Black Country Communion - Black Country (2010)


Por João Renato Alves
Colecionador
Collector´s Room

Cotação: ****1/2

A expectativa era grande. Houve até a ameaça de não sair mais, graças a fatores externos. Mas aqui está o Black Country Communion, o novo dream team do rock. A ideia nasceu em 2009, após uma jam session envolvendo Glenn Hughes e Joe Bonamassa durante o
Guitar Center’s King of the Blues, na cidade de Los Angeles. Para completar o line-up de feras, foram chamados ninguém menos que o tecladista Derek Sherinian, com sua folha corrida mais que extensa, e o baterista Jason Bonham, simplesmente o “filho do homem”. Após alguns ensaios, ficou provado o potencial para criar músicas próprias. Para ajudá-los, o produtor também deveria ser algum craque. Sendo assim, Kevin “Caveman” Shirley foi convocado.

Uma introdução de baixo seguida de uma verdadeira pedrada tipicamente setentista apresenta o poder de fogo da turma em “Black Country”, som que traz aquele clima nostálgico na cabeça automaticamente. O clima vintage prossegue em “One Last Soul”, com uma pegada simplesmente absurda de Jason em um hard rock dos bons. A veia black do grupo dá as caras em “The Great Divide”, música que é a cara de Glenn Hughes, que dá um show de interpretação, nos remetendo a tempos longínquos. Um riff aparentemente composto às margens do rio Mississipi dá a partida em “Down Again”, com Sherinian realizando sua primeira participação de efeito maior, além de uma sincronia vocal perfeita entre Glenn e Joe.


O peso das primeiras reaparece em “Beggarman”, com um riff sincronizado entre guitarra e baixo de cair o queixo. “Song of Yesterday” começa como uma balada e explode em uma levada funkeada de primeira linha, mostrando que o baterista tem “sangue de zepelim” nas veias. Lá pelo meio vira uma jam cheia de feeling, mostrando o porquê desse projeto ser tão aguardado pelos fãs dos bons sons. E o melhor, sem egocentrismo barato. Quando menos se espera, o rock pesado vem à tona na ótima “No Time”, que poderia facilmente se passar por um dos momentos mais hards do MKIII do Deep Purple. E já que o negócio é vasculhar o passado, nada melhor que uma releitura para “Medusa”, do Trapeze. Aí, a gente tem que ressaltar que mesmo após tanto tempo, Glenn ainda consegue driblar as dificuldades impostas pelo tempo e usar sua categoria na interpretação.

Bonamassa toma conta em “The Revolution in Me”, que poderia muito bem estar em um de seus trabalhos solo, apesar das viagens instrumentais mais elaboradas no meio da faixa. “Stand (At the Burning Tree)” é um ótimo exemplo de como fazer uma batida pulsante, quase dançante, sem perder a veia roqueira de foco - algo que Glenn Hughes sempre gostou de fazer. Uma entrada à la AC/DC chega a assustar no começo de “Sista Jane”. Mas logo entra uma levada mais condizente com o que foi feito até aqui, além de uma alternância vocal excelente entre Hughes e Joe. Hardão com alma negra. Para encerrar, a mais longa de todas. Os onze minutos de “Too Late for the Sun” funcionam como uma espécie de resumo de tudo que se ouviu no álbum, com direito a longa parte instrumental, como era de se esperar.

Não é um disco de fácil assimilação. Logo, não é para todos. Mas quem conseguir absorver a atmosfera proposta pelo quarteto tem tudo para colocá-lo na lista dos melhores trabalhos do ano. Portanto, ouçam com seus espíritos preparados para jams e viagens variadas. Partindo desse pressuposto, temos aqui um excelente trabalho, digno dessa união de feras. Interessante notar que, embora sejam gêneros diferentes, há uma semelhança facilmente perceptível com o novo do Iron Maiden. O fato de quase todas as faixas mais diretas estarem no começo, enquanto as mais complexas ficaram pra depois. Não deve ser mera coincidência o produtor ser o mesmo.


Faixas:
1 Black Country
2 One Last Soul
3 The Great Divide
4 Down Again
5 Beggarman
6 Song of Yesterday
7 No Time
8 Medusa
9 The Revolution in Me
10 Stand (At the Burning Tree)
11 Sista Jane
12 Too Late for the Sun

Comentários

  1. Muito interessante.
    Só para não perder a oportunidade. Seguindo a linha da matéria sobre as árvores genealógicas, com essa banda podemos fazer a ligação do Deep Purple com o Dream Theater...rs

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  2. Fernando, acredita que na hora que eu estava publicando esse texto lembrei dessa sua matéria (risos)?

    E eu quero ouvir esse disco, ter em casa, porque eu acho que promete - e muito!

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  3. Fernando, só para ver como o buraco é mais embaixo nessa história de "ligação com o Deep Purple":

    - O Derek Sherinian tocou com o Dream Theater e com o Alice Cooper. O Eric Singer tocou com o Alice Cooper e com o Black Sabbath (e com o Kiss também, eu sei). E o Black Sabbath e o Purple são umbilicalmente ligados.

    Portanto, a ligação já era possível mesmo antes do BCC...

    É meio "viagem", como falei antes, mas é "cientificamente comprovado"...

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