Rigotto's Room: I Feel Like Playing, o novo álbum de Ron Wood


Maurício Rigotto
Colecionador
Collector´s Room


Ronnie Wood conta em sua autobiografia, publicada em 2007, que se interessou por artes plásticas e guitarras elétricas ainda na mais tenra idade, mas seu pai ficava diariamente lhe lembrando que ele precisava era focar nos estudos para no futuro conseguir um bom emprego. Ronnie até frequentou a universidade de artes, porém começou a tocar guitarra em bandas como The Birds (não confundir com os norte-americanos The Byrds) e The Creation, enquanto seu pai continuava a lhe repetir que ele deveria estudar para conseguir um bom emprego. Ron Wood passou a fazer sucesso nas bandas Jeff Beck Group e The Faces, mas seu pai insistia que o filho deveria estudar para obter um bom emprego. Ronnie prossegue o seu relato: "Nunca segui o conselho de meu pai, então em 1975 o Mick Taylor saiu dos Rolling Stones e fui convidado para o posto de guitarrista dos Stones, onde estou até hoje. (pausa) O melhor emprego do mundo!".

Assim é Ronnie Wood, um grande guitarrista de rock'n'roll, e, principalmente, um grande apaixonado por rock'n'roll. Ronnie passou o último ano envolvido em escândalos em tablóides sensacionalistas por suas brigas e confusões com suas jovens namoradas. Também foi internado para tratamento em uma clínica de reabilitação devido ao seu alcoolismo estar atingindo níveis estratosféricos. Mesmo assim, Ronnie não parou de trabalhar. Aproveitando as férias dos Rolling Stones, Ronnie articulou a volta de sua antiga banda, os Faces, que estão fazendo algumas apresentações pelo Reino Unido, e gravou o seu sétimo álbum solo, o primeiro em nove anos.

O disco, chamado I Feel Like Playing, como era de se esperar é um ótimo álbum de rock'n'roll, onde Ron Wood aparece revigorado, apresentando rocks inspirados e certeiros. Ao seu lado estão alguns dos membros da banda de apoio dos Rolling Stones, como Bernard Fowler e Blondie Chaplin (vocais) e Daryl Jones (baixo); e feras como os guitarristas Slash (Guns'N'Roses/Velvet Revolver) e Waddy Wachtel (da banda solo de seu colega Keith Richards, os X-Pensive Winos), os baixistas Rick Rosas e Flea (Red Hot Chili Peppers) e o baterista Steve Ferrone (ex- Average White Band, Eric Clapton e Tom Petty & The Heartbreakers).


I Feel Like Playing abre com a pulsante "Why You Wanna Go a Think Like That For", um rockão com um arranjo primoroso, onde as guitarras de Wood e Slash fazem um interessante contraponto com o piano de Ivan Neville. A segunda faixa, "Sweetness is My Weakness", é um reggae que poderia fazer parte do repertório dos Wailers, além de ser cheio de swing, temperado pela cozinha de Daryl Jones e Steve Ferrone, dois músicos negros bastantes influenciados pelo funk.

A seguir vem a que talvez seja a melhor faixa do disco, "Lucky Man", outro rock de primeira, uma parceria de Wood com Eddie Vedder, líder da banda Pearl Jam, que divide os vocais com Ronnie. Outro grande momento do disco acontece em "I Gotta See", quando Ronnie divide os vocais com Bernard Fowler, além de receber como convidado o guitarrista do ZZ Top, o barbudagem Billy Gibbons. Até mesmo a cover de "Spoonful" de Willie Dixon, que já recebeu regravações do Cream, The Who, Canned Heat, Ten Years After, Grateful Dead, Gov't Mule, Shadows of Knight e mais um monte de bandas, consegue fugir do óbvio com um arranjo suntuoso, surpreendendo como uma das melhores versões já feitas da canção. Há ainda a participação do tecladista dos Faces, Ian McLagan, e do cantor Kris Kristofferson, uma lenda viva da country music.

I Feel Like Playing é um tratado sobre o novo estado civil de Ron Wood, que está solteiro, namorando belas garotas, depois de vinte e cinco anos de casamento. Fala também sobre a sua nova situação de sobriedade e abstinência do álcool, após anos de excessos etílicos. Como já é praxe em seus álbuns solo, a arte da capa é de sua autoria. O álbum já figura em qualquer rol de melhores discos de rock de 2010, provando mais uma vez que "pedra que rola não cria musgos" ("rolling stone gather no moss"), como diria a letra de um antigo blues de Muddy Waters, que acabou por nomear a maior e mais longeva banda de rock'n'roll do mundo.

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