Kamelot - Poetry for the Poisoned (2010)


João Renato Alves
Jornalista e Colecionador
@jrenato83


Cotação: ****1/2

A melhor banda da ala melódica do heavy metal contemporâneo se chama Kamelot. E não é de agora. Há no mínimo quatro discos os caras se sobressaem junto à mesmice em um estilo que caiu na vala comum. O segredo? Agregar novos elementos, buscando diferentes sonoridades a sua música. Outro grande mérito do grupo é conseguir ser atmosférico e envolvente sem precisar transformar cada faixa de seus álbuns em uma tortura para os que gostam de um som mais direto – nenhuma música aqui ultrapassa os cinco minutos e meio. Não há exibições de habilidade gratuitas e desnecessárias, apenas o que se encaixa no contexto é colocado.

Após ter lançado sua obra-prima definitiva, o estupendo
The Black Halo, o Kamelot pôs no mercado o ótimo The Ghost Opera. Mas, talvez pela inevitável comparação com seu antecessor – o que, por si só, já é uma covardia com qualquer coisa que venham a lançar até o fim da carreira – o play não foi uma unanimidade entre os adeptos. Agora, com menos pressão e expectativa, o grupo volta com sua mais nova investida. Poetry for the Poisoned traz não apenas a banda em outra grandiosa empreitada como um verdadeiro time dos sonhos de convidados. Declarações dos músicos davam conta que esse seria o trabalho mais variado de todos. Faz sentido, embora alguns momentos sigam a linha já tradicional do roteiro de uma produção do agora quinteto.

Uma intro com o baixo em destaque anuncia “The Great Pandemonium”, que já traz a primeira participação especial, ninguém menos que Björn “Speed” Strid, vocalista do Soilwork. Não tem como não lembrar de “March of the Mephisto”, com Shagrath e Roy Khan protagonizando uma memorável sincronia de vozes. Mas aqui a canção tem um clima menos soturno. Na sequência vem “If Tomorrow Came”, com sua entrada violenta, que se transforma em uma cadência bem interessante nos momentos seguintes. “Dear Editor” é uma curta vinheta, que abre caminho para a ótima “The Zodiac”, com o sempre fantástico Jon Oliva dando um show de interpretação, como só ele sabe fazer. Impressionante como seu registro casou perfeitamente com o de Khan. Sem dúvida, um dos pontos altos.

A variada “Hunter’s Season” dá uma animada no clima, com um toque progressivo em sua execução. Simone Simons já se tornou membro honorário da banda faz tempo. Sua primeira aparição dessa vez acontece em “House on a Hill”, música com belas orquestrações ditando o ritmo, além de uma passagem acústica no final, mostrando todo o talento de Thomas Youngblood. “Necropolis” chegou a me lembrar alguma coisa do álbum único do Heaven and Hell em meio a sua melodia tipicamente Kamelot. Já “My Train of Thoughts” conta com um refrão bem mais acessível. Uma faixa que poderia tranquilamente estar em
Karma ou Epica, os antecessores de The Black Halo. “Seal of Wolven Years” aparece e some sem deixar grandes registros de sua passagem.

Aí tem início a complexa faixa-título, que na verdade, é uma suíte dividida em quatro faixas. Para acompanhar Roy nas vozes, duas belas (em todos os sentidos) cantoras: a já citada Simone Simons e Amanda Somerville, essa segunda responsável pelos corais, mostrando toda sua versatilidade. A verdade é que não havia a necessidade de dividi-la tanto, pois a soma das quatro partes não chega a dez minutos. De qualquer modo, é outro grande momento, especialmente de Thomas, que dá uma dinâmica toda especial a seus solos, fazendo com que se encaixem no clima, sem demonstrar técnicas espalhafatosas. É quase como se a guitarra também cantasse a melodia, complementando os vocais.

O tracklist normal se encerra com “Once Upon a Time”, a mais rápida de todas, na linha de “Farewell” e “When the Lights are Down”, com cara de hit entre os fãs – tendo como parâmetro o que essa expressão significa no meio do metal. A faixa-bônus é “Thespian Drama”. Devo dizer, que pena não estar no álbum. Uma instrumental daquelas que dá gosto de ouvir, com peso e técnica. E olha que sou chato com esse tipo de proposta, mas aqui não tem como criticar. Das melhores feitas nos últimos tempos nesse estilo. Mais uma salva de palmas para Youngblood, definitivamente o craque do jogo dessa vez.

Não foi dessa vez ainda que o Kamelot superou
The Black Halo. Mas quer saber a verdade verdadeira? Isso não vai acontecer. Não apenas pela qualidade, mas por tudo aquilo que essa obra representa. Um momento de exceção, não apenas na carreira da banda, mas da cena como um todo. Posto isso, dá para afirmar que Poetry for the Poisoned é mais um momento brilhante na história dessa, que é a melhor banda de power metal surgida nos últimos anos. E, sem medo de errar ou soar precipitado, uma das melhores de todos os tempos.


Faixas:
1 The Great Pandemonium
2 If Tomorrow Came
3 Dear Editor
4 The Zodiac
5 Hunter's Season
6 House on a Hill
7 Necropolis
8 My Train of Thoughts
9 Seal of Woven Years

"Poetry for the Poisoned"
10 Pt. I - Incubus
11 Pt. II - So Long
12 Pt. III - All Is Over
13 Pt. IV - Dissection
14 Once Upon a Time



Comentários

  1. Já anotado na lista de futuras aquisições. Kamelot é uma bandaça!

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  2. Desde o lançamento de "Karma", uma das minha bandas favoritas. Em estúdio é matadora, ao vivo, nem se fala. É esperar que voltem logo ao Brasil. A única coisa que não gosto é desse tecladista, já que nos roubou Simone Simons...

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  3. Taí uma banda que desconheço. Muito falada, mas devido ao rótulo 'melódico' nunca tive a devida coragem de sequer baixar algo.

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  4. É a melhor banda do que se convencionou rotular como "metal melódico" já há um bom tempo, especialmente por fugir dos clichês do gênero. Gostei muito da música, pretendo ouvir o álbum.

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  5. Sinceramente, acho que não podem ser rotulados como melódicos desde o "Fourth Legacy". Algumas músicas flertam com o estilo, mas de leve. É uma sonoridade bem própria que conseguiram criar junto com o Sascha Paeth.

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  6. A própria banda não se classifica como metal melódico, apesar de os fãs e a crítica a colocarem nesse rótulo. Segundo eles, o Kamelot faz um "progressive metal".

    Para mim, os caras encontraram a sua identidade própria no The Black Halo, que é um discaço. O som une elementos de metal melódico com prog metal, só que os elementos do melódico fogem totalmente dos clichês do gênero, e esse aspecto torna a banda diferenciada, várias degraus acima das demais.

    Leandro, vá atrás do The Black Halo que você não irá se arrepender.

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