Elton John e Leon Russell: a união de dois gênios, o nascimento de um grande disco


Por Maurício Rigotto
Colecionador
Collector´s Room

A primeira década do novo milênio se encerrará nos próximos dias. Mesmo assim, o final do ano de 2010 ainda nos brinda com gratas surpresas no mundo da música. Um exemplo é a inusitada união de Elton John e Leon Russell, que lançaram um excelente álbum em parceria no final do último mês de outubro, apropriadamente intitulado The Union.


O pianista Elton John foi um dos nomes mais populares do rock desde o final dos anos sessenta até meados dos anos oitenta, quando passou a fazer discos chatinhos repletos de baladas pop comerciais. Quem tem menos de trinta anos deve até estranhar que eu o esteja chamando de roqueiro, porém basta ouvir os seus trabalhos dos anos setenta para constatar o quão talentoso é esse grande e espalhafatoso artista. Ainda nos anos oitenta parei de comprar seus discos e perdi o interesse pela sua carreira, pois Elton demonstrava estar mais interessado em andar em companhia de grandes estilistas de moda e a realeza britânica – Elton era um grande amigo da princesa Lady Di – e, embora se mantivesse nas paradas de sucesso, suas músicas se mostravam sem a mesma relevância de outrora. Achei que jamais voltaria a comprar um disco dele até o mês passado.


Já Leon Russell, apesar de ter sido bastante popular na década de setenta, não desfruta da mesma fama de Elton, embora seu grande talento seja reconhecido tanto pela crítica quanto pelo público. Russell lançou seu primeiro álbum em 1966, embora já fosse um respeitado produtor de rock e músico de estúdio, além de compositor com várias canções de sucesso na voz de outros artistas.


Leon ganhou projeção internacional ao liderar a banda Mad Dogs & Englishmen, grupo formado para acompanhar a excursão de Joe Cocker em 1970 depois de seu sucesso em Woodstock. O disco ao vivo e o vídeo de Joe Cocker & Mad Dogs & Englishmen é um dos melhores álbuns ao vivo já lançados, e Leon Russell toca piano, harmônica e guitarra no LP, além de conduzir como um maestro músicos de primeira grandeza como os integrantes do Derek and The Dominos – banda de Eric Clapton na época – Bobby Keys, Chris Staiton, entre outros. Aliás, quem conhece Joe Cocker apenas por seus sucessos comerciais dos anos oitenta deve ouvir esse álbum definitivo de uma das maiores vozes que o rock já produziu.

O sucesso do disco levou George Harrison a convidar Leon Russell para o Concert for Bangladesh, no ano seguinte, onde Russell brilhou ao piano em um meddley em que uniu “Jumpin’ Jack Flash” (Jagger-Richards) com “Youngblood” (Leiber-Stoller), além de tocar contrabaixo acompanhando Bob Dylan, George Harrison, Ringo Starr e Eric Clapton.

Leon seguiu lançando álbuns de sucesso como Leon Russell and The Shelter People (1971), Carney (1972), Hank Wilson’s is Back (1973) e o triplo ao vivo Leon Live (1973), sem nunca deixar de trabalhar em discos de amigos como Willie Nelson, Ringo Starr, B.B. King, Jerry Lee Lewis e até mesmo Frank Sinatra.


No início deste ano, em um encontro casual em uma premiação, Paul McCartney sugeriu a Elton John que gravasse um disco com Leon Russell. Elton adorou a ideia e declarou que Russell era um de seus heróis e uma das suas maiores influências como compositor e pianista. Elton John iniciou uma verdadeira busca para localizar Leon Russell, que estava recluso e com problemas de saúde – inclusive passando por uma cirurgia em janeiro. Após ter seu refúgio descoberto Leon Russell topou na hora fazer o disco, e iniciaram em Los Angeles a gravação ao vivo em estúdio. Elton e Leon convocaram o renomado produtor T-Bone Burnett, que tem em seu currículo trabalhos com Bob Dylan, Roy Orbison e Elvis Costello, e que recentemente ganhou o Grammy 2010 pela produção do álbum Raising Sand, de Robert Plant e Alison Krauss, além do Oscar de melhor canção em 2010 com “The Weary Kind”, do filme Crazy Heart.

Elton já tinha dezesseis músicas novas, compostas com Bernie Taupin, seu parceiro/letrista desde 1967. Russell e Burnett, que também é guitarrista, contribuíram com alguns detalhes. Elton e Leon decidiram que o álbum seria um duelo de pianos gravado ao vivo, e recrutaram para a banda o lendário organista Booker T. Jones, o guitarrista Robert Randolph e o não menos legendário baterista Jim Keltner, além de um coral gospel com dez integrantes. O álbum chegou às lojas no dia 25 de outubro.

The Union surpreende positivamente pela variedade de estilos musicais e por não lembrar em nada os mais recentes trabalhos de Elton John ou mesmo de Leon Russell. O álbum tem uma sonoridade setentista, embora com uma produção contemporânea, que nos remete ao melhor que os artistas já lançaram em suas carreiras. Há rocks que lembram os Rolling Stones em sua melhor fase, como “Hey Ahab” e “Monkey Suit”, country rocks e inspiradas baladas gospel, além de uma faixa que faz referência a sonoridade utilizada por Frank Sinatra e Tony Bennett nos anos cinquenta.

Como se não bastasse, há ainda convidados muito especiais abrilhantando o álbum com suas maravilhosas vozes. O primeiro a aparecer é Neil Young na faixa “Gone to Shiloh”, um lamento sobre a Guerra Civil. A outra grande estrela que divide os vocais com a dupla é Brian Wilson. O eterno Beach Boy solta sua harmoniosa voz em “My Kind of Hell”. O baixista e produtor Don Was também aparece em algumas faixas. A edição de luxo vem ainda com um DVD onde o cineasta Cameron Crowe registrou as sessões desse histórico encontro. Os shows da dupla no famoso Beacon Theatre em Nova York tiveram lotação esgotada.

Na capa do CD, Elton e Leon aparecem sentados com um piano de cauda ao fundo. Elton John, 63 anos, continua com a mesma aparência que estamos acostumados. Já Leon Russell, 68, aparenta estar com uns 150 anos, ostentando enorme cabeleira e barba branca que lembram Hermeto Pascoal, Sivuca e Papai Noel.

A revista inglesa Mojo classificou o álbum como a reabilitação e o renascimento de um gênio musical cruelmente esquecido e ignorado, referindo-se a Russell, além de ser o melhor álbum de Elton John em trinta anos. Concordo plenamente.


Comentários

  1. Caceta! Ainda não ouvi esse álbum- 2010 está corrido pra quem curte os bons sons. Mas como curto pacas o Leon Russel e gosto dos álbuns do Elton John nos 70´s, esse encontro é audição obrigatória.
    Ah, e belo texto!

    ResponderExcluir
  2. Primeiramente, blog show, hein? Já vou assinar o feed.

    Segundamente, muito bom o artigo sobre o disco do Elton John e do Leon Russell.

    Realmente, o Elton teria uma carreira ainda mais espetacular se tivesse se mantido na linha do rock'n'roll como fez em seus discos no início dos anos 70. Depois que ele descambou pro pop só de vez em quando surgia um rock de responsa em seus discos.

    Fica a dica: seu disco Songs from the West Coast, de 2001, é um retorno aos velhos tempos, e acho este um dos melhores discos do Elton John, à altura de Goodbye Yellow Brick Road e Madman Across the Water. Já ouviu esse?

    Só tenho uma correção a fazer sobre o que o artigo fala: Paul McCartney não tem nada a ver com a história do The Union. Na verdade, como o próprio encarte do disco conta, Elton John estava num programa de entrevistas do Elvis Costello e disse lá que uma de suas grandes influências musicais era o Leon Russell. Por conta disso o marido do Elton John comprou alguns discos do Leon para conhecer sua música. O Elton John, então, ouviu os discos e resolveu procurar o velho amigo. Deu no que deu. (Já escrevi sobre isso no meu blog: http://osarcofago.blogspot.com/2010/12/disco-union-de-elton-john-e-leon.html)

    Grande abraço.

    ResponderExcluir
  3. Eu curto Elton desde 1972,no anos 70's tudo que ele e Bernie faziam ficava no Topo dos Top.
    Teve uma queda no álbum duplo "Blue Moves",aliás,para excelentes músicas.

    O Álbum "Made In England",também excelente,assisti seu penúltimo show da turnê homônima,Estadio Ícaro Castro Mello,em novembro de 1995.

    O CD "Song From The West Cost",faz lembrar Elton da década de 70's,gostei!

    Não comprei o CD The Union Elton John & Leon Russel,mas assisti o documentário de 1:30 no You Tube,muito bom,Vale a pena conferir.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.