Zeca Baleiro - Concerto (2010)


Por Ricardo Seelig
Publicitário e Colecionador
Collector´s Room

Cotação: ****

Um dos artistas mais originais da música brasileira, Zeca Baleiro está comemorando treze anos do lançamento de seu primeiro disco, Por Onde Andará Stephen Fry, que chegou às lojas em 1997. Para celebrar a data - “tenho um carinho especial pelo número 13”, justifica o cantor – o trovador maranhense está envolvido em vários projetos, que incluem o programa Biotônico na rádio UOL (ao lado de Otávio Rodrigues e Celso Borges) e o lançamento de dois livros – Bala na Agulha: Reflexões de Boteco, Pastéis de Memória e Outras Frituras, com crônicas, e A Vida é um Souvenir Made in Hong Kong: Livro de Canções, edição limitada com suas letras e tratamento gráfico diferenciado. Fechando o pacote, dois novos álbuns: Concerto e Trilhas – esse segundo em breve também ganhará uma resenha aqui na Collector´s. Ambos os discos marcam a estreia de Zeca Baleiro em seu próprio selo, a Saravá Discos.

Concerto é um álbum ao vivo, gravado no Teatro Fecap em março de 2010. Baleiro divide o palco com Swami Jr (violão de 7 cordas) e Tuco Marcondes (violão guitarra, bandolim e gaita), e, ao contrário do que poderia se supor, não faz do tracklist uma retrospectiva de sua carreira, muito pelo contrário – o disco é marcado por composições inéditas e versões.

As quinze faixas de Concerto são apresentadas em formato acústico, em arranjos muito bem construídos e que realçam o lado dramático de cada composição – uma característica do trabalho de Zeca. O play abre com a densa “Barco”, composta por Chico César, dona de uma bela letra. A inédita e excelente “A Depender de Mim” vem na sequência e é uma das melhores do disco. Nela, o destaque mais uma vez é a ótima letra, com as rimas e tiradas peculiares de Zeca. “Canção para Ninar um Neguim” foi composta originalmente em 1993 em homenagem a Michael Jackson, e permanecia até então inédita.

Um dos melhores momentos está na releitura de “Eu Não Matei Joana D´Arc”, clássico oitentista do grupo baiano Camisa de Vênus. Despida de guitarras e do arranjo originalmente rock, a música ganhou outra dimensão, principalmente pela interpretação de Zeca. Outra ótima faixa é “Autonomia”, composta por Cartola, assim como “Tem Francesa no Morro”, de Assis Valente. “Chuva”, da dupla dos anos oitenta Gilson & Joran, é outro destaque. O maldito Walter Franco é relembrado pela boa versão de “Respire Fundo”, faixa pouca conhecida de seu repertório, mas uma das músicas mais emocionantes do CD.

A sensacional “Armário” é provavelmente a melhor música de Concerto. Zeca Baleiro canta na letra os dilemas de um amor ardente comprometido pelo medo de uma das partes em se assumir homossexual. O tema, sempre polêmico em nossa sociedade, é abordado com grande leveza e bom humor por Zeca e devidamente embalado em linhas vocais pra lá de grudentas, tornando impossível não sair cantarolando a inteligentíssima letra.

Um ponto discutível é a versão de Zeca para “Best of You”, do Foo Fighters. Confesso que quando vi essa canção no disco fiquei ansioso para conferir, mas a releitura de Baleiro acaba soando apenas curiosa, seja pelo fato da versão original ser superior ou pelo inconfundível sotaque nordestino que o maranhense imprime em seu inglês. Resumindo, “Best of You” me lembrou, no contexto, o que Caetano Veloso alcançou a reler “Comes As You Are”, do Nirvana - ou seja, nada marcante e totalmente dispensável.

O CD chega ao fim em grande estilo com a deliciosa “Bangalô”, que levanta não só o público presente no show mas o ouvinte do lado de cá com o seu balanço irresistível. O disco tem ainda uma faixa bônus, “Mais um Dia Cinza em São Paulo”, densa como o título antecipa.

Concerto é mais um ótimo trabalho de Zeca Baleiro, um dos grandes artistas brasileiros da atualidade, herdeiro direto de Zé Ramalho e, ao lado dele, um verdadeiro trovador do cotidiano de nosso país. Se você gosta de música está aí uma ótima aquisição para a sua coleção.

Para comprar esse e outros itens
mande um e-mail para a Saravá Discos.


Faixas:
1.Barco
2.A Depender de Mim
3.Chuva
4.Canção para Ninar um Neguim
5.Eu Não Matei Joana D´Arc
6.Autonomia
7.Desengano
8.Milonga Del Mejor
9.Armário
10.Filosofia
11.Respire Fundo
12.Best of You
13.Tem Francesa no Morro
14.Bangalô
15.Mais um Dia Cinza em São Paulo


Comentários

  1. De fato, um gênio. Me lembro como ontem um show dele que assisti aqui em Guarulhos, com meus pais, por volta de 4 anos atrás, em um formato parecido com o do "Concerto", contado somente com ele e Tuco Marcodes nos violões. Compositor e interprete de primeiríssima categoria. Certamente vou ter que conferir esse trabalho também.

    ResponderExcluir
  2. Rapaz que bom que Zeca Baleiro estreou na Collector's. Ele é sem dúvida o melhor músico da dita MPB atual. Seus discos são clássicos modernos, todos são bons. e a sua inteligência e sagacidade são itens raros no tenebroso cenário atual da música brasileira.

    ResponderExcluir
  3. Tiago e Miller, valeu pelos elogios. E espero que o meu texto esteja a altura da obra do Zeca, porque achei que não conseguiria resenhar o álbum.

    E mais: daqui uns dias entra a crítica do outro álbum lançado pelo Zeca, Trilhas, aqui na Collector´s.

    Abraço.

    ResponderExcluir
  4. O que vocês acharam da versão de "proibida pra mim"? Ainda não ouvi esse "Best of You", mas ao ler tal trecho da resenha do Ricardo, me senti como quando ouvi pela primeira vez a "proibida pra mim". É a única que pulo do álbum "Líricas".

    ResponderExcluir
  5. Eu acho "Proibida pra Mim" ruim em independente da versão.

    ResponderExcluir
  6. a música é ruim de todo jeito, mas eu prefiro Zeca cantando ela, do que Chorão grunindo...

    ResponderExcluir
  7. Rs. Sem dúvidas. A versão do Zeca não é ruim. O problema é que quando ouço, não consigo desvincular da imagem do Chorão, na meia idade, com roupas largas, boné, e dizendo "yeeeah" no final de cada estrofe.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.