Sam Dunn acerta a mão de novo em Beyond the Lighted Stage, documentário que conta a história do Rush


Por Ricardo Seelig
Colecionador
Collector´s Room


Atualmente, não existe trabalho similar ao desenvolvido pelo antropólogo e cineasta canadense Sam Dunn. Apaixonado pela música pesada, Dunn montou uma produtora com o amigo Scot McFayden – batizada, convenientemente, como Banger Films – e começou a produzir documentários sobre o heavy metal e alguns dos seus ícones.

A história começou em 2005, com o obrigatório
Metal: A Headbanger´s Journey, que conta a história do gênero. Sua sequência, Global Metal, saiu em 2008. O ótimo trabalho desenvolvido por Dunn nesses dois filmes fez com que o Iron Maiden o escolhesse a dedo para documentar a Somewhere Back in Time Tour, e o resultado foi o também excelente Flight 666, lançado em 2009. Agora é a vez de outra das bandas favoritas de Dunn, o também canadense Rush.


Beyond the Lighted Stage conta a história do trio formado por Geddy Lee, Alex Lifeson e Neil Peart como ela nunca foi contada antes. De forma reverencial, músicos como Kirk Hammet, Mike Portnoy, Gene Simmons, Vinnie Paul e inúmeros outros mostram como o Rush os influenciou de maneira definitiva.

Sam Dunn equilibra, com grande habilidade por sinal, sua narrativa entre momentos onde a música é o foco principal com outros onde a relação entre os três integrantes do trio e a equipe que sempre os rodeou passa a ser o assunto dominante. Salta aos olhos a profunda amizade entre Lee e Lifeson, e em como a identificação e admiração mútua serviu de raiz para toda a carreira do Rush. A saída de John Rutsey, o baterista original, devido a sua fraca saúde, e sua substituição pelo espetacular Neil Peart é narrada pelos próprios Geddy e Alex, estupefatos e enfeitiçados pelo talento gigantesco de Peart.


Estruturado em capítulos,
Beyond the Lighted Stage conta a trajetória do Rush de forma cronológica, desde o nascimento de seus integrantes até o último disco de estúdio do grupo, Snakes & Arrows, de 2007. Dois momentos emblemáticos chamam a atenção. O primeiro acontece quando a banda, em franca ascensão devido à boa repercussão dos discos Rush (1974) e Fly by Night (1975), viu a sua carreira ser ameaçada pela péssima recepção, tanto por parte da crítica (que sempre os ignorou, diga-se de passagem) quanto de sua própria gravadora, do álbum Caress of Steel, terceiro disco do grupo, um intrincado manifesto hard prog lançado em setembro de 1975. Como consequência, o grupo começou a tocar em lugares menores e a receber uma grande pressão da Mercury, seu selo, que exigia um single de sucesso.

Fiéis aos seus instintos e acreditando cegamente em sua música, Lee, Lifeson e Peart não cederam, e, no lugar do single requerido, entregaram um álbum baseado em ficção científica, cuja faixa-título era uma suíte de sete partes com mais de vinte minutos de duração! O resultado, o disco
2112 (1976), foi aclamado pelos fãs e deu carta branca para o Rush seguir os caminhos artísticos que bem entendesse em sua carreira.


O outro ponto crucial aconteceu em 4 de julho de 1997, quando o grupo estava na estrada promovendo o álbum
Test for Echo e recebeu a notícia de que a filha de Neil Peart, Selena, então com 19 anos, havia falecido em um acidente de carro. Buscando forças para se recuperar da tragédia, Neil e sua esposa Jaqueline mudaram-se para a Califórnia, onde menos de um ano depois, em junho de 1998, Jaqueline faleceria vitimada por um câncer fulminante.

Repentinamente sem chão e vendo a sua vida desmoronar diante de seus olhos, Peart pegou a sua moto e viajou desesperadamente e sem rumo por mais de 90 mil quilômetros. Geddy Lee, Alex Lifeson e as demais pessoas próximas ao grupo eram tranquilizados por postais enviados periodicamente por Peart das mais variadas partes do continente americano. Nesse momento a banda esteve seriamente próxima do fim, mas foi reativada pelo próprio baterista, que quando se sentiu pronto propôs à dupla restante o retorno das atividades do conjunto, resultando no álbum
Vapor Trails, de 2002.

Beyond the Lighted Stage é um filme emocionante do início ao fim, e mostra uma banda nua e livre de qualquer artifício como poucas vezes se viu. O Rush dá uma aula de integridade artística, respeito aos fãs e fé inabalável em seus princípios. Além disso, traz um segundo DVD repleto de material extra, onde o destaque são vídeos raros com a participação de John Rutsey.

Resumindo, um filmaço!

Comentários

  1. Comprei o DVD em uma loja virtual, e estou na expectativa de que ele chegue pelo correio... tentando conter a ansiedade...

    Sendo a história do Rush, e ainda tendo a assinatura do Sam Dunn, não preciso nem assistir para saber que é coisa boa...

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  2. Micael, comprei sábado na Saraiva, e assisti no mesmo dia. Sensacional!

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  3. Cadão...pergunta:
    Esse vendido pela SAraiva já é o legendado ou não?

    Valeu

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  4. Fernando, comprei em uma loja física da Saraiva aqui em Floripa. Duplo, legendado com português do Brasil (e não de Portugal), 29,90 senão me engano.

    É demais, recomendo!

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  5. R$29,90? Que barato!!!

    Onde eu comprei estava R$51,90, mas como eu havia ganho um bônus de 30 reais, saiu por R$21,90...

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  6. Na loja física tá mais barato mesmo.

    Quero comprar o DVD do filme do Anvil. Alguém sabe se ele saiu no Brasil neste formato?

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  7. Cadão
    Fiquei interessado nesse Global Metal. Ele foi lançado aqui no Brasil?

    Até mais

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  8. Acho que não, Fernando. Também quero ele, mas acho que não pintou por aqui.

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  9. Baixei piratão na internerd e me gozei nas cueca. Impressionante! Eles tem imagens de altíssima qualidade desde os primórdios dos primórdios. Desde filmagens caseiras do Alex Lifeson adolescente em casa discutindo na mesa com os pais ("não vou terminar os estudos, eu quero é tocar guitarra") até umas pauleiras lá de início de carreira que não estão em disco algum! É legal ver coisas como o John Rutsey (primeiro batera) tomando a dianteira e sendo o porta-voz do grupo na primeira fase, enquanto os outros dois exageradinhos ficavam no birlu-birlu.
    Realmente, para agradar o mais exigente dos fãs!

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  10. O doc faz uma onda em cima do lance "eles eram marginalizados", "a crítica odiava eles", "a virtuose em excesso é para adolescentes deslumbrados que querem ver o cara tocar ao invés de ouvir a música", etc.
    O filme revida ao ressaltar as virtudes e mostrar que sim, existe um público fiel.
    Mas não pude deixar de notar uma coisa: os membros da banda são francos ao criticar alguns muitos álbuns ("Talvez tenhamos viajado demais e nos perdido em Caress of Steel", "Hemispheres é exagerado e muito virtuoso, não queremos nunca mais fazer esse tipo de álbum" "Permanent Waves é importante por nos conduziu para o Moving Pictures" e "Nos perdemos na era dos sintetizadores"). Essa lucidez ao apontar os próprios defeitos é uma virtude, mas acaba soando como uma "mea culpa" e levando a questionar: "se até eles dizem isso, será que no fundo os críticos tem razão?".
    Outro parte que gostei muito: o produtor no início dos 90 (não lembro o nome agora, falha minha) falando de como precisou "brigar" para arrancar a banda da era dos sintetizadores e jogar eles de volta ao básico ("não Alex, não vou deixar você usar a droga do pedal nessa música!")! O resultado acabou sendo discos que curto demais, como Counterparts e Test For Echo.

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  11. Mais duas (piadas) para os fãs:

    1) Que bom que eles concordam que, além de feios, as roupas e os cabelos sempre foram o "ponto fraco" da banda (e putaquepariu, ver todos aqueles telhados horrorosos do Geddy é prá matar).

    2) Eles admitem: "nosso público é totalmente masculino"! Hahahaha! O diretor até tenta contornar mostrando umas fãs, mas não adianta (e podem me chamar de machista): se for música que não se pode dançar, o público feminino vai reduzindo...

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  12. Rodrigo, o filme é excelente mesmo. Sobre a fase oitentista do Rush, parei no Moving Pictures. Não conheço praticamente nada dos discos anteriores, a não ser "Grace Under Pressure", que veio no Hear´n Aid. "Subdivisions", que todo mundo adora, pra mim não diz nada.

    E aí moçada, esse DVD é pra ter em casa, sensacional!

    Abraço.

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  13. Até eu que nunca fui muito fã da banda estou pensando em comprar.

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  14. Eu gosto do Rush, mas me abstenho da fase oitentista.

    Meu top#5 do grupo seria:

    2112 (1976)
    Hemispheres (1978)
    Fly by Night (1975)
    Permanent Waves (1980)
    Moving Pictures (1981)

    E com menção honrosa ao duplo ao vivo Exit ... Stage Left (1981), um dos discos que eu mais ouvi na vida.

    E o de vocês, qual seria?

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  15. Eu sou um fã-nático pelo Rush. Até da terrível fase oitentista eu consigo achar coisas para gostar...

    Mas admito que, desde o Exit..., o único disco de estúdio que eu realmente "gosto" inteiro é o Counterparts...

    Meu Top 5:
    1) Permanent Waves
    2) Moving Pictures
    3) Hemispheres
    4) 2112
    5) A Farewell To Kings

    Isso porque não quero contar os ao vivo, senão o Exit... e o Different Stages seriam obrigatórios na lista...

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  16. Meu Top 5 invertido (os piores):

    1) Power Windows
    2) Hold Your Fire
    3) Grace Under Pressure
    4) Roll The Bones
    5) Vapor Trails

    Mas, como fã-nático, mesmo esses discos têm coisas legais...

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  17. Eu acho o Exit ... Stage Left um dos melhores discos ao vivo de todos os tempos. E o último deles, Snakes & Arrows, também gostei bastante.

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  18. Porra, to louco pra ver isso duma vez.

    Meu top list dos melhores na ordem:

    Caress Of steel
    Hemispheres
    Counterparts
    Rush
    Vapor Trails

    Piores na ordem

    Hold Your Fire
    Grace Under Pressure
    Moving Pictures
    Test for Echo
    Presto

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  19. Este comentário foi removido pelo autor.

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  20. Não posso deixar de listar os meus favoritos:

    1- Permanent Waves
    2- Moving Pictures
    3- Counterparts
    4- Hold your Fire
    5- Hemispheres

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  21. Isso que o Rodrigo citou sobre a discussão de Alex com sua família a respeito do rumo que teria que tomar na vida é algo de valor fantástico. Parece até que o cara já sabia que seria famoso e estava sendo filmado conscientemente, heheheh...

    Meu Top 5 HOJE é o seguinte:

    1. Hemispheres
    2. Moving Pictures
    3. A Farewell to Kings
    4. 2112
    5. Permanent Waves

    Acho que só a dupla de cima é invariável... o resto pode mudar conforme meu humor, momento... até 82 é só coisa boa...

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  22. É verdade, essa cena do Alex com a família é antológica.

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  23. Top 5:

    1) A Farewell To Kings
    2) Rush
    3) Fly By Night
    4) Hemispheres
    5) Moving Pictures

    Putz, queria meter aí mais uns: Test For Echo, Counterparts, Caress of Steel, 2112...

    Minha música preferida é Bastille Day, do Caress of Steel.

    E quero fazer uma retificação: em meu primeiro comentário disse que eu havia baixado o filme. Na verdade, quem baixou foi o meu amigo Betão. Ele tá sempre lendo o Collector's Room e logo vai me cacetear se eu não corrigir o comentário!

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  24. Um documentário perfeito, do nível que o Rush merece! Galera, a cena do Alex com sua família pelo que parece foi feita por atores, se não me engano. Difícil alguém filmar um cotidiano domiciliar sem motivo algum. Estou vendo que fui o único que morreu nos 70 reais! Encomendei o DVD 10 dias antes do lançamento importado por esse preço. Não diria que o Rush deu a idéia de mea culpa. Eles foram muito sinceros na sua auto- análise, mas escancararam os discos de ouro e platina que eles conseguiram e que os ranquiaram atrás somente dos Beatles e Stones... E ainda soltaram umas alfinetadas no Kiss merecidas após falas debochadas de Gene Simons com essas: ("... quando eram uma banda esquisita de Nove York..." e em "...podem falar o que quiser do Kiss musicalmente ou não... mas faziam valer a pena o dinheiro gasto nos shows") E os músicos que participaram da conversa só faltaram se render de forma Ave Cesar... É a história que qualquer grande fã gostaria de ouvir contada por eles próprios...

    Top 5:
    1.Caress of steel
    2.Hemispheres
    3.Permanent Waves
    4.Moving Pictures
    5.A Farewel To Kings
    --Luciano

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  25. Será que aquela cena foi feita com atores? Se foi, o cara que faz o Alex é a cara dele.

    DVDzaço!

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  26. Dvd perfeito.Voltamos a época do vinil quase sem nenhuma informação.
    Porque o segundo dvd não foi legendado?

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  27. Sérgio, porque DVDs musicais legendados no Brasil são raros, infelizmente.

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  28. Mas o filme, que é o que importa no final das contas, tem legendas em português e é muito bom.

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  29. É verdade Ricardo.Mas é uma obra-prima.Imagens históricas. Me fez voltar a década de 70.Poucos conheciam e vivíamos cada estrofe,cada música,naquela divigulção boca a boca.Chegava um parceiro com um vinil e rodávamos no prato:espanto geral,quem eram aqueles caras?!!!"Rivendell"tocando na madrugada.Bons tempos de música verdadeira...Graças a Deus eles vieram em Porto Alegre,nem sei como.

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  30. Somente ontem tive o prazer de ver o filme. Achei o documentário bem legal, apesar de passar muito rápido pelo presto e pelo Roll The Bones, mas enfim, no geral ficou em bom nível. Agora o melhor mesmo foi o DVD de extras. A apresentação de John Rutsey me emocionou muito (até por eu preferir a fase inicial do Rush a fase Peart) e o jantar é mais do que hilário. Altamente recomendável, e que venha o DVD do Purple!

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  31. Mairon, você prefere a "fase inicial do Rush", que só gravou um disco, em detrimento aos outros vinte?

    Poxa ...

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  32. Acho q nao me expliquei bem, a fase inicial é do Rush ao 2112

    Essa é a q prefiro, e nela estão o Rush (do Rutsey) e o Caress Of Steel, que eu gosto muito!

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  33. É que você escreveu que prefere "a fase inicial do Rush a fase Peart", e que eu saiba apenas o primeiro disco, Rush, conta com o Rutsey, enquanto que os três posteriores, Fly by Bight, Caress of Steel e 2112, tem não só o Neil Peart na bateria mas também suas letras sensacionais, que fizeram e continuam fazendo muita diferença na carreira do Rush.

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  34. Sim, pensei uma coisa e escrevi outra.

    O que eu curto mais é a fase inicial, que vai até o primeiro ao vivo. A segunda fase é muito boa tb, mas a fase inicial, onde o Peart ainda não era um monstro na bateria e o John Rutsey colaborou com o primeiro disco para mim é a mais rock'n'roll e que se encaixa melhor nos meus ouvidos

    Mas o meu top 5 do Rush, que citei acima, é mais direto

    Caress Of steel
    Hemispheres
    Counterparts
    Rush
    Vapor Trails

    Neleestão dois discos da fase I, um da fase IV, um da fase V e um da fase II, onde divido as fase para cada quatro albuns (Fase I Rush - 2112; Fase II A Farewell to Kings - Moving Pictures; Fase III Signals - Hold Your Fire; Fase IV Presto - Test For Echo, Fase V Vapor Trails - hj em dia. Acho q agora me expliquei

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  35. Eu gosto das duas primeiras fases, que são marcadas pelos dois primeiros álbuns ao vivo - All the World´s a Stage e Exit ... Stage Left. A grande maioria dos discos lançados pela banda nos anos oitenta acho terríveis, e tenho curtido a fase atual, principalmente o álbum Snakes and Arrows, que gostei bastante.

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