Best of 2010: os melhores discos do ano segundo Regis Tadeu, um dos maiores críticos de música do Brasil!


Antes de ser um colecionador de discos, sou um grande leitor. Desde bem pequenininho, com a mais tenra idade, embarcava em jornadas fantásticas através de revistas, livros e o que mais encontrasse pela frente. Quando estava lendo me desligava do mundo, a ponto de a minha mãe chegar ao extremo de me levar a um otorrinolaringologista preocupada que eu pudesse estar surdo aos 5 anos de idade!

O amor pela música, a paixão pelos discos, aliados ao hábito uterino de sempre ler muito, naturalmente fizeram com que, aos poucos, eu começasse a escrever sobre música. Nesse ponto, a minha maior influência, provavelmente, é o meu amigo Regis Tadeu. Seus textos são verdadeiras obras de arte, donos de uma beleza poética que transforma o ato de ouvir um disco em uma experiência quase religiosa. Provocador, polêmico e sempre autêntico, Regis é um dos maiores colecionadores de discos do Brasil, e um dos maiores conhecedores de música com quem já tive o prazer de trocar algumas ideias.

É por tudo isso que senti um orgulho imenso quando o Regis aceitou o meu convite para publicar, aqui na Collector´s Room, a sua lista com os melhores álbuns de 2010. Portanto, acomode-se na cadeira, pegue a caneta e anote as dicas, que os bons sons estão chegando até você!

Robert Plant - Band of Joy

Batizado com o nome da banda que tinha nos anos 60 antes de entrar para o Led Zeppelin, o mais recente disco do lendário vocalista deixa muito claro o seu afastamento em relação às modernas sonoridades do presente, investindo ainda mais em timbres low-fi e, de certa forma, buscando recuperar suas raízes hippies. Depois do excepcional Raising Sand ao lado de Alison Krauss, ele volta seu foco a um som que mais parece um cruzamento do folk europeu com o country americano, só que embalado por uma atmosfera sônica densa e hipnotizante. Tudo soa muito antigo e muito, mas muito bem.

Tom Jones – Praise & Blame

Logo na primeira audição, o choque: no lugar da insinuante atmosfera dançante, surge um Tom Jones introspectivo, resgatando grandes canções do blues americano criadas por figuras emblemáticas como Bob Dylan, John Lee Hooker, Jessie Mae Hemphill e Rosetta Tharpe. Tudo embalado por um clima triste e reverente ao mesmo tempo, com sonoridades cruas e timbres vintage. Impossível não sentir vontade de chorar ...

Spiritual Beggars – Return to Zero

Capitaneado pelo ótimo guitarrista Michael Amott, ex-Carcass e atual chefe do Arch Enemy, este grupo não apenas é o maior nome do stoner rock da atualidade, mas se dá ao luxo de referendar esta posição com um disco inacreditável de tão bom, a ponto de fazer o chatíssimo vocalista do Firewind, Apollo Papathanasio, cantar como gente grande nesta sua estreia com a banda. Imagine se o Black Sabbath tivesse o Michael Schenker no lugar do Tony Iommi e você já tem uma ideia do que vai encontrar aqui.

Black Label Society – Order of the Black

A chegada de um novo baterista fez bem ao som da banda de Zakk Wylde. A mistura de Black Sabbath com Lynyrd Skynyrd voltou a ser exemplificada em ótimas canções repletas de riffs espetaculares.

Arcade Fire - The Suburbs

Depois de dois ótimos discos – Funeral (2004) e Neon Bible (2007) -, o incensado grupo canadense parece ter encontrado a harmonia correta na hora de oferecer sonoridades que fujam dos padrões do pop, mas que ao mesmo tempo não soem tão estranhas a quem as ouça pela primeira vez. As músicas adquiriram uma maior simplicidade, mas sem diminuir em nada a sua qualidade.

Danko Jones - Below the Belt

Já faz tempo que o grupo liderado pelo guitarrista e vocalista Danko Jones vem lançando discos energéticos e intensos, mas aqui a coisa chegou a um estágio próximo da perfeição. Os arranjos são musculosos, repletos de riffs sensacionais e uma cadência pesada que não dá um minuto de descanso – é uma paulada atrás da outra. Cuidado ao ouvir este disco dirigindo seu carro ...

The National - High Violet

A arte da delicadeza melódica e harmônica deste grupo americano chega ao auge neste disco. É difícil não se emocionar com a tristeza e a desesperança que transbordam no formato de letras incrivelmente poéticas em canções que parecem ter sido compostas especialmente para as almas atormentadas pela solidão, mesmo nos momentos mais, digamos, “acelerados”.

The Black Keys – Brothers

Soando exatamente como aquilo que Jack White adoraria fazer no White Stripes se tivesse uma baterista que soubesse tocar, este duo manda ver em um hard blues psicodélico que vira de cabeça para baixo os conceitos rítmicos e interativos existentes entre uma guitarra e uma bateria, além de entortar o cangote dos ouvintes mais animados.

Isobel Campbell & Mark Lanegan – Hawk

Uma das mais improváveis duplas do planeta – ela veio do adocicado Belle & Sebastian, enquanto ele veio do intenso Screaming Trees e é dono de uma carreira solo brilhante e lúgubre ao mesmo tempo – resultou em uma parceria espetacular. Com canções sublimes, ácidas e azedas baseadas em um caldeirão que mistura rock, soul, gospel, country, blues e o diabo a quatro, este é um daqueles discos que você precisa ouvir sozinho, sem ninguém por perto.

Sharon Jones and The Dap Kings – I Learned the Hard Way

É difícil acreditar que este disco tenha sido gravado e lançado em 2010 – a impressão é que tudo foi feito nos anos sessenta. E quando escrevo “tudo” é tudo mesmo, dos arranjos aos timbres, das espetaculares vocalizações desta extraordinária cantora ao ritmo contagiante de sua banda de apoio. Se você ama soul de raiz com grooves matadores, está aqui o seu manual prático e contemporâneo.

Comentários

  1. conheço a maioria dos discos dessa vez. curti muito o bls e spiritual beggars, duas grandes bandas, mas que não entraram na minha lista.

    abraço

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  2. Nessa lista também conheço a maioria. Um Top 10 excelente e diversificado. Fiquei curioso com esse do Tom Jones, vou dar uma orelhada.

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  3. "Soando exatamente como aquilo que Jack White adoraria fazer no White Stripes se tivesse uma baterista que soubesse tocar" ahuahuaha

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  4. Lista bem diversificada... alguns eu não conheço, melhor correr atrás...

    E olha o Spiritual Beggars aí de novo... uma banda assim não merecia ser relegada ao segundo plano que ocupa hoje...

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  5. Adorei esse The Black Keys. Muito bom o disco.

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