o mesmo que o Max Silva e catapumba!Rock da melhor qualidade,lembra tudo o que de melhor foi produzido pelo estilo que mais amamos.God Bless The Redwalls!

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  6. É amigos, já vi que vou ter que ir atrás desse disco.

    Abraço, e valeu pela dica Maurício.

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  7. Obrigado amigos!

    Fico feliz que minha coluna tenha despertado em vocês a vontade de conhecer a banda, pois era essa a intenção.

    Max, obrigado pelo comentário. Não leve a mal, mas você não deve ter "medo de ouvir essas bandas modernas" e "detestar rock moderno", pois isso só vai te privar do conhecer muitas bandas ótimas. Como os Redwalls, há dezenas de bandas sensacionais feita por garotos do século XXI. Sei que existe muita porcaria, mas não se pode generalizar assim. Em todas as épocas se produziu música boa e música ruim, a gente é que tem que selecionar, independente da década.

    Grande abraço a todos!

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  8. Mauricio,essa banda abriu minha mente.A partir de agora vou ficar mais ligado nas novidades.

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