The Doors por The Doors, com Ben Fong-Torres


Por Janary Damacena
Jornalista e Colecionador

Collector´s Room

“Pois não basta ter o espírito bom, o principal é aplicá-lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, assim como das maiores virtudes; e os que andam muito lentamente podem avançar muito mais se seguirem sempre o caminho reto, ao contrário dos que correm e dele se afastam” - René Descartes (1596 – 1650)


Segundo a teoria do filósofo René Descartes, a razão é igual em todos os homens, mas as “verdades” que eles absorvem - religião, cultura, sexo, dentre outras - fazem com que eles se tornem diferentes. Em seu livro Discurso do Método, Descartes elabora uma cartilha para que qualquer homem em qualquer época pudesse chegar à razão. Ao ler o discurso, instantaneamente pensei em Jim Morrison e o achei ideal para abrir a resenha de um livro excitante, furioso e sincero!

Menos que isso não é possível descrever o livro The Doors por The Doors com Ben Fong-Torres. A organização de entrevistas da época, com depoimentos atuais intercalados com comentários do jornalista, captura de maneira apaixonada o impacto dos Doors sobre os jovens na segunda metade dos anos sessenta.


O trabalho é cuidadoso e detalhado, com fotos clássicas, além de imagens de arquivos pessoais da própria banda e amigos. Não é de se admirar que, durante a leitura, seja possível sentir uma canção inexistente com a doce rebeldia de Jim Morrison, sustentada e ampliada pela criatividade conjunta dos amigos Robby, John e Ray, que transformaram aquilo tudo em pura energia. Em certos relatos, a maneira direta e profunda do estilo narrativo nos faz crer, por alguns instantes, que estamos presenciando uma apresentação ao vivo.

Robby: “Morrison era um dos poucos, se não o único artista que conheci, que de fato acreditava no que estava dizendo. Ele vivia aquele tipo de vida. Não fazia suas loucuras no palco e depois ia para casa assistir à TV, beber cerveja e rir de tudo aquilo, rir enquanto se dirigia ao banco. Ele era um cara que vivia aquela vida do palco o tempo todo. Quando ia pra casa, que era algum quarto de motel barato em m lugar qualquer, ficava lá esperando pelo próximo show”.

John: “Nosso relacionamento com a plateia era uma experiência religiosa. Nos primeiros shows no Fillmore, em Nova York, algumas vezes chegava a ser assustador. Jim chegava a se machucar – não porque o público estava atacando ou algo assim, mas a coisa ficava tão intensa que nos perguntávamos se algo estranho poderia ocorrer, pois Jim era muito intenso”.

O livro apresenta momentos íntimos do grupo sob várias perspectivas, ilustrados por visões de amigos da banda, roadies, família e pessoas que trabalhavam com os Doors. Em muitos pontos existem divergências de opiniões sobre o que se passava com os rapazes, uma vez que o livro faz um apanhado histórico desde que os quatro se conheceram até décadas depois da morte de Jim. De certa forma, a publicação abrange todos os pontos e principais fatos ocorridos com a banda. A relação com o público, composições, drogas, rebeldia, revolução. Tudo está ,de alguma forma, nas páginas da obra.


Ben Fong-Torres com Paul McCartney

Ray: “Acho que era por isso que as pessoas nos criticavam. Éramos revolucionários. Uma banda de rock revolucionária. E a única mensagem que os Doors pregavam era a liberdade. Aí estava a ironia de tudo. Apenas liberdade. Direitos humanos individuais”.

Uma verdadeira imersão na cronologia da banda não apenas com o famoso Jim Morrison, mas como um grupo que serviria de guia até uma espécie de despertar político, artístico e musical para toda uma geração. Eles não tinham apenas interesse de se lançar com melodias fáceis e sem profundidade, era preciso apresentar a liberdade.

Jim: “Um show do Doors é um encontro público convocado por nós para uma espécie de discussão e entretenimento dramáticos. Quando nos apresentamos, estamos participando da criação de um mundo e celebramos isso com o público. Torna-se uma escultura de corpos em movimento. Isso é política, mas nossa força é sexual. Fazemos dos shows política sexual. O sexo começa comigo e vai se alastrando pelo círculo encantado formado pelos músicos no palco, depois nossa música vai incluindo a plateia e com ela interage. As pessoas vão para casa e interagem com o resto da realidade, e eu recebo tudo de volta ao interagir com aquela realidade...

Era como alimentar mentes em um tempo onde a música tinha poder para modificar as relações sociais e poetas, músicos e artistas não eram celebridades, mas verdadeiros líderes de uma época. No fim do livro há uma citação do guitarrista Dave Navarro, em que é possível resumir muito do sentimento sobre a banda: “Há um espírito na música dos Doors. Depois que entra em você, ele não sai mais e afeta tudo aquilo que você faz”.

Cultura de uma forma ampla, sem limites e para todos. Talvez fosse isso que os Doors queriam transmitir.

Em tempo: O autor é um famoso jornalista norte-americano que começou a carreira na célebre revista Rolling Stone em 1968, onde teve contato direto com dezenas de bandas e artistas.


Comentários

  1. Ben Fong-Torres é o cara que contrata o personagem do filme Quase Famosos.

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  2. Eu li esse livro por cima quando estive em Roma, e achei muita babação para pouco conteudo. Muta historinha do tipo "fizemos isso,fizemos aquilo", mas sem lançar a serio a banda, endeusando Jim como um verdadeiro Zeus.

    Outra obra que não curti em homenagem ao Doors é o documentario When you're Strange, com narração do Johnny Deep. Prometendo contar toda a historia do Doors, ele para exatamente na morte de Jim.

    Ta certo que Jim era o membro mais importante do grupo, mas as portas seguiram depois de sua morte, e lançaram dois ótimos discos

    Este livro, para quem quiser, esta a venda na amazon a preço de banana (5 dolares um usado em média)

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