A vida vale a pena! - Paul McCartney, Porto Alegre, 07/11/2010


Por João Renato Alves
Jornalista e Colecionador
Collector´s Room

Uma experiência religiosa. Não há definição melhor ao que sente um adepto do rock and roll ao assistir uma das figuras mais importantes e carismáticas do estilo em todos os tempos. Simplesmente presenciar como esse cidadão de 69 anos se diverte em cima de um palco, como interage com o público, enfim, como verdadeiramente gosta daquilo, é de deixar os olhos marejados. O que dizer então quando a trilha sonora é composta por aqueles hinos que embalaram vidas, histórias, que fizeram parte de momentos inesquecíveis de qualquer um, mesmo que indiretamente? Eu teria um milhão de coisas para falar sobre esse mágico e já inesquecível 7 de novembro de 2010. Caberia tudo em um livro, mas vou ver o quanto consigo resumir.



Nem mesmo a falta de organização nas filas de entrada ou o “show de abertura” – um trio composto por DJ, saxofonista e um guitarrista fazendo versões dance para clássicos do rock, algo tão vergonhoso que nem os próprios se preocuparam em dizer o nome da tentativa de banda (acabei de saber que foi a "banda" Dublê. Conhecia de nome já. Absurdo uma coisa dessas ter abertura de show do Paul McCartney no currículo daqui pra frente) – conseguiram tirar o entusiasmo dos fãs. Vi gente chorando, extasiada, agradecendo aos céus por aquele momento, enfim, várias reações, entre as quais me incluo. Mas nenhuma das mais de 50 mil pessoas que lotaram o Beira-Rio conseguiu sair incólume.

É totalmente inútil comentar o setlist, que está logo abaixo, pois as músicas falam por si só. Mas quando Paul lembrou seus falecidos amigos John e George, assim como sua saudosa esposa Linda, a emoção tomou conta de todos, que entenderam definitivamente que seu papel é de carregar esse legado em frente, pois as futuras gerações merecem ter a oportunidade de conferir isso ao vivo.

De um aspecto mais pessoal, só posso dizer que a trinca “Let It Be / Live and Let Die (as explosões nessa são de envergonhar qualquer banda da cena hard e heavy, com a agressividade que impõe à música) / Hey Jude” antes do bis esgotou todo o estoque de choro desse que vos escreve.


Paul é um espetáculo à parte. Se esforçou para falar o máximo em português (lendo de uma colinhano chão, é claro) com o público, contou piadas, fez graça e surpreendeu a todos, atendendo pedido de duas fãs. As garotas pediram em um cartaz que ele assinasse seus braços para elas poderem tatuar. Pois o velho Macca chamou as meninas ao palco e deu o autógrafo na frente de todos.

Aliás, ainda no quesito humanização, é importante citar que no caminho do hotel ao estádio Paul ia com a janela do carro aberta e estendendo a mão para pessoas que se aproximavam. Quando chegou ao local do show, fez questão de abraçar um a um dos batedores que fizeram sua segurança até lá. Atitude que muitos "artistas" que não possuem 0,000000000000000001% de seu talento jamais teriam.


Setlist:

Venus and Mars / Rock Show
Jet
All My Loving
Letting Go
Drive My Car
Highway
Let Me Roll It / Foxy Lady
The Long and Winding Road
Nineteen Hundred and Eighty-Five
Let 'Em In
My Love
I've Just Seen a Face
And I Love Her
Blackbird
Here Today
Dance Tonight
Mrs Vandebilt
Eleanor Rigby
Ram On
Something
Sing the Changes
Band on the Run
Ob-La-Di, Ob-La-Da
Back in the U.S.S.R.
I've Got a Feeling
Paperback Writer
A Day in the Life / Give Peace a Chance
Let It Be
Live and Let Die
Hey Jude

Encore:
Day Tripper
Lady Madonna
Get Back

Encore 2:
Yesterday
Helter Skelter
Sgt Pepper's Lonely Hearts Club Band (Reprise)
The End

Pessoal, eu fiz o melhor que pude para contar a vocês em primeira mão. Por isso, peço desculpas pelo calor das emoções, que ainda são fortes – várias vezes meus olhos ficaram marejados enquanto escrevia. Muitos costumam dizer após presenciar momentos como esse que já podem morrer em paz. Eu não. Quero viver muito e lembrar para sempre dessa noite mágica, onde pude assistir não apenas um dos meus heróis, mas o herói de todos os meus outros heróis.

Comentários

  1. "De um aspecto mais pessoal, só posso dizer que a trinca “Let It Be / Live and Let Die (as explosões nessa são de envergonhar qualquer banda da cena hard e heavy, com a agressividade que impõe à música) / Hey Jude” antes do bis esgotou todo o estoque de choro desse que vos escreve."

    Eu ainda consegui chorar em Yesterday. As explosões foram realmente de botar qualquer Iron Maiden e até as do Metallica em "One" no chão, de tão forte que foram.

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  2. Inveja...é a única coisa que posso dizer. É claro que é uma inveja daquelas boas....rs...não se preocupem.
    Não conhecia o set list da turnê, mas achei que ele tocaria menos músicas dos Beatles.

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  3. Só para dar uma amostra do "poder de fogo" em Live and Let Die: http://www.youtube.com/watch?v=Oofc8903wiE

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  4. Bah, to fazendo o meu post enquanto ouço o show. Cara, cada nota é um arrepio. Preparem as pedras, pois será o texto mais longo já escrito aqui na CR. Mas espero que eu consiga trasnmitir toda a emoção que ainda estou sentindo!

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  5. Vai ter que se puxar então Mairon, porque tem texto longo pra caramba aqui no site ... hehe ...

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  6. "Quero viver muito e lembrar para sempre dessa noite mágica, onde pude assistir não apenas um dos meus heróis, mas o herói de todos os meus outros heróis."
    Linda esta frase. Parabens.
    E não me aguento mais de ansiedade para o show de SP. E não tem quem me faça ver o set list. Mesmo sabendo por intuição mais da metade das músicas que ele vai tocar, não quero ver nem a ordem nem a lista completa. Pois isso é 50% da mágica de um show.

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  7. MAiron se rendendo à beatlemania 50 anos depois.... hahahahahahaha!!!!

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  8. Belo texto, é claro que chorei enquanto lia cada linha, pois ouço Beatles (assim como a carreira solo de todos eles) desde de os cinco anos de idade. Infelizmente, mas pelo motivo mais feliz de minha vida, não pude ir neste show pq estou grávida, mas fiquei feliz por todos que foram, pelos amigos que foram e por todos os caras da collectors room que vão me dar o prazer de chorar novamente lendo seus textos sobre esse acontecimento tão lindo em suas vidas.
    Paz e amor para todos.
    Daniela, professora e colecionadora.

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  9. Nao me entreguei para a beatlemania Micael, me entreguei para o carisma do homem e para todo o espetaculo em si. ainda afirmo que para mim Stones é melhor, mas isso não impede de admitir a obra que vi ontem!

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  10. Daniela, muito obrigado pelo comentário. Teremos mais reviews do show de Paul, com certeza.

    E seja bem-vinda ao mundo da Collector´s!

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  11. Caro Ricardo, mal posso esperar os novos textos, pois todos os dias acesso o blog religiosamente, há quase dois anos,antes mesmo de acessar meus emails ou meu twitter.
    Daniela, professora e colecionadora.

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  12. "Herói de todos os meus outros heróis"... essa frase disse tudo, Ricardo. Difícil acreaditar que alguém no rock possa ser maior e mais relevante que o velho Macca. Ontem tive uma das maiores experiências da minha vida. Foi como adentrar o paraíso do rock por 3 horas, e voltar dele completamente diferente. Difícil de explicar. Já me emocionei vendo boas bandas cover dos Beatles. Ontem assisti ao meu predileto deles. Nível de emoção sem tradução literal. Agradeço por essa dádiva.

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  13. Ainda estou muito emocionado para conseguir tecer qualquer comentário. Creio que ainda ficarei uns dias assim...

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