John Norum - Play Yard Blues (2010)


Por João Renato Alves
Colecionador
Collector´s Room

Cotação: ****

De certa forma, John Norum sempre se sentiu um estranho no ninho nos anos 1980. Com influências de guitarristas das escolas de décadas anteriores e uma forte veia blueseira em sua formação, o músico nunca se considerou parte da cena que predominava, mesmo fazendo parte de uma das bandas que definiu aquele som. Recentemente o próprio declarou em entrevista que os únicos que achava interessante de todo aquele cenário musical eram Eddie Van Halen e Michael Schenker. Quando a coisa foi ficando cada vez mais colorida, John largou o Europe de vez e partiu para a carreira-solo. Mas seus trabalhos nunca fugiram muito do hard rock que o tornou conhecido.

Mesmo com as decantadas diferenças musicais, Joey Tempest e companhia não hesitaram em chamar o guitarrista para uma reunião. Algumas mudanças foram feitas, desagradando aqueles que são chegados numa purpurina. Opiniões à parte, o fato é que o Europe segue lançando bons discos, é apenas uma proposta diferente.

Mas com o grupo atendendo seu lado hard, Norum entendeu por bem mergulhar de cabeça no outro lado de sua personalidade musical em seu novo álbum solo. E isso já fica claro desde o título, Play Yard Blues. Aqui a guitarra nervosa e riffeira fala alto, em uma das melhores performances de John nos últimos tempos, mandando ver em solos de primeiríssima qualidade. E sua performance vocal faz jus à empreitada, adequada ao que pede o gênero.

O primeiro destaque já vai para a capa, com o músico e seu filho Jake Thomas, fruto do casamento com Michele Meldrum, que infelizmente faleceu em 2008, quando o garoto tinha apenas 3 anos. Para deixar o negócio ainda mais intimista, os teclados foram gravados por Mic Michaeli, colega de Europe. O play abre com John soltando os bichos em “Let it Shine”, hard blues que parece ter saído direto dos 1970’s. O clima segue em “Red Light, Green High”, música perfeita para se ouvir em uma estrada aberta em direção desconhecida. Outros destaques vão para as mais agitadas “Got My Eyes on You” e “Born Again” (porrada pura, com a sonoridade mais atual entre todas) e a faixa-título, que encerra em um daqueles momentos que caras como Jimmy Page adorariam estar por perto e dar umas palhetadas junto.

Ainda há espaço para três covers de grupos que são total inspiração na empreitada: Thin Lizzy ("It’s Only Money"), Mountain ("Travellin’ in the Dark") e Frank Marino & Mahogany Rush ("Ditch Queen"). Todas em registro fiel às versões originais, com destaque para a primeira, onde parece que “baixou a garganta” de Phil Lynnot em Norum.

Não é o disco que vai mudar a vida de alguém, talvez nem entre na lista de melhores do ano. Mas é música feita com o coração e a alma, que só um músico de verdade pode proporcionar com tamanha destreza e talento. Vale mais que uma conferida!


Faixas:
1 Let It Shine
2 Red Light Green High
3 It's Only Money
4 Got My Eyes on You
5 When Darkness Falls
6 Over and Done
7 Ditch Queen
8 Travel in the Dark
9 Born Again
10 Play Yard Blues

Comentários

  1. Pertinente o comentário sobre John Norum "baixar a garganta" de Phil Lynott. Ainda não ouvi esse cover mas já escutei um anterior, "Opium Trail", uma de minhas canções favoritas do Thin Lizzy. A influência de Phil é latente e a versão é ótima.

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