Luiz Gonzaga, o eterno Rei do Baião!


Por Tiago Rolim
Colecionador
Collector´s Room

13 de dezembro de 1912 será para sempre lembrado como o dia em que um dos maiores gênios da música brasileira veio ao mundo. Luiz Gonzaga nasceu e foi assim chamado porque era dia de Santa Luzia, e para um povo religioso como o nordestino isso é motivo mais do que suficiente para um batismo.

Desde criança demonstrou aptidão para a música. Aos oito anos de idade acompanhava o pai em forrós espalhados pelo sertão de Pernambuco. Saiu de casa aos 17, depois de uma desavença com um pai de uma namorada. Foi para o Exército e de lá, depois de dar baixa, partiu para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua carreira brilhante, que duraria mais de quarenta anos.

Um dado curioso sobre os primórdios da carreira de Luiz Gonzaga é que ele, de início, renegava seu
sotaque e suas origens nordestinas por achar que não iria encontrar espaço na cena musical da época. Desde esse período o preconceito já era forte, e estamos falando de fins da década de 1930, inicio da década de 1940!

Até que um dia, cantando em uma boate do Rio de Janeiro, um grupo de cearenses reconheceu o cantor como sendo nordestino e pediu que ele cantasse algumas músicas características do sertão. Como os clientes estavam pedindo, saudoso de seu lugar de origem Luiz Gonzaga tocou e fez muito sucesso não só com os cearenses, mas como com o público em geral do local.

A partir daí ele começou lentamente a moldar sua persona de figura maior do nordeste. Primeiro criou a indumentária: uma homenagem aos seus heróis de infância, os cangaceiros; de Silvino a Lampião. Depois da roupa, ele foi lentamente formatando suas influências do passado e foi criando a forma definitiva de sua música. Logo se criou uma parceria com Humberto Teixeira, que deixou marcas profundas na música feita no Brasil até hoje. Composições como "Asa Branca", "No Meu Pé de Serra", "Que Nem Jiló", "Assum Preto", entre tantas outras, são daquelas canções que o tempo provou ser eternas. Quando você vê crianças cantando estas músicas se dá conta que elas tem um poder enorme.

Luiz criou uma obra musical tão importante e inspiradora que iniciou um movimento de trazer a música regional para o centro do país. Desta forma, músicos regionais de várias partes foram sendo apresentados ao resto do Brasil. Se eu, um paraibano, conheço a música de Teixeirinha, Luiz Gonzaga tem muita culpa nisso.

A influência musical de “Lua”, como é conhecido, é enorme; Gilberto Gil já disse que começou a tocar sanfona por causa dele. Não existe músico nordestino que não o cite como influência. E estou falando de gente como Caetano Veloso, Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lenine, Zeca Baleiro, Fagner (que, inclusive, gravou dois discos com Luiz Gonzaga), Gal Gosta e Maria Bethânia, entre milhares de outros.

Luiz Gonzaga é uma espécie de Bob Marley brasileiro, no sentido de ser um catalisador de uma forma de música que já existia, mas que era desconhecida da maioria. Assim como Bob Marley pegou o reggae e lhe deu um tratamento para as massas, Luiz Gonzaga fez o mesmo com o forró. E isso não é pouco. Dia 13 de dezembro, desde 2005, é conhecido como o dia do forró em sua homenagem.

É impossível destacar um disco apenas para apresentar sua obra, pois são centenas, entre compactos e LPs, em mais de quatro décadas de carreira. Caso seja necessário, procure uma das inúmeras coletâneas existentes no mercado e se delicie com o Rei do Baião.

Não existe um músico no Brasil que personifique tanto um povo como Luiz Gonzaga e seu nordeste. Pergunte há um músico nordestino, seja qual for seu estilo musical, qual foi a primeira música que ele aprendeu, e a chance de ouvir como resposta “Asa Branca” é quase de 100%.

P.S.: Corta para 2010. Estou no Parque da Independência em São Paulo no meio de um show de Norah Jones, que foi bom, mas inadequado para o local e para tanta gente, tanto que um dos poucos
momentos em que o público se empolgou foi na última música, em que os músicos fizeram uma pequena jam e citaram um clássico da música brasileira. Que clássico era esse? "Asa Branca".

Comentários

  1. Belo texto! Gostei do link com Bob Marley- outro ponto é que são artistas que acabaram sendo mais populares que suas próprias obras, para o grande público ao menos.

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  2. Também achei a ligação que o Tiago fez entre o Luiz Gonzaga e o Bob Marley bem interessante.

    Abraço!

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  3. Obrigado pelos elogios. Outro artista que podemos linkar com o rei do baião é o rei do rock. Pois Elvis tb pegou o som dos negões americanos, que já rolava há muito tempo nos quetos negros da América, deu uma "embranquiçada" nele e virou o que virou. O que vcs acham?

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