Os vocalistas misteriosos do Black Sabbath


Por João Renato Alves
Jornalista e Colecionador
@jrenato83

Ozzy Osbourne, Ronnie James Dio, Ian Gillan, Glenn Hughes e Tony Martin. Quem conhece a história do todo poderoso Black Sabbath sabe muito bem que todos estes grandes vocalistas deixaram seus trabalhos registrados em lançamentos da banda.

Mas eles não foram os únicos a comandar o microfone. Cinco outros fizeram parte do grupo – embora alguns não sejam oficialmente considerados como integrantes por Tony Iommi. A época de maior rotatividade aconteceu durante os anos oitenta, quando a formação mudava com a mesma frequência que qualquer um de nós troca de roupa (sim, foi um exagero, mas faz parte da ideia). Ainda bem que vamos nos limitar aos cantores. Caso contrário, seria necessário um livro para conseguirmos estabelecer um dossiê completo.

Dave Walker

Em 1977, após a morna turnê de divulgação para o disco
Technical Ecstasy, Ozzy decidiu sair da banda pela primeira vez. A depressão, somada aos excessos químicos que cobram seu preço até hoje, fizeram com que o lendário Madman pedisse as contas, deixando seus colegas com um misto de tristeza e alívio, já que a situação havia se tornado insustentável.

Na hora, Tony Iommi lembrou o nome de um velho conhecido dos tempos de Birmingham, que já tinha certa experiência no meio musical. Era Dave Walker, que contava em seu currículo com passagens por Savoy Brown e Fleetwood Mac, para citar apenas os mais conhecidos.

Foram apenas três semanas de união, com algumas músicas compostas e uma aparição na televisão para o programa
Look Hear, da BBC Midlands. Na ocasião, o quarteto tocou “Junior’s Eyes”, que teve sua letra modificada para entrar no álbum Never Say Die!, já com Ozzy de volta ao seu posto. Esse talvez seja um dos momentos mais obscuros da carreira do grupo em se tratando de participações televisivas. Quem assistiu à época sabe como foi. Quem não conferiu, sonha com essa possibilidade até hoje, pois o vídeo desse momento segue como um dos grandes mistérios do rock. Ao menos, o áudio está aí para quem quiser conferir.




David Donato

O retorno de Ian Gillan ao Deep Purple em 1984 colocou um ponto final na era
Born Again. Mais uma vez, o Sabbath se encontrava em um momento difícil, sem grandes perspectivas em um futuro imediato. A primeira medida de Tony Iommi e Geezer Butler foi promover o terceiro retorno de Bill Ward. Mas ainda faltava solucionar a ausência de um vocalista, então apostaram no desconhecido David Donato. Para causar impacto, chamaram o mega-produtor Bob Ezrin (Alice Cooper, Kiss, Pink Floyd), que os ajudou nos ensaios e novas composições. Uma entrevista e sessão de fotos foi feita para a conceituada revista britânica Kerrang. Mas a ideia não passou disso mesmo, com o grupo se dissolvendo na sequência.

Para Donato, sobrou o consolo de suas gravações terem chamado a atenção de Mark St. John, recém saído do Kiss, que o convidou para integrar o seu novo projeto, o White Tiger. A banda lançou apenas um disco, fez alguns shows em território norte-americano e terminou, graças à baixa repercussão.

Pouca coisa da época do vocalista ao lado de Iommi e companhia foi mostrada ao público, embora seja dito por quem esteve próximo que muito se foi trabalhado. O momento mais famoso é “No Way Out”, música que acabou originando “The Shining”, faixa de abertura do álbum
The Eternal Idol, lançado em 1987, e que marcou a estreia de Tony Martin.




Jeff Fenholt

Eis o nome mais polêmico da lista. O astro principal da produção de
Jesus Christ Superstar para a Broadway jura que integrou o grupo por um rápido período em 1985. Já Tony Iommi nega, dizendo que Jeff apenas participou de testes quando o Black Sabbath sequer estava realmente ativo. Aliás, a ideia inicial era que o projeto para o qual ele estaria sendo listado era o álbum-solo do guitarrista, que acabou transformando-se em um trabalho da banda por questões contratuais. Os outros músicos que participaram da empreitada haviam sido ‘emprestados’ a Iommi por sua então noiva, Lita Ford. Entre eles estava o hoje famoso baterista Eric Singer, atualmente no Kiss.

Mesmo que fontes oficiais não considerem Fenholt como ex-integrante, acho que é interessante incluí-lo na lista, já que várias ideias dos ensaios que fez com o grupo acabaram entrando em
Seventh Star, disco de 1986 com Glenn Hughes nos vocais. Inclusive, o próprio reivindica co-autoria em algumas canções aproveitadas para o álbum, sem os devidos créditos lhe terem sido concedidos. As demos dessa época são encontradas facilmente no bootleg Star of India. Esta é “Dark Side of Love”, que se tornaria o sucesso “No Stranger to Love”.




Ray Gillen

De todos aqui citados, foi aquele que teve maior participação efetiva na história do Black Sabbath. Entrou na banda durante a tour de
Seventh Star substituindo Glenn Hughes, que não estava dando conta do recado graças a seus abusos químicos e o nariz quebrado, fruto de uma briga com um roadie, fazendo com que coágulos se formassem em seu rosto.

Com esse cenário, Ray Gillen deixou o Rondinelli, com quem havia gravado o álbum
Wardance, e imediatamente juntou-se a Tony Iommi, Dave Spitz, Eric Singer e Geoff Nicholls. Importante salientar que Glenn ficou muito magoado, pois ele e Gillen eram amigos. Mas o tempo fez com que tudo se resolvesse e eles reataram relações antes da morte de Ray, em 1993, em decorrência da AIDS.

O recém-chegado cantor injetou ânimo renovado ao trabalho com suas ótimas performances, que podem ser conferidas em bootlegs de shows da época. Logo após o fim da excursão a banda entraria em estúdio para começar a gravar um novo disco, mas dificuldades no processo de composição, desacertos financeiros e falta de comunicação interna inviabilizaram os planos.

Ray Gillen acabaria saindo para se juntar ao Phenomena, prestes a registrar seu segundo álbum e estourar mundialmente com o hit “Did It All For Love”. Iommi recrutou Tony Martin, que regravou as vozes para que
The Eternal Idol finalmente fosse lançado. Ray ainda apareceria em um pequeno trecho – a risada maléfica na faixa “Nightmare”. Hoje é muito fácil encontrar as músicas do play com os vocais de Gillen.




Rob Halford

Todo time que se preze tem o seu talismã. É aquele jogador que fica a maior parte do tempo no banco de reservas, mas sempre aparece para salvar a equipe em situações difíceis. Esse é Rob Halford para o Black Sabbath.

Por duas vezes o Metal God surgiu em momentos que a banda precisava de um substituto. A primeira em 1992, durante os shows de despedida (fakes, é claro) de Ozzy Osbourne. A ideia era que o Sabbath se apresentasse primeiro, Ozzy na sequência e a formação original (Ozzy, Iommi, Butler, Ward) encerrasse a noite. Mas Ronnie James Dio, em sua segunda passagem pela banda, se recusou terminantemente, o que resultou em mais um rompimento do baixinho com seus colegas de grupo. Coube a Rob salvar o barco.

A segunda ocasião rolou em 2004, durante o
Ozzfest. Com uma séria bronquite, Ozzy ficou impossibilitado de cantar no show em Camden, New Jersey. Como o Judas Priest estava participando do festival, nada mais conveniente que Halford comparecer mais uma vez e dar aquela força aos amigos. Dessa vez o setlist era totalmente baseado na formação original, o que facilitou o trabalho do cantor, que não precisou aprender músicas recentes na última hora. Alguns debilóides que achavam que o “Black Sabbath é a banda do cara que aparece naquele seriado de TV” ficaram descontentes, vaiaram um pouco e foram embora. Quem era fã de verdade ficou, pois sabia que estava presenciando um momento histórico.




Até onde sabemos, foram só esses. Mas será que não há algum outro perdido na história? Seria algo tipicamente Sabbath descobrir.

Comentários

  1. Talvez essa seja a banda com mais vocalistas da história...

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  2. Fora os baixistas e bateristas... Black Sabbath e Deep Purple são verdadeiros "rodízios" de músicos... nunca esquecendo do Rainbow e do Whitesnake, claro....

    Mesmo assim, conseguiram manter a importância no cenário da música...

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  3. E o que vocês acham dos discos da fase "negra" do Black Sabbath, entre Born Again e o retorno com o o Ozzy e o Dio?

    O meu preferido é o Seventh Star. Acho esse disco muito bom, e injustiçado.

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  4. Gosto de quase todos os discos dessa fase. Meus preferidos são o Seventh Star, Headless Cross e Cross Purposes. O TYR acho um bom álbum também, embora não tanto quanto os outros. Eternal Idol, prefiro a versão demo com o Ray Gillen, que tem uma performance bem superior ao Tony Martin. Já o Forbidden acho bem fraquinho mesmo.

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  5. Mas nesse caso é muito fácil dizer que o Seventh Star é o melhor dessa fase. Acho os outros bem ruinzinhos...Mas digo isso como um todo, afinal é possível tirar coisas legais desses outros discos. Vamos dizer que poderíamos fazer um CD muito bom com as melhores músicas...

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  6. Eu tenho esse "CD muito bom com as melhores músicas".... é a coletânea "The Sabbath Stones", que ainda tem uma do Dehumanizer e outra do Born Again! O que eu preciso ter desta fase está lá, e muita coisa nem precisava estar (hehehe)...

    Não gosto muito dessa fase, seria melhor se fosse carreira solo do Iommi, mas, como a gravadora obrigou, acabou ficando uma "fase negra" mesmo...

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  7. Sim Fernando, apontar o Seventh Star como melhor é o mais fácil, mas tem gente que não curte o disco, ainda.

    E eu acho "The Shinning" um baita som. Lembro que tocava ela nas festinhas da minha adolescência.

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  8. O "Dehumanizer" conta como "fase negra"??? Se sim, esse é o grande disco dessa era, mas entre os outros fico com o "Seventh Star", não apenas pelas composições, mas por toda a sonoridade, muito especial, diria até datada, o que não é necessariamente ruim. "Danger Zone" não deve nada pra músicas tidas como clássicos indiscutíveis da banda. Também aprecio bastante o disco "Headless Cross", que conta com uma performance mais que satisfatória de Tony Martin (ao menos em estúdio), além do excelente Cozy Powell. Na verdade encontra-se material muito bom em todos os álbuns, a única ressalva que tenho que fazer é ao "Forbidden", disco sem inspiração e de sonoridade que beira o bizarro.

    Quanto aos vocalistas citados no texto, tenho um apreço muito especial por Ray Gillen. Não apenas o disco "Eternal Idol" seria melhor com sua presença, mas as suas performances ao vivo também eram muito boas, especialmente em se tratando da fase Dio. Não à toa brilhou por onde passou, mesmo não tendo obtido grande reconhecimento e sucesso comercial. Mesmo em participações especiais, como na faixa "Strange Wings", do Savatage, Ray Gillen deixou sua marca com muita classe e uma voz fantástica.

    Ah, também faço uma menção honrosa a David Donato. O que ouvi por aí com sua voz soou no mínimo intereressante.

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  9. Diogo, o Dehumanizer não entra nesta lista não. Vamos ficar apenas com os discos que não tem Ozzy, Dio ou Gillan.

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  10. Bah, nem sabia que haviam passado tantos cantores pelo Sabbath...

    Mesmo assim, acredito que apesar de críticas, o Sabbath seja basicamente o mesmo em qualquer formação.

    O grupo sempre conseguiu se manter coeso e unido, mesmo nas épocas de dificuldade, e apesar de nem todos os discos serem dignos de um Paranoid e (ou) Heaven And Hell, todos trazem qualidades e merecem ser ouvidos com cuidado.


    figurinhasdorock.blogspot

    abraço!

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  11. Headless Cross e Cross Purposes são muito bons.... bem superiores, na minha opinião, ao Seventh Star

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  12. Ma verdade eu teria que ouvir esses discos de novo. Acho que vou pegar o meu box e escutá-lo hoje à noite.

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  13. Eu curto essa fase negra, mas é inferior à fase áurea com Ozzy. Meu preferido é o Headles of Cross seguido do Eternal Idol, esse último pode ser conferido na voz do Ray Gillen no bootleg Ray Gillen Years. A voz de Gillen é bem superior a de Tony Martin, que é um vocalista fraco.

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  14. O fan site black-sabbath.com tem uma página sensacional em que traz TODAS AS FORMAÇÕES da banda (vale dizer, todos os instrumentistas que já passaram pela instituição metálica), inclusive incluindo na lista de vocais o Ron Keel, da extinta banda de hard'n'heavy Keel, alguém se lembra?

    Pra quem quiser conferir o hercúleo trabalho:

    http://www.black-sabbath.com/personnel/timeline.html

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  15. Nossa, Keel ...

    Eu lembro que um amigo tinha o vinil, e eu gostava do som, mas faz mais de vinte anos que não escuto, então talvez a minha opinião seka outra hoje em dia.

    Mas o Ron Keel participou da banda em que período?

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  16. Olha, se não me engano, Ron Keel não chegou a fazer parte da banda. Acho que ele fez uma audição somente e acho que foi depois de Gillan. Quem souber da verdade poste por favor:)

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  17. Segundo o black-sabbath.com, o Ron Keel chegou a gravar em 1984 umas demos com o Spencer Proffer, que iria produzir o novo disco do Black Sabbath. Ainda segundo o site, tanto o Iommi quanto o Geezer não gostaram muito do resultado e acabaram por chutar os dois do projeto. Vale dizer, Ron Keel seria uma escolha do produtor, não da banda.

    Olhando friamente não dá pra considerar que o Ron Keel foi vocalista do Sabbath, já que só gravou uma demo em estúdio e sequer fez shows, tanto que o próprio autor do artigo deixa implícito que colocou esse dado mais pelo fator curiosidade.

    Só pra fazer um contraponto, o Dave Donato tampouco fez shows mas ficou por seis meses e teria até participado de composições. Não se sabe se esse material foi usado pra alguma coisa ou não, diz a lenda que chegou a aparecer na net um som que seria uma versão embrionária de "The Shining".

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  18. Só um adendo: o Karl Swann (ex-Tytan) foi noticiado como vocalista da banda em 1985, na finada Metal número 12.

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  19. Marcos, a banda teve tantos músicos em suas trocentas formações que é realmente difícil listar todos.

    E sobre a Metal, tá aí uma revista que eu gostaria de comprar a coleção completa. Alguém sabe quantas edições ela teve no total?

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  20. o blues de Seventh star, os riffs e o clima de Headless Cross, o peso de Cross Purposes e o conceito em TYR chamam muito à atenção. Todos esses álbuns tem nota 8 para cima, em minha opinião. Além disso temos Ray Gillen, que foi um monstro na turnê do seventh star e nas demos do Eternal Idol...a fase 83-95 do Sabbath foi rica em grandes músicas e musicos passando pela banda.
    abraços
    Thiago

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  21. Bem interessante a matéria. Não sabia que este tanto de vocalistas, tocaram com o Black Sabbath, ou, o certo mesmo, com Tony Iommi.

    Quando ficamos na contra-mão, somos mal vistos, até mesmo ridicularizados.

    Black Sabbath é meu segundo conjunto predileto. Mas, como é comum no rock, se descaracterizou, se tornou uma banda de um homem só, homem esse que , na minha humilde opinião, foi seu melhor integrante. Porém , este mesmo homem, nunca mais foi o mesmo, se tornou repetitivo, se produziu, até mesmo no visual, com brinquinhos e cabelos bem produzidos, fez pose de mau e/ou arrogante.

    Snowblind, Wheels of Confusion, Symptom of the Universe(minha preferida),Supernaut, Electric Funeral, Sabbath Bloody Sabbath(bem parecida com "Master of the Universe, do Hawkwind, roubada de uma música da Vanusa, "What do You Want?")...

    E tantas outras que o mestre Iommi fez, mas depois, o homem, que na minha humble opinion, tocava violão com uma sensiblidade e originalidade fora do comum, se tornou apenas mais um guitarrista/compositor do rock. Uma pena! Seu primeiro disco solo, principalmente, é uma lástima! Um vale tudo, que não vale nada, repleto de cantores, que nada tinham a ver com o som do Sabbath.

    Tony Iommi não evoluiu como guitarrista. Blackmoore é muito criticado com seu trabalho com a sua bela esposa , mas ele pelo menos mudou um pouco, mostrando seu lado acústico e medieval. Iommi , hoje, não passa de mais um guitarrista a criar riffs repetitivos. Seus solos? Que solos? Os mais longos duram 1 minuto. Dá até saudade do Tecnichal Ecstasy, e como dá!

    E creio que preciso de um psiquiatra, pois gosto do Forbidenn, que está longe de ser uma obra prima, já que esta coisa chamada Black Sabbath, tem discos melhores, mas está no nivel dos outros discos que contavam com a presença de Tony Martin.



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