Until the Light Takes Us: documentário conta a história da cena black metal norueguesa


(publicado originalmente no site Metal Sucks)

Headbangers de todo o mundo ficaram eriçados desde que a produção, e posterior lançamento, do documentário
Until the Light Takes Us, dirigido pela dupla Aaron Aites e Audrey Ewell, foi anunciada, mas o fato é que poucas pessoas efetivamente assistiram ao filme, que passou apenas em mostras de cinema e algumas poucas salas ao redor do mundo. Consequentemente, 99% das pessoas interessadas no filme ainda não o assistiram. Isso irá mudar no próximo dia 28 de setembro, quando Until the Light Takes Us ganhará a sua tão aguardada versão em DVD.

Deixando de lado a música e a violência, o filme é basicamente a história de dois homens: Gylve “Fenriz” Nagell (baterista do Darkthrone) e Varg Virkenes (Mayhem, Burzum). Através de um série de entrevistas o filme narra a relação entre os dois, bem como o relacionamento de cada um deles com o gênero que ajudaram a criar. As entrevistas com a dupla são altamente perspicazes, divertidas e, em alguns momentos, até mesmo comoventes. Embora cada um de nós tenha uma imagem formada de Fenriz e Varg construída a partir de suas obras musicais e atos pessoais, é esclarecedor ouvir ambos descreverem e criticarem a sua própria cena.


As conversas com Vikernes foram realizadas em uma cela na Prisão de Segurança Máxima de Trondhein, onde o músico cumpriu pena até recentemente pelo assassinato do ex-parceiro Euronymous e pela queima de igrejas históricas de seu país natal. Varg afirma estar desfrutando o seu encarceramento, comparando-o a uma estadia em um mosteiro, louvando o tempo que lhe foi oferecido para ler e pensar. Ouvi-lo descrever o processo de composição, gravação e produção do primeiro álbum do Burzum é como embarcar em uma viagem no tempo. Vikernes deixa bem claro que, para ele, o black metal representava um ataque contra quem ele via como inimigos da cultura norueguesa, em particular o Cristianismo e a comercialização desenfreada.


Em contraste com o confinamento físico de Vikernes, Fenriz é um homem permanentemente confinado em si mesmo, transitando como um fantasma através da sociedade moderna. Para Fenriz, o black metal foi uma reação à comercialização do death metal e outros gêneros da música pesada - uma declaração artística, ao invés de política. Essa postura idealista é desafiada quando Fenriz viaja a Estocolmo para visitar a exposição de arte de Bjarne Malgaard, que inclui imagens da cena black metal norueguesa. O momento mais incômodo do filme ocorre no silêncio prolongado que se segue ao encontro cara a cara de Fenriz com Malgaard.


Além de entrevistas com Fenriz e Vikernes, o filme utiliza várias fontes para contar a história da cena, incluindo materiais veiculados na época dos acontecimentos pela imprensa norueguesa, vídeos de ensaios, shows e depoimentos de integrantes de grupos como Immortal, Mayhem e Satyricon. Como não poderia deixar de ser, há também muita música de bandas como Burzum, Darkthrone, Enslaved e Gorgoroth, entre outros. E, claro, estão lá inúmeras informações sobre os atos que marcaram a cena black metal norueguesa, como os assassinatos, suicídios e queima de igrejas.

Until the Light Takes Us é um excelente documentário e lança um fascinante olhar sobre o black metal. Um filme recomendado para todo e qualquer fã de heavy metal, independente de seu gênero preferido.

Sem dúvida, você quer ver esse filme!




Comentários

  1. Veja só onde a coleção do Juliano nos levou... aí está a grande graça de uma boa discussão, nos aventurarmos por caminhos diferentes e compartilharmos nossos conhecimentos. Apesar do documentário parecer focar demais no ponto de vista de Varg e Fenriz, o que é deveras conveniente para ambos, já estou com muita vontade de assistir o filme.

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  2. Provavelmente não seja o documentário definitivo sobre a cena norueguesa, apesar de conter depoimentos de vários expoentes, mas é muitíssimo bem feito em todos os aspectos (o que atrai a atenção de quem não conhece o estilo) e interessantíssimo pra quem conhece o BM norueguês dos anos 90 e toda a aura que o cerca.

    Uma coisa: impressiona o quão esclarecido e bem articulado é o Varg.

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  3. Nao vejo a hora de assistir. A cena norueguesa me deixa intrigado. A cultura deles é mto diferente da nossa, sem falar de aspectos geograficos naturais. Provavelmente vai me ajudar a entender melhor ainda tao marcante manifestação cultural. E, concordando com o Marco, de fato, apesar de umas ideias um tanto quanto retrogradas, Varg é um gênio.

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  4. Quero muito assistir esse filme. Espero que seja lançado no Brasil, porque eu não curto filmes baixados.

    Pelo que li, o Ian Christe, que escreveu o livro Heavy Metal: A História Completa, está trabalhando em um livro sobre a cena norueguesa, o que seria bem interessante.

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  5. Diogo,

    Apesar de black metal a discussão tomou um rumo bem diferente.

    Agora sobre o encontro entre Fenriz e Malgaard eu achei que só eu tinha percebido, pois vi com mais dois amigos e eles não notaram nada demais.

    É evidente que o Fenriz queria muito dizer algo, só não sei se bom ou ruim, e também é bem claro que o Malgaard esperava alguma reação, mas diante daquele silêncio ele preferiu nem saber...

    Outra cena que me chamou atenção foi também na galeria, quando o Feriz pega os cartões, tem algo bem sutil.

    Agora pela conversa do Malgaard com o Frost fica bem claro que ele só estava "pongando" no black metal.

    Abraços.

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  6. Ja tinha visto o trailer, e tambem estou muito ansioso pelo filme. Apesar de curtir pouca coisa do estilo, todo o historico de assassinatos, inciendios e coisas do genero sempre aumentaram minha curiosidade sobre a cena e sobre o black metal nao so como musica, mas como fenomeno cultural.

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  7. Assisti ao documentário. Honestamente, o recomendo para aqueles que já estão familiarizados com essa cena e os crimes praticados pelas pessoas retratadas na película. Quem conhece pouco ou desconhece o gênero talvez fique um pouco perdido, dado que o teor do filme não é lá muito historiográfico. As principais fontes dos autores realmente são Varg, Fenriz e em menor escala Frost, do Satyricon, e Hellhammer, do Mayhem. Fora isso, os outros poucos entrevistados não contribuem tanto. Aliás, Abbath e Demonaz, do Immortal, estão ali só para fazer número e poder estampar seus nomes na capa do DVD, pois seus comentários ou foram mal aproveitados ou realmente não tinham tanto a dizer.

    E Miller... me perdoe, mas não enxerguei toda essa genialidade no Varg Vikernes... a maioria de seus comentários inclusive soam um tanto óbvios para quem já conhece sua história e seu trabalho.

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  8. Diogo,

    Agora diga se o Demonaz não parece que foi em um puta show na véspera de gravar e ficou com um belo torcicolo e está morrendo de ressaca, antes dele começar a falar eu nem tinha certeza se ele estava mesmo ali.

    Quanto ao Fenriz você percebeu que apesar de tudo ele terminou tornando-se "the moon in the sunset" que seus pais tanto queriam?

    E também se você constrói a imagem dele de acordo com a sua música e você vê que na galeria quando ele pega os cartões na hora de colocar de volta ele com todo cuidado tenta por o mais próximo possível de como estava... isso dá uma grande humanizada nele, o esperado seria que ele simplesmente jogasse e pronto. Diferente do Hellhammer por exemplo, que diz que passou a ter muito mais respeito pelo Faust depois que ele matou um homossexual.

    Isso ajuda a quebrar na cabeça de alguns aquela imagem de que para ouvir black metal tem que chupar limão sem fazer careta como dizem por aqui.

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  9. Hehehe... o Demonaz realmente está com uma cara de "que porra eu tô fazendo aqui mesmo?", mas o Abbath parece estar de bom humor.

    Também reparei no lance dos cartões. Foi uma sacada simples mas que acabou enriquecendo o propósito do filme. Quanto ao Hellhammer, bom... é até estranho ouvir uma declaração dessas vinda de um dos músicos de black metal mais bem sucedidos de todos, solicitado por diversas bandas para emprestar seu talento. Mas quem garante que vários outros não pensem igual mas apenas não manifestem essa opinião?

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  10. Você baixou o filme, né Diogo? A qualidade dele está boa?

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  11. Sim, Cadão... procurei-o através do isohunt e baixei por torrent. A qualidade está boa sim, e as falas em norueguês receberam legendas.

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  12. Beleza Diogo, acho que vou fazer o mesmo, porque não sei se esse DVD irá ser lançado aqui no Brasil, infelizmente.

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  13. Assisti o documentário no final de semana, e confesso que esperava mais. Na minha opinião, a principal qualidade do filme é também o seu maior defeito: ao escolher traçar a narrativa do documentário através das entrevistas com Fenriz e Varg, os diretores revelam profundamente as personalidades de ambos (o lado bom) mas ignoram totalmente outros ícones daquela cena (Gorgoroth, Emperor, Immortal - a participação de Abbath e Demonaz no filme não acrescenta praticamente nada).

    Enfim, como bem disse o Diogo, é um documentário muito bem feito, porém indicado para pessoas que já está familiarizadas com os acontecimentos que ele retrata.

    Abraço.

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