Cinco discos para conhecer Richie Kotzen!


Por João Renato Alves

Foi realmente uma tarefa difícil escolher apenas cinco discos. Muita coisa boa ficou de fora. Mas aqui temos um bom começo para quem não está familiarizado com a genialidade de Richie Kotzen, um dos músicos mais talentosos de todos os tempos.

Poison – Native Tongue (1993)

A entrada de um músico mais técnico elevou a música do Poison a outro nível. Native Tongue traz influências de música negra norte-americana – especialmente com a grande utilização de corais –, além de uma forte injeção na veia blueseira do grupo. Assim como os fãs da face mais festeira deixaram de lado e renegam o álbum até hoje, muitos gostam apenas desse trabalho (o meu caso). Sem dúvida algumas das mais belas melodias já compostas pela banda estão aqui, com destaque inevitável para a suprema “Stand”, simplesmente uma das melhores músicas da história. E não seriam poucos a falar isso, não fosse ela uma canção do Poison.

Também merecem ser citadas as belíssimas “Until You Suffer Some (Fire & Ice)” e “Theatre of the Soul”, a classic rock total “7 Days Over You”, a agitada “Strike Up the Band”, a quase Gospel “Blind Faith” e a saideira no melhor estilo bebum canastrão “Bastard Son of a Thousand Blues”.

Após alguns contratempos, com direito a envolvimento com ex-noiva do baterista Rikki Rockett, Kotzen foi mandado embora. Mas deixou seu nome escrito definitivamente na história, para o bem ou mal.

Para mim, o melhor disco do Poison com sobras, além de estar entre os meus preferidos de todos os tempos. Ouço ao menos uma vez por semana até hoje.

Richie Kotzen – Mother Head’s Family Reunion (1994)

Passado o tumultuado rompimento com o Poison, Kotzen decidiu se afirmar de vez como compositor. Para isso, deixou de lado sua porção guitar-hero, com a qual nunca se sentiu completo – o próprio sempre deixou claro que preferia ser reconhecido como músico ao invés de malabarista. E Mother Head’s Family Reunion foi o divisor de águas perfeito para a ocasião. Contando com uma banda de apoio formada pelos feras John Pierce (Richard Marx, Steve Lukather) no baixo e Atma Anur (Cacophony, Greg Howe, Hardline) na bateria, o álbum explicita ainda mais a veia negra de Richie.

A inspiração transparecia em petardos como a faixa-título, a suingada “Socialite” e a densa “A Love Divine”. No campo das baladas, dois fantásticos exemplares: “Where Did Our Love Go?” e “A Woman and a Man”. Outro destaque vai para o cover de “Reach Out (I’ll Be There)”, clássico da era dourada da Motown Records, originalmente gravada pelo The Four Tops. Coisa fina, para quem aprecia música boa acima de qualquer pré-conceito.

Indispensável na coleção dos amantes de um hard/classic rock com altas doses de blues e soul music. E ainda era apenas o começo.

Mr. Big – Actual Size [2001]

Após a boa estreia com Get Over It – que dividiu opiniões entre os conservadores –, Kotzen se impôs definitivamente na história do Mr. Big. Em Actual Size, último trabalho de estúdio do grupo antes da reunião com Paul Gilbert, o guitarrista foi decisivo ao chamar seu amigo e xará Richie Zito para assumir a produção. Além disso, escreveu a música que colocaria a banda na primeira posição nas paradas japonesas, “Shine”. Um fator que ajudou decisivamente nesse desempenho foi a inclusão da faixa como música de encerramento do anime Hellsing.

Mas não fica só nela. As doze faixas (treze na versão da terra do sol nascente) são pra lá de recomendáveis. Mas não há como deixar de destacar “Arrow”, na minha opinião uma das três melhores baladas da carreira do grupo. Também merecem ser citadas as pesadas “Lost in America”, “Mary Goes Round” e “Cheap Little Thrill”. A blueseira “I Don’t Want to Be Happy” é companhia perfeita para fossas e bebedeiras. E a pegada funkeada comparece em “Suffocation”, som que Richie divide os vocais com Eric Martin.

Richie Kotzen – Get Up (2004)

Com o fim do Mr. Big, Richie decidiu mais uma vez concentrar forças em sua carreira-solo. O razoável Change foi o primeiro lançamento dessa nova fase. Mas em Get Up a retomada aconteceu de maneira definitiva. Um dos trabalhos mais pesados do guitarrista, sem deixar a velha classe de lado. Kotzen tocou todos os instrumentos na gravação, feita totalmente em seu estúdio, o Headroom Inc. Para a turnê, que passou pelo Brasil, chamou o antigo companheiro de Mr. Big, Pat Torpey, além do baixista Phil Soussan (Ozzy Osbourne, Dio, W.A.S.P.).

O álbum já começa com duas pancadas certeiras, nas empolgantes “Losin’ My Mind” e “Fantasy”. Logo a seguir, a melhor balada que Richie já escreveu para seus discos, a fantástica “Remember”, com sua dramaticidade inspiradora, com levada e letra casando perfeitamente. Não à toa, tornou-se uma presença garantida nos shows.

Difícil apontar algum outro destaque, o trabalho possui uma regularidade que é sua grande virtude. A prova definitiva do talento de um dos maiores músicos de sua geração.

Wilson Hawk – The Road (2009)

Em parceria com Richie Zito, Kotzen lançou um dos melhores trabalhos da década, oferecendo um rock and roll simples e consistente, com alma setentista e influências da música negra norte-americana de qualidade. “Ter crescido na Filadélfia fez com que eu fosse exposto a muitas coisas da verdadeira soul music. Grupos como The Spinners, The O’Jays e até mesmo o começo do Hall & Oats influenciaram muito minhas raízes artísticas”, declarou o músico na época do lançamento. E isso fica claro durante toda a audição. Lembra até mesmo os Rolling Stones de discos como Black and Blue.

É praticamente impossível destacar alguma das onze faixas dessa verdadeira obra-prima. Mas a sequência de baladas que começa em “How Do You Know?” e se estende até o fim sugiro acompanhar com uma caixa de lenços de papel ao lado, especialmente se não estiver em um bom dia. A mais conhecida é “Everything Good”, incorporada ao setlist dos shows de Richie.

A lamentar apenas o fato de não ter saído (ainda) em formato convencional, estando disponível via iTunes e afins. Nota dez é pouco para essa maravilha!

Comentários

  1. faltou o Into the Black, na minha opinião. Richie Kotzen é um dos melhores guitarristas do mundo, e ainda canta pra caralho!

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    1. puta verdade! a galera já curtia ele em 2011, magina eu agora kk

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