Minha Coleção - William Belmonte da Silva: obscuridades setentistas em uma coleção de dar água na boca!


Por Ricardo Seelig
Publicitário e Colecionador
Collector´s Room


Sabe aqueles discos raros dos anos setenta que os bons blogs de download adoram postar de tempos em tempos? Então que tal uma coleção repleta destes álbuns, todos em vinil e em perfeito estado? É isso que a gente encontrou na coleção do mineiro William, que contou, em um longo e ótimo bate-papo, detalhes da sua coleção, e ainda deu dicas de conservação e de onde encontrar bons LPs.

Então, acomode-se na cadeira e boa leitura!

Olá William. Como você conheceu a Collector´s Room?

Creio que conheci a Collector’s Room através do blog PH Rock, já faz algum tempo. Parece que ele foi deletado e agora voltou. Antigamente havia um link para a Collector’s lá.

De onde você é e o que você faz?

Meu nome é William Belmonte Silva, tenho 32 anos, sou de Belo Horizonte e trabalho na área de segurança.


Quando começou a se interessar por música?

Comecei a ouvir música cedo. Por volta dos 8 anos já tinha um “radim de pilha” portátil com fone de ouvido, e de manhã já ia pra padaria comprar pão com o fone de ouvido. Naquela época ouvia o que era martelado na rádio: RPM,Genesis, Dire Straits, Legião. Aos 11 anos comprei meu primeiro LP, o
Stay On These Roads do A-ha. Até 1991 ouvia as músicas do meu tempo, era época do Acthung Baby do U2. Até o dia em que vi uma matéria na TV sobre o filme do Oliver Stone – The Doors – e tive uma curiosidade enorme em conhecer mais sobre a época, a música e o contexto em que viveu Jim Morrison.

Paralelamente, um amigo de escola que tinha um irmão mais velho e que possuia um grande acervo de LPs começou a me falar de Pink Floyd, entretanto – para ele – a banda se resumia a The Wall e Wish You Were Here, então meio que na curiosidade pedi o Medlle emprestado e assim que ouvi as canções “Echoes” e “Fearless” não quis saber de ouvir outra coisa por muito tempo. Em seguida comecei a pesquisar e descobrir mais sons e bandas diferentes, daí veio The Who, Led Zeppelin, Cream, Ten Years After, Genesis fase Peter Gabriel, Rolling Stones, e a lista não parou mais.

Quantos discos você tem?

Atualmente possuo entre 800 a 900 Lps, a maioria importados, e aproximadamente 400 CDs.


Tem alguma banda ou artista que se destaque pela quantidade de itens em sua coleção?

Não tenho muitos itens de um mesmo artista, geralmente me interesso por períodos específicos de cada banda. Talvez a única exceção seja o David Bowie, já que tenho todos os LPs do
Space Odity até o Scary Monsters.

Porque você prefere o vinil ao CD?

Comecei a comprar LPs com frequência em 1993, assim que comecei a trabalhar. Dois anos depois, com a chegada do CD, comecei a sacrificar muitos vinis em troca de míseros CDs, até ficar com apenas dois bolachões:
A Space in Time do Ten Years After e o Ziggy Stardust do David Bowie. Então em 2000 vi o filme Quase Famosos do Cameron Crowe, e depois de observar aquela cena em que o garoto William Miller abre a capa do Tommy do The Who e o coloca para rodar na pick-up em seu quarto à luz de velas, aquilo me deixou atordoado e me fez retornar ao vinil. Voltei a valorizar aquele ato de pegar um LP, colocar para tocar, observar a capa nos mínimos detalhes, o selo e a ficha técnica e, é claro, o som. Neste último quesito, o LP parece ter um aspecto sonoro mais orgânico, enquanto que no CD parece haver uma espécie de muralha de vidro entre a gravação e o ouvido. Também há associação do disco de vinil com aquela coisa nostálgica, diretamente ligada a alguns filmes como o já citado Quase Famosos e Alta Fidelidade.

Ressalto também que na época em que voltei a comprar Lps outro fator que também pesou muito foi o preço. Naquela época, comprar um LP saia mais barato do que o equivalente digital, que somente era encontrado em edições importadas. O CD ainda era cultuado e estava com preços bem altos e chegava a custar cerca de quatro vezes mais que a edição em vinil nacional e duas vezes mais caro que o LP prensado no exterior.


Chama a atenção em sua coleção a grande quantidade de discos de bandas obscuras e cultuadas dos anos setenta. Como você passou a se interessar por esses grupos, e onde você compra e encontra Lps dessas bandas?

Blogs como os perseguidos
Chris Goes Rock e o Heavy Rock Spectacular eram ótimos para se descobrir bandas obscuras, mas talvez o segredo de tudo seja mesmo a ficha técnica dos Lps. Nela está escrito o nome daquele guitarrista com timbre diferenciado que chama a atenção, depois é só pesquisar um pouco que pode ser encontrado sua family tree. Se não tivesse ouvido “In Your Mind” do Bryan Ferry não teria chegado a Chris Spedding, que leva a John Cale, que leva ao Nucleus e a Peter Brown.

Para adquiri-los é preciso um pouco de paciência e sempre passar em todas as lojas com frequência, porque sempre tem alguém se desfazendo da coleção, isso sem falar nas visitas as edições da Feira Do Vinil na Savassi e no Floresta. Também adquiri muitos Lps comprando lotes fechados diretamente de colecionadores que estavam se desfazendo dos discos, e já comprei vários discos pela internet em sites como o Musicstack.

O que você usa para conservar os seus vinis?

Limpo meus LPs seguindo a recomendação de um colecionador de São Paulo, o Marco Antonio Gonçalves, que recomendou em
sua entrevista aqui na Collector’s a proporção de 20% de álcool para 80% de água. Entretanto, adiciono algumas gotas de sabão neutro na mistura.

Você tem alguma mania em relação à sua coleção, ao modo como guarda e organiza os seus discos?

Gosto de organizar os títulos por ordem alfabética e cronológica dentro da discografia de cada artista. Infelizmente, já faz algum tempo que não consigo colocar tudo em ordem. A coleção cresceu bastante, e depois que casei não encontro espaço adequado e ainda não tenho um móvel que comporte tudo. Geralmente parte dos discos ficam acomodados em contentores de plástico debaixo da escada, sendo que as caixas com os LPs que estão por ouvir, ou os que mais gosto, ficam em primeiro plano para serem encontrados mais rápido.


Que coleção você conheceu, aqui na Collector´s ou em suas andanças, que te fez ficar babando de inveja?

Cerca de três anos atrás conheci um colecionador que possuía um acervo enorme de vinis importados e em excelente estado de conservação. Devido ao trabalho em diferentes partes do exterior, ele conseguiu reunir uma grande quantidade de títulos interessantes. Depois de algum tempo consegui arrematar uma boa parte da sua coleção, entretanto ainda ficou muita coisa boa com ele – alô, Quinzote, passa o restante!!! (risos)

O Marco Antonio Gonçalves também possui uma coleção respeitável e bem eclética, mas no momento sinto mais inveja das estantes para acomodar os discos que ele possui (risos).

Qual o item mais raro da sua coleção?

Dois discos da JPT Scare Band, sendo que no
Rape of Titan’s Siren’s o vinil é trasparente; o Malesh do Agitation Free na edição do selo IRI francês com vinil colorido azul; o Second com uma capa alternativa; o bootleg At Last … is Alive; o Thunder and Roses original; Drywater; e os Wichtfinder General com vinil colorido, um vermelho e o outro champanhe.


Tem algum vinil em seu acervo que chama a atenção pelo formato diferenciado ou por algum outro detalhe?

Geralmente gosto muito das edições em vinil colorido. O último que adquiri foi o
Boys for Pele, da Tori Amos, que é transparente. Mas para encher os olhos mesmo na minha opinião é o Orange Wedge edição dupla da Little Wing Of Refugees, com os dois PSs da banda, que tem a capa no formato de pacote com relevo frisado com um material tipo “caixa de ovo”, com um tom roxo escuro, e os LPs são laranja e amarelo. Só de olhar eu já fico hipnotizado. Recentemente uma gravadora lá fora reeditou estes discos, mas nada se compara à arte desta edição.

Na sua opinião, que gravadora lança os melhores LPs atualmente?

Atualmente creio que a Second Batle no quesito excentricidades, mas os selos que reeditavam coisas bacanas no formato LP, como BGO e Repertoire, hoje se concentram apenas em lançamentos em CD. A AkarmaA está meio que inativa. Sou grande apreciador destes selos – possibilitam ao colecionador que não dispõe de grandes quantias em dinheiro adquirir raridades que seriam talvez impossíveis na prensagem original, e em muitos casos com qualidade superior, tanto gráfica quanto sonora, como no caso do selo Little Wing Of Refugees.

Cite dez obscuridades setentistas que todo mundo deveria conhecer.

1. Home –
Pause For a Horse Hoarse - Esqueça Gram Parsons e companhia, esse é o disco definitivo de country rock, potencializado pela melódica guitarra de Laurie Wiesefield. Ouça “Ed Lewis and the Red Caps”

2. Orange Wedge -
Wedge & No Left But on Me

3. Bambibanda & Melodie, mas também pode ser o
Astrolabio do Garybaldi, o DNA da guitarra é o mesmo

4. John Cale –
Helen of Troy e Church of Anthrax, com Terry Riley

5. Dryewater –
Southpaw

6. Agitation Free – Second

7. The Running Man

8. Cosmic Travellers –
Live From Hawaii

9. Nazz – Qualquer um dos três discos lançados pela banda

10. Stone The Crows –
Ode to John Law


Pra você, porque os grupos da década de setenta fascinam tanto as pessoas até hoje?

Acredito que naquela época vários músicos começaram a gravar discos alimentados por um espírito desafiador. Cada lançamento era uma resposta à alguma outra obra-prima do momento. Havia no músico a vontade de se superar, se reinventar, se satisfazer. Esse comprometimento que existia se refletia na música praticada, carregada de liberdade, conceito e improviso, e foi esta que permaneceu. Depois, os artistas de grande porte começaram a gravar para simplesmente pagar o jardineiro, o limpador de piscina, o mordomo, e por aí vai. Mais tarde, através da internet, várias bandas da década de setenta que lançaram um ou dois LPs e depois implodiram começaram a ser descobertas, e como disse Elvis Costelo naquele documentário sobre rock - “
rock n’rol é um garoto que ninguém ainda conhece tocando guitarra no quarto e que ainda não foi descoberto”. Talvez essa fosse a bandeira que estas bandas obscuras levantavam.

Entre as bandas atuais, quais você ouve e recomenda para os leitores da Collector´s?

Depois do “levante de 97” catapultado por
Ok Computer comecei a acompanhar as bandas novas. Fiquei satisfeito com o que aconteceu na música de artistas como Primal Scream, Suede, Spirirualized, Gomez, PJ Harvey, Doves, The Verve, Black Crowes, Wilco, Super Furry Animals e Radiohead. Atualmente, tudo que estes artistas lançam acompanho com atenção. De movidade mesmo, só o Diagonal.

Onde você busca informações, que fontes de pesquisa busca para descobrir novas bandas e discos para a sua coleção?

Gosto de frequentar lojas. Se encontro algum som rolando em alguma loja que me atrai pergunto qual é a banda e o disco. A internet também é uma boa ferramenta. Hoje existe acesso a livros e blogs que tratam sobre o tema. Como sou muito curioso, se há um instrumentista que chama atenção em um disco procuro saber com quem mais ele gravou, e por aí vai.

Qual item é seu objeto de desejo, aquele que você sempre quis ter e ainda não conseguiu?

Ficaria muito satisfeito em conseguir os originais importados das séries Pop Giants e Pop History, e toda a discografia do Nubleus - adoro as capas!. Também toda a discografia do Peter Brown pela Harvest, e para finalizar o
Septober Energy do Centipede.


Qual a importância dos colecionadores para as bandas e para a indústria da música?

Creio que o colecionador funciona como um importante termômetro. Através dele e de sua demanda, uma grande banda pode retomar às atividades, reeditar um disco importante e, principalmente, manter viva uma cultura como a do vinil.

Qual a sua opinião sobre os recentes LPs lançados no Brasil, de bandas como Pitty e Cachorro Grande?

A iniciativa é corajosa e merece respeito, mas os preços deveriam ser mais baixos, e deveria haver mais critério na seleção dos títulos prensados. Deve-se dar importância igual ao que há de novo e de qualidade junto com os títulos que são discoteca básica.

O que significa ser um colecionador de discos para você?

Colecionar discos envolve paixão, entrega e um certo sacrifício financeiro e social. Entretanto, o retorno é extremamente prazeroso: abrir a capa, ler a ficha técnica, ver as fotos, o selo e ouvir a música, principalmente quando se sabe o contexto em que a obra foi gerada. É muito gratificante!

William, obrigado pela entrevista, e deixe um recado para os leitores da Collector´s Room.

Hoje, o conhecimento do colecionador é do tamanho da sua curiosidade. Antes ele ficava retido na mão de quem era mais abastado. Ouvia-se muito sobre um disco e nem se imaginava como era a capa, até que ele – sabe-se lá quando – aparecesse na sua frente em uma loja. Agora, temos acesso a material de qualquer artista, e podemos dar um veredito pessoal. Caso agrade e se sinta fascinado e surpreendido positivamente, corra e compre sua edição em vinil. Sem essa de levar um disco para casa e depois de todo um ritual de preparação para ouvi-lo descobrir que é uma obra sem relevância. Saudações das montanhas aos amigos da
Collector’s Room.

Comentários

  1. Bela coleção. Muito massa essas raridades

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  2. Até que enfim alguem que também usa o Musicstack!!!
    Parabéns William pela coleção!!!

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  3. "Colecionar discos envolve paixão, entrega e um certo sacrifício financeiro e social."
    Essa foi a frase que mais gostei...

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  4. Até que enfim um Mineiro! rsrsrs
    Babei no Canis Lupus do Darryl Way's Wolf. Na verdade, essa é uma coleção fantástica.
    Parabéns!

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  5. valeu William. até a próxima feira. abs, Hermes "das montanhas"... boa!

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  6. Transcendental essa coleção sua, cara...
    babei...
    tá de parabéns!
    Abraço!
    Ronaldo

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  7. Parabéns a Cadão pela descoberta, e, principalmente, a William pela belíssima e 'transcendental' coleção!

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  8. "Transcedental" foi foda ... hehe ...

    Belíssima coleção mesmo, parabéns William!

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  9. hahuahuahuahua!
    cara, é que os adjetivos ficaram pequenos pra minha emoção com essa coleção, aí eu resolvi dar uma patinada no português msm!
    Abraço!
    Ronaldo

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  10. Ótima entrevista e coleção de alto nível. Só sonzeira!

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  11. Conheço o William a uns 15 anos e posso dizer com propriedade que este meu camarada é um cara curioso no quesito música. Desde um disco que ele compra até as feiras que participamos juntos algumas vezes. O cara conhece muito e merece todos os créditos, a começar pela coleção que possui (fantástica). Abraços meu irmão. Entrevista nota 10.

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  12. Fantástica coleção. Muitas bandas que nunca tinha ouvido falar... Parabéns!

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  13. Valeu William pela coleção,muito legal a capa do JPT,disco que falta em minha coleção(dos muitos)
    parabéns.

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  14. s william sua coleção é d+ alem de vc conseguir sempre raridades para nós que colecionamos lps eu que coleciono pictures inclusive..super abraço
    Pedro Alvim/bh/Mg

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